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Cachorro Grande: 'Abrir para os Stones será um passo enorme na carreira'

Combate Rock

01/03/2016 07h00

Marcelo Moreira

Cachorro Grande (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Cachorro Grande (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Tocar em casa e abrir para uma das referência – se duvidar, é A referência. Muita gente acha que foi um "prêmio" para o quinteto gaúcho Cachorro Grande ter a honra de abrir a apresentação dos Rolling Stones em Porto Alegre nesta quarta-feira (2).  Reconhecimento é o termo correto.

Ainda saboreando os boins resultados do álbum "Costa do Marfim", de 2014, quando flertou com arranjos de origem eletrônica, o grupo mantém a força e a vibração ao vivo, tocando cada vez mais pesado ao mesmo tempo em que aprofunda a sonoridade sessentista com um pé na psicodelia.

"Está no nosso DNA. Escutamos muita coisa desde sempre, mas aquele som dos anos 60 e 70 está impregnado na música da banda Cachorro Grande", diz Beto Bruno anos atrás com exclusividade ao Combate Rock.

Em algumas apresentações é possível identificar as influências – The Yardbirds, David Bowie, The Kinks, The Who, The Animals e muito mais coisa, mas, sobretudo, Rolling Stones da fase inicial, seja com Brian Jones ou Mick Taylor nas guitarras.

A empolgação é muito grande, mas a experiência de quase 20 anos de banda não deixa que os cinco músicos sonhem e flutuem além do "necessário". É assim que o baixista Rodolfo Krieger entende a importância de tocar "em casa" abrindo para ídolos. Grande responsabilidade? "A ficha ainda não caiu…", disse o músico.

Em entrevista exclusiva ao Combate Rock, Krieger fala da expectativa de uma grande noite para o quinteto brasileiro:

Rodolfo Krieger (FOTO: DIVULGAÇÃO/FLICKR CACHORRO GRANDE)

Rodolfo Krieger (FOTO: DIVULGAÇÃO/FLICKR CACHORRO GRANDE)

As conexões da banda com os Rolling Stones são bem conhecidas, embora não tão evidentes , dependendo do ponto de vista. Especificamente, o que a Cachorro Grande absorveu do trabalho sessentista dos Stones?

Somos influenciados pelos Stones em todos os lances, acho que eles são a maior prova de o que uma banda deve ser, afinal eles são os maiores. Amo a fase do começo deles e a Cachorro Grande sugou bastante coisa tanto na sonoridade quanto nos terninhos. Outra coisa que eu admiro neles é como eles foram conduzindo a carreira e se adaptando às coisas que acontecem no mundo.

Além da importância óbvia de abrir para uma banda gigantesca no Brasil, o show em Porto Alegre pode vir a ser marcante para o quinteto de alguma outra forma, quem sabe ser um ponto de alguma virada?

Vai ser a maior coisa que aconteceu em nossas vidas, ainda não caiu a ficha! E acredito que vai mudar sim, o telefone não parou de tocar no escritório desde que foi dada a notícia. Acredito que vamos subir mais um degrau na nossa carreira.

Ao longo do tempo a banda tem soado mais pesada e mais virtuosa ao vivo, mesmo nos shows de divulgação de "Costa do Marfim", que tem um direcionamento diferente em relação à discografia da Cachorro Grande. Mesmo sendo um show "em casa", a banda deverá manter essa característica de soar mais pesada, como tem acontecido, ou pretende soar mais psicodélica?

Como vai soar no show ainda não sabemos, mas acho que vai ser uma mescla de ambas as coisas. A única certeza que temos é que vamos fazer um repertório com todos os nossos hits. Como a nossa missão é aquecer a galera pro show, vamos tentar fazer todo mundo cantar musicas que fazem a trilha dos gaúchos há 15 anos, afinal, estamos abrindo a maior espetáculo da terra.

Em algumas redes sociais e blogs houve mensagens irônicas comentando o fato de que a Cachorro Grande é uma "banda independente", mas de repente "ganhou na loteria" ao conseguir a vaga para abrir pros Stones em Porto Alegre. Deixando de lado o ressentimento e a inveja costumeira nestes casos, ainda assim essas ilações de banda "que faz o jogo do mercado" incomoda?

Tô cagando pro que esses caras falam, não me incomoda nem um pouco o que pensam e o que dizem. Se acham que eu ganhei na loteria porque vamos abrir para os Stones estão completamente errados, primeiro porque não teve sorteio e, sim, nós fomos escolhidos pela produção da banda.

Os músicos do Ultraje a Rigor reclamaram em redes sociais do suposto tratamento ruim que receberam da equipe de produção dos Rolling Stones – o guitarrista Marcos Kleine depois amenizou as declarações de Roger. Teme que algo parecido possa ocorrer em Porto Alegre? Há alguma "vacina" para evitar esse tipo de estresse?

Não temo, nós temos uma ótima equipe e vamos ser os mais profissionais possível. Pelo o que eu entendi, o que rolou no Rio foi porque teve um monte de problemas técnicos e caiu uma chuva do caralho. Acho que uma série de fatores atrapalhou um pouco, mas não acredito que tenha sido culpa do Ultraje nem dos Stones, o próprio Roger falou que o manager pediu desculpas, mas como eu não estava lá não posso falar nada. Estou torcendo pra que de tudo certo.

Temos entrevistado no Combate Rock/UOL várias bandas novas que costumam citar Autoramas e Cachorro Grande como exemplos de carreira sustentável no mercado independente nacional. No entanto, as reclamações aumentaram em relação a um suposto aumento das dificuldades para conseguir espaço e locais para tocar neste século XXI. Vocês observam um crescimento de dificuldades no mercado atual?

Eu acho que está tudo uma merda, me dá uma certa depressão sair à noite e ver nos bares um monte de músicos discotecando para ganhar R$ 50, queria era vê-los em cima do palco, tocando. É foda, me lembro que antigamente eu saáa na rua Augusta, em São Paulo, e sempre assistia a alguma banda tocando, não interessava o dia da semana. E Porto Alegre também está uma vergonha a cena, fico muito triste, pois como cuido das redes sociais da Cachorro Grande. Consequentemente, estou sempre na internet e recebo material de diversas bandas, várias são sensacionais, mas é uma pena que elas tenham toda essa dificuldade de sair do mundo virtual e ir para o mundo real. Converso com uma galera por aí e as histórias que eles contam sobre o que as casas oferecem para fazer o show me deixam apavorado. Tem lugar que cobra para a banda se apresentar. Só que isso, por um lado, causa uma certa revolta nos músicos, fazendo com que se juntam para fazer os próprios festivais independentes, que eu acredito que seja o futuro.

Músicos importantes do cenário nacional do rock estão mudando suas estratégias de divulgação de material inédito para tentar furar a barreira da onipresença do sertanejo e do pagode. O álbum está sendo abandonado em favor do EP ou mesmo da música única lançada na internet. A banca Cachorro Grande sempre teve com âncora os álbuns de inéditas, ainda que soltos em relação a conceitos ou temas. Com os resultados de "Costa do Marfim", o que a banda acha dos modelos diferentes de lançamento e distribuição de música?

Uma coisa que a gente preza muito é lançar discos de dois em dois anos, acho que todas as formas são válidas, mas não nos vejo trabalhando dessa forma, nesse ponto gostamos da forma tradicional, mas é inegável que a internet hoje é o maior ponto de exposição do trabalho do artista.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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