Death entrega aquilo que promete: um show vigoroso
Maurício Gaia
A banda Death, formada por Bobby Hackney (baixo e voz), Dannis Hackney (bateria) e Bobbie Duncan (guitarra), começou ontem a série de 3 apresentações marcadas no Brasil. Com a comedoria do Sesc Belenzinho lotada, a veterana banda fez um show simples, porém vigoroso.
Esbanjando simpatia, Death apresentou musicas de seus dois álbuns: "For The Whole World to See" e "N.E.W", lançado no começo do ano passado. Em algumas músicas, o peso dos arranjos deixava o som da banda na fronteira com o hard rock/heavy metal setentista, mas o vocal limpo e cristalino de Bobby, aliada à levada punk da bateria de Dannis impedem que isso aconteça.
A única coisa a lamentar foi a ausência de algumas músicas de "N.E.W", como as ótimas "Who Am I" e "Ressurection". No fundo, eles sabem: com um bom repertório, entusiasmo e simpatia, você tem um ótimo show de rock'n'roll.
A banda se apresenta ainda hoje, no SESC Belenzinho (ingressos esgotados) e amanhã, em Curitiba, no Curitiba Rock Carnival, no estacionamento da Câmara Municipal.
Drops
No player, um Combate Rock Drops que preparamos falando sobre Death. Clique para ouvir
Entrevista
Na manhã de quinta-feira, conversamos com o Death. Na conversa, eles falaram sobre a redescoberta de seu trabalho, as comparações com Bad Brains, Detroit e racismo. Leia a seguir.
– A maior parte das pessoas conheceu Death a partir do documentário feito sobre vocês, "A Band Called Death". Existe alguma história que não foi contada no filme?
(Bobby) Ah, muitas histórias, várias delas. Na verdade, eu escrevi um livro: "Rock'n'Roll Victims: The Story of a Band Called Death", tem muita coisa dita ali. É só entrar no site e é possível baixar o e-book ou comprar o livro.
– Mas tem alguma em especial que você poderia nos adiantar?
(Bobby) Bem, tem a história da entrada de Bobbie (Duncan), na banda. A entrada dele foi muito importante, ele é um grande guitarrista e ótimo amigo, o conhecemos há muito tempo, desde os tempos do Lambsbread (nota: durante alguns anos, Bobby e Dannis formaram uma banda de reggae, Lambsbread, e Bobbie era o guitarrista).
(Bobbie) Pois é, eles nunca falaram para mim que tinham tido uma banda de hard rock. Em um dia, tocávamos reggae, coisas de Bob Marley e tal, e no dia seguinte, eles me contam que tinham outra banda, de rock pesado, e queriam que eu tocasse com eles. Foi um susto.
– Vocês esconderam a história de Death dos filhos, sobrinhos, colegas de banda, etc. Por que?
(Dannis) Nós tivemos muita rejeição, por conta do nome. Em todos lugares que íamos, eles diziam que gostavam da gente, gostavam do nosso som, mas que não iria rolar… È difícil, doeu muito.
– Vocês acham que o racismo possa ter sido um fator que tivesse também influência na rejeição que vocês tiveram nos anos 70?(a banda chegou a assinar contrato com a Arista Records, mas foi pedido que se mudasse o nome, idéia rejeitada por David Hackney, o irmão mais velho, já morto)
(Bobby) Não, não. Nós viemos de Detroit, que é uma cidade muito progressista. Todos gostavam muito do nosso som, mas detestavam o nome. Quanto ao racismo, o rock sempre teve artistas negros. Na nossa época tinha Sly & Family Stone, Isley Brothers, Stevie Wonder, e, se você lembrar, também Motown, que é de Detroit.
– Lembrar, eu não lembro, pois eu ainda não havia nascido, mas eu sei
(Dannis, rindo) Sim, sim, mas você fez sua lição de casa direitinho.. Mas, sério, o problema era com o nome. "Morte" é uma coisa que assustava muito as pessoas. Hoje, você tem Death Metal, tem Another Death, tem Eagles of Death Metal, esses nomes já são aceitos com mais naturalidade.
(Bobby) Nós fomos os primeiros a usa-lo e os últimos a sermos reconhecidos. O que ninguém entendia é que não estamos falando de "morte" como "fim", mas como transformação, como mudança..
– Sim, até porque vida só faz sentido se houver morte…
(Dannis, olhando para Bobby) Era exatamente o que David dizia…
– Entre o primeiro e o segundo álbum existem alguns anos de diferença. Como isto impacta no trabalho de vocês?
(Bobby) Nosso primeiro álbum é praticamente uma coletânea de demos que gravamos até 1975 e que ficaram por muito tempo guardadas no porão de casa. Mostra o Death de uma maneira mais crua, mais densa. Em N.E.W, nós tentamos manter a energia, mas acrescentando coisas que aprendemos ao longo do tempo. E a presença do Bobbie Duncan acabou sendo fundamental para isso.
– E sobre Rough Francis (banda formada pelos filhos de Dannis e Bobby)? Como eles estão?
(Bobby) Estão bem, estão fazendo uma tour pelo Canadá, fazendo shows, estamos todos muito felizes.
– E sobre hoje? O que a platéia pode esperar do show de vocês?
(Bobby) O melhor que Death tem a oferecer: rock'n'roll, o puro rock'n'roll de Detroit.
– Para finalizar: muita gente acaba relacionando vocês com o Bad Brains. O que vocês acham desta comparação?
(Bobby) É bacana. Bad Brains é uma grande banda que surgiu em Washington. Quando surgimos, o termo punk ainda não tinha sido cunhado, não pelo menos relacionado à música. Se você chamasse alguém de punk em Detroit em 1975, sairia com olho roxo ou nariz sangrando, porque era pejorativo.
Depois que surgiram bandas como Ramones, os ingleses, e tudo mais e depois veio Bad Brains, que misturava já punk com reggae. O Clash também fazia isso! Eu achava bacana a mistura. Quando tocávamos com o Lambsbread, tocávamos reggae, eu ouvi Bad Brains e aquela mistura, eu falei para Dannis: "Olhe, eles misturam punk com reggae. A gente já tocou punk, agora toca reggae, e se.."
(Dannis, interrompendo) "Não. Esqueça isso", eu disse..
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