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Por um fim digno para o AC/DC

Combate Rock

26/03/2016 22h03

Marcelo Moreira

O afastamento de Malcolm Young do AC/DC em 2014 foi um terremoto no mundo do rock, mas foram raros os que temiam por consequências muito preocupantes em relação ao futuro do mastodonte australiano. Como sempre, de forma discreta, rápida e aparentemente eficiente, a banda resolveu a questão dentro do seus parâmetros, de forma abrupta e sem questionamentos.

A saída mais fácil e menos traumática foi a chegada de Stevie, sobrinho de Malcolm e Angus Young (mas que tem praticamente a mesma idade deles), que já havia substituído Malcolm em 1988 e 1989 em alguns shows. Tudo para não afetar o cronograma de gravações de "Rock or Bust" e a sequência de shows.

A saída de Malcolm foi desastre porque provocou outro problema, além do afastamento em si: deixou Angus no comando, o que seria uma temeridade diante do histórico de desavenças envolvendo músicos, gerenciamento, gravadoras, roadies e colaboradores na história do AC/DC.

A questão do afastamento de Brian Johnson, o vocalista, por conta de problemas de saúde na atual turnê expõe dilemas e uma cascata de dúvidas. E a falta de informações a respeito só piora as coisas.

A liderança de firme e quase despótica de Malcolm conseguia amenizar, de certa forma, quase todos os problemas que afetavam a banda. Nada garante que talvez lidasse de forma diferente com a questão da saúde de Johnson, mas provavelmente evitaria certas situações que colocaram a banda na berlinda.

AC/DC em 2014, logo após a saída de Malcolm Young e a prisão de Phil Rudd: da esq. para a dir., Cliff Williams, Brian Johnson, Steve Young e Malcolm Young (FOTO: DIVULGAÇÃO)

AC/DC em 2014, logo após a saída de Malcolm Young e a prisão de Phil Rudd: da esq. para a dir., Cliff Williams, Brian Johnson, Steve Young e Malcolm Young (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Malcolm, por exemplo, evitaria uma exposição desnecessária e constrangedora além da conta quando da prisão de Phil Rudd, o baterista preso em 2014 acusado de ser mandante de um assassinato (que não ocorreu).

Enrolado com a Justiça da Nova Zelândia, o baterista não teria como dar sequência à turnê do novo CD, e seu afastamento, ainda que temporário, era uma realidade.

Pena que Angus não teve sensibilidade e companheirismo ao comentar os problemas de Rudd, descartando-o sem nenhuma cerimônia como deixou claro em algumas entrevistas em 2015 – Chris Slade, que tocou na banda entre 1988 e 1994, e que também foi dispensado de forma pouco lisonjeira, retornou ao posto.

A falta de informações sobre o futuro do AC/DC e o posto de vocalista estimula uma torrente de boatos e o vazamento de indícios que prejudicam muito a banda – e reforçam as análises e opiniões sobre a falta de liderança de Youg, ou ao menos a existência de uma liderança confusa, ainda que autoritária.

Brian Johnson aparentemente ainda é o cantor do grupo, mesmo com a turnê interrompida. No entanto, a banda ficou muito vulnerável quando um amigo do vocalista, o comediante Jim Breuer, deu entrevistas a rádios e sites dos Estados Unidos cravando que Johnson tinha sido demitido por Angus no final de fevereiro, e por telefone.

Houve desmentidos nas redes sociais por parte das filhas de Johnson e do baixista Cliff Williams, além de um sobrinho do vocalista. No entanto, o que preocupou é que, oficialmente, a banda não se pronunciou.

Dias depois, Breuer tentou amenizar a questão, dizendo que tinha exagerado um pouco nas declarações, mas em enhum momento desmentiu o principal – que Brian Johnson estava fora.

A polêmica levantada pelo comediante só acentuou a onda de boatos que dava conta de que Angus pensava em terminar a atual turnê com um ou vários vocalistas convidados – propiciando situações patéticas, como o ex-vocalista da banda Dave Evans, demitido em 1975, se oferecendo publicamente para assumir a vaga.

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O mais recente boato dá conta de que Axl Rose, líder do mais problemático ainda Guns N'Roses, já teria aceitado um convite dos empresários do AC/DC, com a concordância de Angus, para cantar até o fim da turnê.

É muito irônico que a eventual solução imediata possa ser um vocalista que desfigurou sua banda outrora gigante e que empacou a carreira por conta de decisões no mínimo polêmicas nos últimos 20 anos.

O volume de problemas que o AC/DC acumula nos últimos dois anos, infelizmente, guardam algumas semelhanças com o atribulado Guns N'Roses do século XXI, já que dois integrantes importantes saíram e, ao que parece, um terceiro está à beira da demissão.

O afastamento de Malcolm foi uma tragédia para a instituição AC/DC, e as consequências estão sendo mais graves do que o esperado. Que Angus tenha a sabedoria que o irmão tinha para evitar macular o grande legado do conjunto – e, sobretudo, que o AC/DC não se transforme no que sobrou do Guns N'Roses brinquedinho de Axl…

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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