Último show de Lemmy e Motorhead: triste, comovente e inspirador
Marcelo Moreira
Não é uma tarefa fácil escutar ou ver um dos últimos shows que Lemmy Kilmister fez à frente do maravilhoso Motorhead. "Clear Your Clock", o combo que inclui CD e DVD registrando trechos das duas últimas apresentações da banda, nos dias 20 e 21 de novembro de 2015, em Munique, na Alemanha, é comovente por explicitar a paixão e o esforço do baixista e vocalista para permanecer no palco. Mas também é dramático por evidenciar que a idade e os problemas de saúde estavam cobrando o seu preço.
De qualquer forma, os novos lançamentos não deixam de ser um belo tributo ao músico morto em dezembro de 2015, aos 7o anos de idade, devido a um câncer no cérebro. É um epitáfio perfeito para uma das mais intensas e brilhantes carreiras dentro do rock.
Quem ouviu a edição especial do álbum "Aftershock", de 2013, já percebia que o esforço era grande para que Lemmy mantivesse o pique.
O segundo CD, bônus, trazia uma apresentação ao vivo de 2012, logo depois que o Motorhead tinha retomado o calendário de shows. Desde 2010, várias apresentações da banda tinham sido canceladas por conta de uma série de problemas de saúde do baixista e vocalista.
Lemmy parecia fazer mais esforço do que o normal e a voz estava desgastada, ficando evidente nas músicas mais pesadas e rápidas, que exigiam mais esforço.
Em "Clear Your Clock", o clima é bom e festivo, como sempre, mas o áudio entrega logo na primeira música, a clássica "Bomber", a voz está sem potência, com Lemmy respirando de forma um pouco diferente.
Na sequência, em "Stay Clean", o baixista e vocalista procura manter o pique, ainda que com mais esforço. A faixa carece de seu vigor original, mas ainda assim o trem segue em frente.
Não houve vacilos, é evidente, mas fica claro que o trio já esteve em dias muito melhores. Em circunstâncias normas, jamais seria editado e lançado. Com a morte de Lemmy após seus conhecidos problemas de saúde, torna-se um documento importante até pela gana de estar no palco e querer tocar de qualquer forma.
Em "Metropolis" e "Over the Top" o grupo retoma o fôlego, mas a primeira, que é uma das cinco melhores do Motorhead, é executada sem o brilho e a força habituais. Phil Campbell mostra muita qualidade na execução de sua guitarra, como é de praxe, mas fica faltando algo a mais, um volume maior, uma densidade que a música pede.
O registro está longe de ser uma apresentação ruim, mas é uma performance que não é costumeira, e a principal evidência é a apática execução do hino "Overkill", já no final do trabalho. Nesta, toda a banda pareceu sentir a atmosfera de extremo esforço despendido por seu líder.
Esqueça a qualidade e os problemas que eventualmente ocorreram. "Clear Your Clock" tem de ser apreciado e curtido pelo seu principal significado, que é o registro histórico das últimas apresentações de Lemmy e do Motorhead.
É um tributo à perseverança e à paixão pelo palco, pela música e pelo peso. Mais ainda, é uma celebração do rock como força cultural incomparável. Ver e ouvir Lemmy no palco de Munique é triste, mas também é comovente e inspirador.
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