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Guns N’ Roses presenteia SP com 2 shows memoráveis na arena do Palmeiras

Combate Rock

17/11/2016 06h56

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

O Guns N' Roses passou por São Paulo e trouxe aos fãs dois shows que dificilmente sairão da cabeça do público que foi ao Allianz Parque na sexta-feira, 11, e no sábado, 12 de novembro. Depois de longos anos de espera por uma apresentação à altura da importância do grupo na história do rock n' roll, a Arena do Palmeiras foi palco de momentos inesquecíveis nos dois dias.

E para que a aguardada banda proporcionasse estes momentos, foi necessário o tão sonhado reencontro do vocalista Axl Rose e do guitarrista Slash, somada à volta do baixista Duff McKagan, também da formação clássica.

Com um desfile de hits que embalaram a juventude de inúmeros fãs, o Guns promoveu uma verdadeira festa do rock em São Paulo, que foi uma das cinco cidades brasileiras escolhidas para receber a Not In This Lifetime Tour 2016.

A turnê, que já havia passado por Porto Alegre e que vai depois de São Paulo para o Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília, tem como principal atrativo justamente o reencontro de três nomes da formação clássica. Passados mais de 20 anos desde que Axl seguiu sozinho com a banda, era mais do que uma obrigação para quem é fã de rock n' roll estar presente na Arena do Palmeiras.

Nos dois dias de apresentação, nunca uma música do Guns foi tão apropriada para uma noite: "November Rain". Com uma chuva intensa que encharcou o público da Pista e da Pista Premium na sexta e com uma garoa (ora leve ora média) que também provocou o uso de capas no sábado, o fã do grupo literalmente lavou o corpo e a alma.

Com cerca de duas horas e meia de show para cerca de 45 mil pessoas em cada um dos dois dias, o Guns trouxe no repertório praticamente todas as fases da carreira, com destaque para o ultraclássico álbum de estreia "Appetite for Destruction", de 1987, com nada menos que sete faixas contempladas. Maior responsável pela grandeza da banda na história do rock, o disco, que completará 30 anos em 2017, foi muito bem homenageado na capital paulista.

FOTOS: GUNS N' ROSES/DIVULGAÇÃO – KATARINA BENZOVA

Guns N' Roses em SP - Foto: Divulgação Guns N' Roses/Katarina BenzovaGuns N' Roses em SP - Foto: Divulgação Guns N' Roses/Katarina BenzovaGuns N' Roses em SP - Foto: Divulgação Guns N' Roses/Katarina BenzovaGuns N' Roses em SP - Foto: Divulgação Guns N' Roses/Katarina Benzova

Sábado melhor

A reportagem do Roque Reverso esteve presente nos dois dias de show em São Paulo e chegou à conclusão de que a apresentação de sábado superou a de sexta-feira. A constatação leva em conta o menor volume de água do segundo dia, além de uma melhor performance vocal de Axl Rose, já que, na sexta, ele pareceu sofrer mais para interpretar algumas canções difíceis, como "Estranged", "Rocket Queen", "Coma", "Sweet Child O' Mine" e "Nightrain".

O show de sábado também ganhou numa mudança decisiva que o Guns fez no set list: a troca do hit "Don't Cry" pela maior balada da banda, que é "Patience". Não que a primeira não tenha sua importância ou que seja inferior à segunda, mas foi a canção do disco "G N' R Lies", de 1988, que trouxe muita gente que não era das vertentes mais pesadas do rock para conhecer o grupo.

A inclusão de "Patience" também deixou o repertório do sábado mais completo. Tudo porque, no de sexta, o álbum "G N' R Lies" não contou com músicas representadas.

O próprio público do segundo dia esteve menos tenso com a chuva, já que os calçados de muitos na sexta viraram verdadeiras esponjas, tamanha a quantidade de água que caiu a partir da metade do show. Houve gente que chegou a lembrar do dilúvio que caiu na mesma Arena do Palmeiras na apresentação que Paul McCartney realizou em 2014, mas a água no show do Guns não chegou a tanto.

Vale lembrar que, no Allianz Parque, os dias chuvosos só afetam a parte do gramado, onde ficam a Pista Comum e Pista Premium. Quem ficou, portanto, nas cadeiras superiores e inferiores, esteve numa situação bem mais tranquila.

