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Conexão blues com Argentina: Headcutters e Xime Monzon brilham novos CDs

Combate Rock

29/10/2016 06h23

Marcelo Moreira

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Gaita blues em dois momentos diferentes e, coincidentemente, tendo a Argentina como pano de fundo – e o suporte cada vez mais necessário e de qualidade do selo Chico Blues Records.

A banda catarinense The Headcutters acaba de lançar o seu primeiro CD ao vivo, "Live at Mr. Joses Pub", gravado em 2015 no famoso ponto de blueseiros em Buenos Aires, capital do país vizinho.

O quarteto sulista é umd os destaques do underground do blues nacional, e teve ótimos resultados com seu CD de estúdio mais recente, "Walkin' in USA", gravado nos Estados Unidos.

Ao vivo, The Headcutters soa mais sujo e despojado, e isso é uma grande vantagem em relação ao som que se propõem a fazer. É deliberadamente um som de raiz, de beira de estrada, com todas as imperfeições que um ambiente de boteco pode proporcionar. E o resultado é ótimo, quase nos remetendo diretamente a uma taberna de beira de estrada do sul norte-americano.

Os catarinenses, ao que parece, sonharam a vida inteira em viver à beira do rio Mississippi dos anos 30 ou Chicago dos anos 50.  "Walkin' in USA" , lançando no finzinho de 2015, traz uma sonoridade espetacular. O quarteto ousou e decidiu passar um período na Califórnia gravando com um mestre do gênero, o guitarrista e vocalista Jon Atkinson.

A parceria deu muito certo. Gravado no estúdio La Mesa, Atkinson gravou, produziu, tocou guitarra, compô e cantou em "Walkin' in USA". A sonoridade vintage do álbum deve muito a ele, assim como a performance matadora na gaita e nos vocais de Joe Marhofer, o frontman da banda.

E esse clima é levado muito à frente neste CD ao vivo. E o que é bem legal: se no estúdio há equilíbrio entre todos os instrumentos, ao vivo a gaita tocada de forma sublime pelo vocalista Joe Marhofer ganha proeminência.

Microfonada, foi mixada bem à frente dos demais instrumentos em várias passagens, em um timbre mais tradicional e preservando uma certa sujeira, realçando o ar claustrofóbico que certamente predominava nos muquifos sulistas das estradas poeirentas do interior norte-americano.

O timbre de guitarras é outro ponto positivo, assim como a econômica e certeira bateria. Remetem o ouvinte aos instrumentistas do Missouri, Geórgia e Mississippi, em uma recriação muito bacana de um som que ainda fascina muitos puristas do blues.

Para o registro ao vivo na Argentina, o repertório foi determinado com precisão, e com o mínimo de conexão com "Walkin' in USA".

A opção pela orientação ao blues mais tradicional e orientado para a gaita é um diferencial, já que metade das dez músicas tem como autores gaitistas extraordinários, como os mestres Little Walter ("Come Back Babe", "Everything Gonna Be Alright" e "Mercy Babe"), George Hamonica Smith ("Telephone Blues") e Sonny Boy Williamson ("She Is My Babe").

Outro destaque é a excelente versão para "What Have I Done", de Jimmy Rogers, a melhor do álbum, com um show de interpretação de Ricardo Maca, com Marhofer na gaita, além do belo trabalho de Ricardo Maca na guitarra. Marhofer se mostra um tremendo gaitista, com pleno domínio do instrumento microfonado e dono de fraseados ás vezes surpreendentes.

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E é da Argentina que vem outra boa surpresa, o novo trabalho da gaitista Xime Monzon, "My Harp My Soul", também distribuído no Brasil e na América do Sul pela Chico Blues Records.

A instrumentista é uma frequentadora habitual das casa de shows brasileiras, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

Adepta de uma pegada um pouco mais tradicional, na linha seguida pelas brasileiras Tiffany Harp, Indiara Sfair e Sara Messias, Xime mostra algumas novidades em seu novo trabalho.

Sua abordagem para alguns clássicos do blues é interessante porque alia elementos mais modernos e um tratamento mais reverente, e tudo na medida certa.

Ao contrário dos conterrâneos Nico Smoljan e Natacha Seara, Xime Monzon se destaca pelo tradicionalismo, ainda que se permita a floreios e certas divagações, como em "Babe Please Don't Go", de Big Joe Williams, classicaço de todos os tempos, "Blues Carnegie", de Jimmy Reed, e "Raining in My Heart", de James Isaac Moore. A melhor faixa, entretanto, é "Blues Never Die", de Otis Spann, com uma interpretação magistral da moça.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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