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Primeiro álbum de estúdio do U2, ‘Boy’ completa 35 anos

Combate Rock

24/10/2015 22h00

Rafael Franco – publicado originalmente no site Roque Reverso

U2 em Dublin, em 1980 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

U2 em Dublin, em 1980 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Primeiro dos 13 álbuns de estúdio do U2, o disco "Boy" completa 35 anos do seu lançamento neste dia 20 de outubro de 2015. Embora 35 não seja um número redondo e emblemático, o marco pelas três décadas e meia vale ser lembrado por fazer referência ao início já ousado e que foi o primeiro passo sólido de uma das bandas mais bem-sucedidas e influentes da história do rock.

A ousadia de "Boy" está implícita a partir da própria capa do disco, na qual um garotinho aparece sem camisa em uma foto com expressão inocente.

Embora a imagem o retrate apenas dos ombros para cima, a mesma acabou não sendo usada para os discos que foram comercializados no Canadá e nos Estados Unidos, pelo temor de que seu uso fosse associado à pedofilia.

Este temor esteve ligado ao fato de que muitas pessoas consideraram o álbum com conotação sexual e ao de que o mesmo se tornou um sucesso entre os gays, mas o próprio Bono Vox, vocalista do U2, negou que o disco tivesse apelo voltado para a sexualidade ou intenção de atingir um público específico.

O garoto em questão na capa do disco "Boy" é o hoje fotógrafo irlandês Peter Rowen – irmão de um amigo de Bono, Guggi – que depois também apareceria nas capas do terceiro álbum de estúdio da banda, o "War", e também na coletânea "The Best of 1980-1990".

Mas, independentemente da sua estética e da polêmica que envolveu a escolha de um garoto para ilustrar a capa de um disco de uma banda que apenas começava a trilhar o caminho para o estrelato, o "Boy" já trouxe os primeiros traços marcantes que ajudariam a consagrar o U2.

Estavam ali os inegáveis talento vocal e carisma de Bono Vox, a ótima performance de Larry Mullen Jr na bateria e a guitarra inconfundível de um então ainda cabeludo The Edge, que desde os primórdios da banda fugiu do estilo espalhafatoso e performático para dar preferência a um jeito sóbrio e sem improvisações, mas mesmo assim marcante. E, na retaguarda, um ainda garoto Adam Clayton justificando a fama de "guarda-costas" da banda, como Bono definiu durante um show do grupo realizado mais de duas décadas depois do lançamento de "Boy".

Ainda com um quarteto muito jovem e sem sequer poder imaginar a grandiosidade que atingiria para depois se tornar pioneira e multimilionária banda da era dos mega shows de rock, o U2 trouxe no primeiro disco algumas canções com letras ainda imaturas, retratando problemas ou frustrações da infância e da adolescência, como fica claro nas faixas "Out of Control", "Twilight" e "Stories for Boys".

Boy

E foi um grande drama da vida de Bono, a morte da sua mãe quando ele tinha apenas 14 anos de idade, que inspirou o primeiro maior sucesso do grupo, "I Will Follow".

Essa mesma faixa também serviu como uma forma de afirmar a fé cristã da banda, que depois viria a ficar clara pela primeira vez em uma entrevista que Bono concedeu à revista britânica NME, em 2007, quando reafirmou a sua crença em Jesus Cristo, sem nenhum medo de abordar o tema religioso, sempre tratado com cuidado pelas bandas no mundo do rock. No ano passado, em outra entrevista, ele reconheceu que costuma orar e que reconhece Jesus Cristo como o filho de Deus.

Embora seja um disco de estúdio, o "Boy" também trouxe canções gravadas ao vivo e tem também como curiosidade o fato de que poderia ter sido produzido por Martin Hannett, que foi produtor da banda Joy Division e acabou desistindo desta missão por estar arrasado com a morte de Ian Curtis, membro desta consagrada banda de pós-punk que acabou se suicidando em maio de 1980.

Curtis, inclusive, teve a canção "A Day Without Me", de "Boy", dedicada a ele por Bono. A canção foi escrita pouco antes da morte de Curtis e lançada meses depois do suicídio. Fã do cantor, o vocalista do U2 chegou a dizer que a voz dele era "santa" e o qualificou como o melhor frontman de sua geração.

Martin já produzira o single do U2 "11 O' Clock Tick Tock", mas saiu de cena para que Steve Lillywhite se tornasse o produtor musical do primeiro álbum da banda, depois de ter conseguido ganhar destaque ao trabalhar no lançamento do single de estreia do grupo Siouxsie and the Banshees, "Hong Kong Garden", de 1978.

Gravado na Windmill Lane Studios, em Dublin, na Irlanda, o disco "Boy" (Island Records), embora seja emblemático e marcante para a carreira do U2, esteve longe de ser um dos maiores sucessos comerciais da banda, que depois iria estourar mundialmente com os consagrados álbuns "War" (1983), "Unforgettable Fire" (1984), "Joshua Tree" (1987), "Rattle and Hum" (1988) e "Achtung Baby" (1991), que em sequência tornaram o U2 uma instituição viva da história do rock.

Porém, somente nos Estados Unidos o álbum de 20 de outubro de 1980 vendeu mais de 1,3 milhão de cópias, e mais de 3 milhões ao total mundialmente, números bastante respeitáveis para o primeiro disco de qualquer banda.

Garoto da capa vira fotógrafo de capa

Outra curiosidade sobre a capa do disco "Boy" é a de que Peter Rowen, o garoto que aparece com expressão assustada, acabou 32 anos mais tarde sendo o autor da foto que ilustra a capa do álbum ao vivo do U2, de 2012, "U22: A 22 Track Live Collection from U2 360°".

Com sua vida intimamente ligada ao U2 desde a infância, Rowen se tornou fotógrafo de sucesso e foi convidado pela banda para retratar várias turnês do quarteto irlandês mais famoso do planeta. Ele foi chamado pela primeira vez para o show Slane Castle, de 2001, e depois trabalhou, entre outros lugares, em apresentações do grupo em Barcelona, Dublin, Paris, Roma, Montreal e até em São Paulo, onde a assombrosa turnê 360º marcou presença em 2011, com três shows no Estádio do Morumbi.

Outro fato que liga a vida do hoje fotógrafo à história do U2 está expressa na música "Bad", um dos maiores sucessos da banda, escrito por causa de Andy, irmão de Rowen. A canção, que está no "The Unforgettable Fire", retrata o drama vivido por Andy, que lutou por anos para se livrar do vício de heroína, antes de vencê-lo, segundo garantiu Rowen em entrevista concedida há três anos ao Ultraviolet, um fã clube do U2 no Brasil.

O certo é que, do garoto da capa que mais de três décadas depois curiosamente se tornou o homem que retratou a foto da capa de um disco do mesmo U2, a banda completa 35 anos de lançamento do seu primeiro álbum com muito a comemorar e muitas histórias para contar. E com a certeza de que tudo valeu a pena em 35 anos de estrada, estrada que eles ainda percorrem em grande forma com seus mega shows ao redor do planeta.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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