Black Sabbath em São Paulo: despedida com toda a dignidade
Roberto Capisano Filho* – especial para o Combate Rock
Estádio do Morumbi, 4 de dezembro de 2016. Black Sabbath no palco para o último show da etapa brasileira da The End Tour. Banda no palco, música boa atrás de música boa, 13 petardos sonoros, começando com Black Sabbath, passando por War Pigs, N.I.B., Children Of The Grave entre outras, até fechar o setlist com Paranoid.
Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler – acompanhados pelo competentíssimo Tommy Clufetos na bateria – fizeram com que 65 mil pessoas vibrassem a cada nota saída dos alto-falantes durante 1h45 de apresentação.
Não teve chuva capaz de arrefecer o ânimo da plateia – e São Pedro não deu trégua durante todo o show. Ozzy nunca representou um modelo de técnica vocal, mas esteve bem; se deu uma ou outra escorregada no tom, não comprometeu de forma alguma a performance.
Evidente que, aos 68 anos, não se movimenta como antes, mas isso em nada diminui sua presença no palco; continua sendo o Ozzy carismático e sem paralelo no rock que todos queremos ver.
Butler impressiona por imprimir a massa sonora que sustenta o peso das músicas do Sabbath. E faz isso como ninguém. É como se mais de um baixista tocasse ao mesmo tempo.
Iommi foi o mais aplaudido quando Ozzy apresentou a banda. Não é para menos. Estar diante do maior criador de riffs marcantes do heavy metal e ouvi-lo tocar parte deles na sua frente é um privilégio. O guitarrista merece todas as homenagens possíveis.
Clufetos, por sua vez, fez um solo empolgante. Metralhou sem parar com os dois bumbos e lembrou o estilo de outro monstro da bateria, Tommy Aldridge, do Whitesnake.
É certo que gostaríamos de ver Bill Ward no palco, mas a essa altura, a maioria do público já deve estar resignada com o fato de as desavenças entre os integrantes da banda terem falado mais alto e impedido que ele estivesse no tour.
Difícil aceitar que a banda está em sua derradeira turnê e vai encerrar suas atividades. Como eles ousam privar os fãs de suas performances ao vivo e novos álbuns? Como o grupo que codificou o heavy metal inventa sair de cena?
Como a banda que formou a personalidade musical de inúmeras outras e de milhões de pessoas em todo o mundo nos últimos 48 anos anuncia a aposentadoria? Como se atrevem?
A julgar pelo show de São Paulo, ainda há lenha para queimar. Mas após tanto tempo de estrada, os senhores do Black Sabbath concluíram que era hora de tirar o time de campo.
Os quase septuagenários Ozzy, Iommi e Butler acham que assim deve ser. Por mais que não nos conformemos com a decisão, a escolha está feita, mesmo frustrando fãs.
Há pouco tempo ficamos sem o Motörhead com a morte de Lemmy Kilmister. Já foi difícil de encarar, mas nada podia ser feito nesse caso. Perder o Black Sabbath praticamente em seguida é outro duro golpe de assimilar.
A turnê de despedida nos tira da zona de conforto. Enquanto a banda está em cena, temos a segurança de que, mais cedo ou mais tarde, haverá uma outra turnê, um show para ver na nossa cidade ou país e, quem sabe, um novo álbum na praça. Mas com a aposentadoria, nos damos conta de que essas possibilidades deixam de existir. Não há como fugir da sensação de vazio e perda. É a certeza de que acabou.
Pensar no Black Sabbath vai se resumir a olhar para trás. Nada daquela ansiedade de comprar o ingresso meses antes e fazer contagem regressiva até o dia do show. Nada de receber a notícia de que eles estão no estúdio para gravar novas músicas. Claro que Ozzy,Tony, Geezer já deram sua contribuição – e que contribuição – para o rock.
A obra deles está na história e dispensa explicações do tamanho de sua importância. Além disso, os músicos têm todo o direito a pisar no freio. Iommi travou uma batalha contra o câncer recentemente.
Ozzy enfrenta diariamente seu demônio interno em forma do vício em drogas e álcool e há três anos experimenta a sobriedade. Mesmo assim, estão rodando o mundo com uma turnê de despedida em grande estilo, dando seu melhor em cada apresentação e com toda a dignidade. Muita gente com menos idade que eles passa o dia sentada no sofá, coçando a barriga e tentando lembrar qual é o remédio que precisa tomar daqui a pouco.
Mas, no nosso imaginário, ídolos não envelhecem, não se cansam e cada integrante do Black Sabbath é um iron man. No fundo, claro que sabíamos que o dia do adeus iria chegar; nós apenas não pensávamos nisso ou, quando vimos que se aproximava, fingíamos não pensar. Mas ele chegou. Contudo, a música deles está aí, é eterna e só reafirma o que Ozzy cantou inúmeras vezes: "never say die".
* Roberto Capisano Filho é jornalista da Agência Sebrae e um dos fundadores do Combate Rock
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