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Um holandês na terra do samba: Eric de Haas 'vive' o metal no Brasil

Combate Rock

09/05/2016 07h03

Marcelo Moreira

Deixar a Holanda para viver de heavy metal no Brasil. Não parece ser uma das decisões mais sensatas, seja atualmente ou há quase 30 anos. Mas o fotógrafo Eric de Haas preferiu deixar a sensatez de lado para curtir o calor e o caos brasileiro.

Um dos personagens mais conhecidos do meio musical do Brasil e muito respeitado no mercado internacional de heavy metal, o holandês aprendeu muito rápido que o Brasil não é para amadores.

Assim como nós, nativos, tomou muitos tombos e sofreu bastante com as "intempéries" político-econômico-administrativas, mas seguiu em frente sempre, e com um otimismo às vezes exagerado – uma de suas características, além do quase incansável bom humor.

Em entrevista ao programa de web rádio Combate Rock, Haas contou um pouco de sua incomum e inusitada trajetória brasileira e sua paixão pela música, mostrando que é um verdadeiro espírito livre.

"Trabalhei como fotógrafo para muitas revistas de rock europeias e norte-americanas nos anos 80, convivi com estrelas e artistas antes de fama internacional, como Lars Ulrich (bateria) e James Hetfield (guitarra e voz), do Metallica. Em 1988, eu desembarquei no Brasil com um amigo para conhecer o país. Adorei de cara e rapidamente decidi voltar para Holanda e vender tudo o que tinha", diz Haas.

Esperto e inquieto, facilmente poderia passar por uim brasileiro nato, exceto pelo sotaque europeu que ainda faz questão de manter. Durante a conversa, deixou claro que está completamente adaptado ao estilo de vida brasileiro e, principalmente, ao de São Paulo. Com quase 30 anos de paulistanices, é muito "malandro" e desenvolvo, no sentido de que é agil e versátil.

De dono de bar a editor de revistas de música, de produtor de shows a proprietário de gravadora e selo musical, Eric de Haas se tornou um profissional requisitado e indispensável pelo menos nos últimso 25 anos no rock e no heavy brasileiros.

Ainda que tivesse boa experiência internacional, resolveu se aventurar no pantanoso mercado brasileiro da música, com problemas sérios de expertise, baixo grau de profissionalismo nas produções de shows e carência de equipamentos técnicos.

Eric de Haas em viagem a Dubai em 2015 (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

Eric de Haas em viagem a Dubai em 2015 (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

"Eu já tinha alguma experiência, mas não era produtor de shows nem de turnês. Como esse mercado praticamente inexistia no Brasil e na América Latina nos anos 80, acabei abraçando a 'causa' e consegui boa reputação e credibilidade. Muitos artistas vieram ao Brasil pela primeira vez por minhas mãos", diz o holandês.

Os altos e baixos da economia brasileira ainda são uma fonte de sofrimento e de incredulidade para Haas – teve dinheiro preso no confisco das contas correntes e poupança no Plano Collor, entre 1990 e 1992, e também sofreu com a malsucedida turnê nacional do Sick of It All em 1995 -,  mas a perseverança e otimismo permanecem, ainda que estejamos no meio de grave crise econômica.

Nem mesmo a queda das vendas de CDs e DVDs, bem como o avanço dos dcownloads e serviços de streaming, o desanimam. A Dynamo Records, a sua gravadora e distribuidora, está bem estabelecida e goza de muito boa reputação no Brasil e no exterior.

Seus lançamentos mais recentes, por exemplo, são os últimos trabalhos de artistas como Nightwish, Satan, Amaranthe, Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), Brother Firetribe e Michael Monroe. "O mercado musical ficou difícil para todos, no mundo inteiro. No entanto, ainda tem gente que consome música nos formatos físicos. Creio que me adaptei bem."

Uma fonte importante dos recursos da empresa de Haas, no entanto, continua sendo a produção de shows e turnês na América Latina. "Tenho ótimos contatos na Europa e nos Estados Unidos, que me deram suporte para me estabelecer neste ramo. Além disso, consegui montar uma boa rede de empreendedores em quase todos os países latino-americanos, do México à Argentina. Tenho muito orgulho disso."

O holandês está envolvido, nas próximas semanas, com as turnês das bandas Amorphis, Satan e Tokyo Blade – ele embarca com os finlandeses do Amorphis, por exemplo, para a Costa Rica, um destino raro para bandas de heavy metal.

Eric de Haas demonstra ser uma pessoal de bem com a vida e feliz, mas não necessariamente satisteito. Continua adorando o Brasil principalmente pelo clima, já que ama o calor, e adora o jeito do brasileiro, o que ele chama de "calor humano" e a nossa cordialidade. Só que ele não hesita em "meter a boca" nas conhecidas mazelas socais.

"A insegurança nas cidades brasileiras é muito grande, somos vítimas da violência; o Brasil cobra imposto demais e não dá nada em troca, suga o que pode, mas a educação e a saúde públicas são muito ruins; os problemas graves de gestão pública, graças aos políticos péssimos, são fonte primodial da instabilidade econômica e desigualdade social. É muito difícil para um europeu ver esse tipo de coisa", reclama.

Para um europeu, certamente. Para um batavo-brasileiro que é mais brasileiro do que muitos de nós, provavlmente ele tira de letra e segue em frente, como sempre.

Confira abaixo o programa com Eric de Haas.

Playlist

1 – My Walden – Nightwish
2 – Edge of Forever – Brother Firetribe
3 – Old King's Road – Michael Monroe
4 – Winner Takes it All – Blaze Bayley
5 – The Devil's Infantary – Satan
6 – Massive Adictive – Amaranthe
7 – Symptom Of the Universe – Black Sabbath
8 – You've Got Another Thing Coming – Judas Priest

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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