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Alabama Shakes foi destaque do Lollapalooza 2016

Combate Rock

22/03/2016 11h53

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

O Alabama Shakes foi um dos grandes destaques do Lollapalooza 2016 em São Paulo. Não bastasse ter feito um dos melhores shows no festival realizado no Autódromo de Interlagos, o grupo norte-americano liderado pela sensacional vocalista e guitarrista Brittany Howard entregou aos fãs uma apresentação ainda melhor no Audio Club, pequena casa de shows da capital paulista, que ficou com a lotação completamente esgotada de 3 mil pessoas.

Premiadíssima pelo ótimo álbum "Sound & Color", de 2015, com direito à conquista de 4 prêmios Grammy na cerimônia realizada em fevereiro de 2016, o Alabama gerou uma oportunidade rara ao público paulistano: de assistir a um show num local amplo e aberto para um público gigante e de ver uma apresentação intimista e com um repertório bem maior num local pequeno e fechado.

O detalhe é que isso aconteceu em um intervalo de dois dias, já que o grupo se apresentou no Lollapalooza, no dia 13 de março, um domingo à tarde, e no Audio, na segunda-feira, dia 14, à noite, quando o show fez parte da série Lolla Parties.

Dadas as circunstâncias naturais de um festival, o grupo tocou menos músicas no Lolla, um total de 13 faixas, contra nada menos que 20 no Audio Club. O tempo de duração também foi menor, com 1 hora em Interlagos e pouco mais de 1h30 no Audio Club.

No Lollapalooza, o Alabama era uma das atrações mais esperadas do festival. Escalada para tocar no Palco Onix, a banda começou o show às 16h45, dentro do previsto. O próprio relevo do local montado para o palco, uma espécie de vale, favoreceu uma aglomeração bem distribuída do grande público. Havia aqueles que preferiram ficar no fundo e no topo, com uma boa visão do grupo tocando no vale. Havia o público tentando se aproximar do palco também, mas tudo numa situação bem tranquila, com direito até a pais que levaram filhos pequenos para acompanhar a apresentação.

A performance do Alabama começou com uma fina garoa e com vento, mas, aos poucos, o céu foi limpando e até um sol apareceu durante o show. Aliás, as viradas do tempo foram uma marca no Lollapalooza, com diversas situações climáticas durante várias apresentações do festival. Pelo menos a chuva forte que chegou a ser imaginada com nuvens bastante carregadas acima do autódromo não chegou a ser confirmada em nenhum momento do evento durante os dois dias.

Falando em tempestade, a vocalista e guitarrista Brittany Howard é um verdadeiro furacão sonoro. Com um poder vocal de dar inveja, ela não parece ser deste planeta, propiciando momentos que fazem qualquer fã ficar de boca aberta com sua capacidade.

Tudo isso contando com uma apoio fenomenal dos demais músicos do Alabama. Heath Fogg (guitarra), Zac Cockrell (baixo), Steve Johnson (bateria), Ben Tanner (teclados) e Paul Horton (teclados), além dos cantores de apoio, são excepcionais.

Dentre as 13 músicas tocadas, alguns dos destaques da apresentação no Lollapalooza foram os hits "Hold On" e "Don't Wanna Fight", esta a vencedora de melhor música de rock da premiação realizada neste ano pelo Grammy nos Estados Unidos.

O show no Lolla foi relativamente curto para a importância atual do Alabama, mas, além de colocar a banda entre os destaques da edição de 2016, ratificou a admiração de jornalistas e fãs que já haviam considerado o grupo com a revelação do mesmo festival em 2013, quando a edição foi realizada no Jockey Club de São Paulo.

Alabama Shakes no Lollapalooza - Foto: Divulgação Lollapalooza/I Hate FlashAlabama Shakes no Lollapalooza - Foto: Divulgação Lollapalooza/I Hate FlashAlabama Shakes no Lollapalooza - Foto: Divulgação Lollapalooza/I Hate Flash

O memorável show no Audio Club

Quem havia achado o show do Alabama bom no Lollapalooza multiplique, por favor, por 10, para ter uma noção do que foi a apresentação no Audio Club.

Casa completamente lotada e uma apresentação que, se levada em conta a qualidade técnica musical, está entre as melhores (se não for a melhor) vista por este jornalista em 26 anos de histórico de shows acompanhados ao vivo.

A apresentação do Alabama estava sendo aguardada para as 23h30, logo depois do show do grupo Cold War Kids, outra atração gringa que tocou no festival e que subiu ao palco do Audio uma hora antes com uma performance competente, mas que ficou pequena perto da atração principal.