No sábado, com a quantidade de água claramente inferior, a tensão da Pista ficou menor e o público conseguiu curtir sem maiores problemas a apresentação. A Pista é geralmente onde o show pulsa mais e a empolgação do público acaba sendo repassada para as arquibancadas. A reportagem sentiu uma quantidade de fãs ainda mais alegre do que a de sexta, dia também no qual muitos já estavam cansados após um dia de trabalho.

Se, na sexta, o Guns entrou com um atraso de pouco menos que 30 minutos, no sábado foi ainda menos do que isso. Vale lembrar que a apresentação do primeiro dia estava agendada para as 21 horas e a do segundo para as 21h30. Mas já foi uma imensa evolução e demonstração de que Axl está diferente. No mesmo local, em 2010, quando ainda se chamava Estádio Palestra Itália, a banda entrou com um atraso de nada menos que 3 horas, gerando a revolta de muitos.

Guns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGuns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGuns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGuns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso

O show

A entrada do Guns para os dois shows foi com a ótima "It's So Easy". Com a banda empenhada e o público vibrando intensamente, a canção do "Appetite for Destruction" fez o Allianz Parque ferver. Era possível respirar o rock n' roll e ver gente pulando, gritando, batendo a cabeça e se emocionando ao ver a banda que, na virada dos Anos 80 para os Anos 90, liderou por diversas vezes a cena do rock com seu estilo junkie e agressivo.

O repertório trouxe na sequência "Mr. Brownstone" e "Chinese Democracy". Enquanto a primeira aproveitou a nostalgia da melhor época do Guns, a segunda foi uma das poucas da noite que contemplaram a fase isolada de Axl na banda.

"Welcome to the Jungle" foi a quarta das duas noites e voltou a animar o público. Foi a partir desta faixa que Slash começou a aparecer mais com sua qualidade, tanto com os riffs matadores como com solos do mais alto nível.

É inevitável e óbvia a avaliação de que o Guns havia perdido muito sem Slash. Os fãs mais radicais do grupo insistiram muito na ideia que a fase apenas com Axl era também boa, mas, nesta turnê de reencontro, não há como defender a fase na qual eram necessários 3 guitarristas para fazer o que o eterno homem da cartola preta sempre fez apenas com uma.

Aqui mesmo, no Roque Reverso, a maior polêmica da história deste veículo foi a resenha do show que o Guns realizou em 2011 no Rock in Rio. Com discussões intermináveis e até ofensas dirigidas aos jornalistas, a parcela mais xiita de fãs do Guns não perdoou as críticas à fraquíssima apresentação no festival da capital fluminense. Se estes mesmos estiveram no Allianz Parque e tiverem o mínimo de bom senso, vão concordar que este veículo estava correto na análise da fase decadente do grupo.

As apresentações no Allianz Parque seguiram com uma estrutura semelhante até a parte em que Duff assumiu os microfones para uma das músicas covers da noite. O Guns trouxe numa tacada só "Double Talkin' Jive", "Better", "Estranged", "Live and Let Die", "Rocket Queen" e "You Could Be Mine".

Na sexta, em "Estranged" e "Rocket Queen", Axl mostrou uma dificuldade maior para cantar do que no sábado. São músicas longas e de variações entre vocais agudos e mais graves que não são fáceis. No sábado, este detalhe foi bem menos perceptível e o vocalista apresentou um desempenho bem superior.

"Live and Let Die" e "You Could Be Mine" contaram com vários efeitos nas duas noites. A segunda especialmente nos telões. A primeira, por sua vez, trouxe fogos como ingredientes. Em ambas as faixas, como em vários momentos do show, os fãs cantaram em harmonia perfeita com a banda.

Interessante notar que o uso dos telões pelo Guns é diferente de grupos também gigantes, como o Aerosmith, o KISS e o Metallica. Enquanto estes três últimos aproveitam o telão central para mostrar mais a banda, o grupo de Axl e Slash dá um maior tempo para exposição de imagens diversas e efeitos. Para quem está mais longe do palco, a prática do Guns nem sempre é mais vantajosa. Mas isso não foi um problema na Arena do Palmeiras, já que os telões laterais também eram imensos.

