Roger, do Ultraje, perde a compostura em deboche de assédio sexual
Marcelo Moreira
Piadas de mau gosto e com o timing errado. O guitarrista do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira, tem se especializado nas duas modalidades do politicamente incorreto, além de se envovler em entreveros nas redes sociais por causa de posições políticas.
O músico quase sessentão, um dos mais inteligentes artistas do rock nacional e autor de algumas pérolas do gênero – com brilhantes sacadas -, perde completamente a mão fora do ambiente musical.
A polêmica agora nem é tão complicada – Roger fez uma graça aparentemente inofensiva sobre os comentários inoportunos e asquerosos a respeito de uma garota de 12 anos que participa de um reality show culinário na TV. A questão é que a brincadeira pegou mal porque envolve um tema sensível, a pedofilia.
Tudo começou por conta da participação da menina loira Valentina no reality show Master Chef Kids, da TV Bandeirantes. Nas redes sociais, a garota bonita, mas pré-adolescente, motivou comentários absurdos e nojentos, ora esbarrando e ora ultrapassando os limites do que pode ser considerado pedófilo.
Com a hashtag "#primeiroassédio", mulheres de diversas partes do país estão publicando no Twitter casos em que sofreram ou foram testemunhas de um abuso. Milhares de pessoas já tuitaram sobre esse assunto.
De acordo com uma das organizadoras, o objetivo da campanha é fazer com que mulheres se inspirem no desrespeito contra a menina Valentina para contarem as suas primeiras experiências de assédio sexual.
Veja como Roger se manifestou:
"#PrimeiroAssédio Acho que tinha uns 10 anos. Uma empregada me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cac***".
O que Roger escreveu no Twitter não passou de um gracejo – e ele tem todo o direito de fazê-lo, sem nenhum tipo de censura prévia. O problema é que a reação foi pesada, desde pessoas condenando o mau gosto e a inadequação do comentário até gente acusando-o de de apoio à pedofilia, o que é um absurdo.
A reação ao gracejo é exacerbada e superdimensionada, mas é evidente que Roger foi bastante infeliz por conta da sensibilidade que o tema representa – sem falar que revela, se alguém quiser aprofundar a discussão, uma visão preconceituosa, racista e sexista em relação às domésticas, coisa comum, infelizmente, nas décadas de 60 e 70.
É uma virtude saber usar o humor para combater a prática asquerosa do politicamente correto que empesteia o mundo hoje, mas existem alguns temas que precisam de, no mínimo, uma reflexão.
Defendemos que não há tabus em nenhuma área específica, ninguém e nada são sagrados, tudo e todos podem ser criticados e debochados – e que os autores tenham estômago para aguentar as consequências.
Portanto, Roger Moreira tem esse direito e não pode ser criticado por isso. Entretanto, fez um gracejo inútil e bobo, de extremo mau gosto e que dá margem a interpretações equivocadas de suposta defesa de comportamento pedófilos.
E é mais espantoso que esse comentário surja de um artista que foi acusado injustamente de comportamento sexual inadequado anos atrás pela família de uma adolescente.
Danilo Gentili, que abriga Roger e o Ultraje no programa The Noite, do SBT, também se envolveu em uma questão delicada com os judeus paulistas, ao afirmar que eles não deveriam protestar contra estações de metrô no bairro de Higienópiolis, em São Paulo, pois estavam acostumados " a entrar em fila em trens", uma alusão aos trens da morte nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
E como não lembrar outra infelicidade de Roger quando de sua desavença com o escritor Marcelo Rubens Paiva? O músico aparentemente desdenhou da morte do pai do escritor, o deputado federal Rubens Paiva, em 1971, vítima da ditadura militar.
Roger e Lobão são dois artistas articulados e competentes que poderiam acrescentar bastante a qualquer debate, inclusive o político, mas optam pelos factoides e pelos gracejos de mau gosto e desnecessários. Provavelmente não estão nem um pouco preocupados com isso, o que é uma pena: a música e o trabalho, lamentavelmente, ficma em segundo plano, evidenciando, de certa forma, uma precoce decadência artística.
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