Desde a abertura da pequena casa de shows, era possível notar certa ansiedade do público para ver o Alabama. Além disso, o clima entre as pessoas era muito bacana. Na pista, era possível encontrar muitos jornalistas musicais das antigas, como Roberto Maia, da 89FM, um dos primeiros a mostrar a banda ao público brasileiro.

Nos camarotes, muitos atores, cantores e diversos representantes da cena cultural estavam presentes para ver o talento de Brittany Howard. Tudo isso em pleno fim de noite de segunda-feira, reforçando a imagem de que São Paulo é definitivamente uma cidade inigualável em matéria de diversão noturna.

O Alabama subiu ao palco do Audio por volta de 23h40, com a mesma estratégia do Lolla, apresentando músicas dos dois álbuns da carreira: os ótimos "Boys & Girls", de 2012, e o premiadíssimo "Sound & Color", de 2015.

Durante o show, chamou a atenção para o fato de o público ficar tão vidrado no que estava sendo mostrado que a tradicional chuva de celulares que vem virando uma marca das apresentações musicais não foi vista com a mesma intensidade. A plateia não se contentava em gritar ou aplaudir. Ela praticamente "urrava" a cada fim de música comandada por Brittany, tendo a plena consciência que estava vendo uma banda de alto quilate no seu auge.

Essa mulher, caros leitores, não merece todos os elogios feitos só porque canta demais, mas também porque toca muito guitarra e em vários estilos, do blues a momentos mais pesados do rock. Na música "Gemini", por exemplo, que foi a última antes do Bis, ela chegou a fazer um solo de guitarra que lembrou os timbres de Steve Vai, num dos grandes momentos do show.

Antes desta canção, durante toda a apresentação, desfilou uma qualidade impecável, levando aos críticos musicais a duas constatações possíveis: ou ela nasceu com este dom e é um ser abençoado por Deus; ou passou a vida inteira se dedicando exaustivamente para chegar a este nível impressionante.

Alabama Shakes em SP - Foto: Divulgação Audio ClubAlabama Shakes em SP - Foto: Divulgação Audio ClubAlabama Shakes em SP - Foto: Divulgação Audio ClubAlabama Shakes em SP - Foto: Divulgação Audio Club

 

"O Lollapalooza foi divertido, mas eu estava muito animada pra fazer isso hoje", disse ao público, numa das poucas vezes que saiu de sua timidez tradicional, levando todos no Audio Club a uma vibração incrível e com a sensação de que aquele era um momento para ser guardado para sempre na mente.

A sequência de músicas com "The Greatest", "Shoegaze", "Hold On" e "Joe", tocada na metade da apresentação, é quase uma síntese do show do Alabama na casa de shows paulistana. Foi possível ver o grupo na velocidade e vigor da primeira canção, na cadência cativante das duas seguintes e na levada mais lenta da última, que foi, na verdade um grande presente para o público, já que é uma faixa bônus (ouça aqui) da edição japonesa do disco "Sound & Color".

Para quem não havia ouvido "Joe" ou para quem já conhecia, aquele momento vai ficar marcado para sempre. Deixando a guitarra de lado, Brittany Howard circulou pelo palco com o microfone em mãos e chegou a fazer pessoas chorarem com a belíssima interpretação. Não, não era uma reação de fãs no estilo tietes. Era uma reação a algo que só a performance espetacular de boas músicas é capaz de proporcionar.

Vale também destacar grandes momentos (acima da média já elevada) em "Dunes", "Hang Loose" e "Heartbreaker", esta última também capaz de causar reações emocionantes no mais frio dos seres humanos.

Em "Don't Wanna Fight", mais uma vez a mais aguardada, a banda mostrou-se afiadíssima, como se o público estivesse ouvindo a música na sala de estar de casa, tamanha a qualidade sonora. Ao fim da canção, os músicos foram aplaudidos por cerca de 3 minutos sem parar, numa atitude rara das plateias de shows de rock e que fez até o Alabama Shakes se surpreender.

Sem a menor dúvida, foi uma das melhores apresentações vistas na cidade de São Paulo em muito tempo. Felizardos aqueles que tiveram a oportunidade de presenciar aquilo e guardar para sempre na mente e no coração o que foi proporcionado por Brittany Howard.

Em tempos nos quais o ódio na política vem, infelizmente, dominando a vida de muitos brasileiros, o Alabama Shakes serviu para compensar este triste momento de um país tradicionalmente feliz com algo capaz de lavar a alma de quem aprecia a boa música. Vida longa ao Alabama Shakes e, principalmente, a esta espetacular vocalista e guitarrista!

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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