A parte de Duff nos vocais com as músicas de outras bandas, na sexta, quando ele tocou "Attitude", do Misfits, coincidiu com o aperto da chuva, que havia começado em "Estranged". Na ocasião, a sensação era de que a chuva não pararia nunca mais. Algumas pessoas da Pista Vip menos acostumadas chegaram a correr para as laterais da arena para um abrigo na parte coberta, mas a maioria esmagadora enfrentou aquela situação até quase o bis. No sábado, por mais que tenha chovido também, a quantidade de água foi bem inferior à do dia anterior.

Guns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGuns N' Roses em SP - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso

Depois da mais recente "This I Love", do "Chinese Democracy", o grupo trouxe as ótimas "Civil War" e "Coma", da fase dos discos "Use Your Illusion". Na primeira, a banda mostrou qualidade e entrosamento imensos, com direito a cenas de guerra nos telões centrais. Na segunda, quando os músicos foram apresentados pelo vocalista, a enorme música deixou claro que Axl tinha dificuldades para interpretá-la na parte dos agudos. E esse detalhe foi visto tanto no primeiro como no segundo dia.

A partir daí, os shows caminharam para suas respectivas partes finais e Slash foi o grande centro das atenções. No já tradicional momento de execução da faixa que é tema do filme "O Poderoso Chefão", o músico deu uma maravilhosa aula de guitarra, que serviu de aperitivo para a catarse coletiva gerada no megaclássico "Sweet Child O' Mine", que fez o Allianz Parque cantar numa voz só e transbordar em emoção.

Houve espaço no repertório para mais três covers de destaque do rock. "Wish You Were Here", do Pink Floyd, foi apenas tocada, com direito a um dueto de guitarras entre Slash e Richard Fortus. Depois dela, a banda executou a parte de solo clássica de "Layla", que ficou eternizada com Eric Clapton e que contou Axl mandando muito bem no piano e Slash emocionando.

A emoção, por sinal, continuou na aguardadíssima "November Rain". Na sexta, a chuva ironicamente deu uma pausa na execução desta faixa. No sábado, a água esteve presente como "atriz coadjuvante".

Merece destaque a ação idealizada em redes sociais que incentivou o público a trazer bexigas vermelhas para este momento. Na sexta, a ideia chegou a gerar até elogios depois do show feitos por Slash nas redes sociais. No sábado, dado o sucesso do dia anterior, havia mais gente com balões. Quem não tinha, tratou de completar a festa com as luzes do celular, deixando o Allianz Parque com uma imagem belíssima.

"Knockin' on Heaven's Door" veio na sequência e tratou de manter a emoção em alta. A música de Bob Dylan que embalou gerações de várias décadas sempre teve a cover feita pelo Guns entre as melhores. Mais uma vez, o público cantou muito do começo ao fim.

Para fechar esta parte do show, nada menos que a sempre ótima "Nightrain", que talvez seja a música mais completa do Guns, apesar de não ser badalada como outras. Uma pena Axl não conseguir mais tentar duelar com a guitarra de Slash na parte mais emocionante, mas valeu muito a pena para todos presenciar este momento, novamente com a performance do vocalista sendo melhor no sábado.

Após o breve descanso, chegou a hora do bis e das diferenças entre os repertórios dos dois dias. Na sexta, depois de uma introdução de "Babe I'm Gonna Leave You", do Led Zeppelin, o Guns trouxe "Don't Cry". No sábado, após uma introdução de "Angie", dos Rolling Stones, o público ganhou de presente "Patience" e a Arena do Palmeiras ficou com um coral gigante e lindo – Axl chegou a dar uma breve tossida no meio da canção.

Antes do fechamento do show com a clássica e contagiante "Paradise City", a banda ainda trouxe "The Seeker", do The Who. Na última música, fogos de artifício e papel picado entraram em cena para deixar o espetáculo ainda mais inesquecível.

Fim da apresentação e o fã que foi ao Allianz Parque passou a enfrentar um problema que deve durar dias: ficar pensando no que presenciou e lamentar que não há garantia de que aqueles momentos históricos vão se repetir em solo brasileiro tão cedo, tamanha a história inconstante do Guns.

Obviamente, os shows de 2016 não vão superar o que o Brasil inteiro viu no Rock in Rio de 1991, quando a banda estava no seu auge. Mas as apresentações que marcaram o reencontro do Guns serviram para dar a São Paulo dois shows dignos e para apagar da cabeça as performances questionáveis da fase solitária de Axl.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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