Há 35 anos morria John Bonham, o mestre da bateria pesada
Marcelo Moreira
Os donos das casas noturnas da região de Birmingham, o chamado Black Country, odiavam quando a banda chegava e eles reconheciam o baterista, um jovem corpulento e irascível que descia o braço. O peso absurdo e som estourado incomodavam muitos clientes, que não raro iam embora sem pagar.
As bandas não tinham alternativa, já que John Bonham era o melhor das redondezas, em um tempo em que bateristas eram raridades, seja por saberem tocar, seja por terem, um bom instrumento. E o velho e bom Johnny tinha as duas "qualidades".
E assim o futuro mestre da bateria ia levando a vida, já casado aos 18 anos de idade e com a esposa grávida quando conheceu Robert Plant, outro moleque aspirante a artista, bancando o cantor de blues em clubes noturnos da região.
Os dois se trombaram em vários clubes noturnos nos anos seguintes, tocando juntos em alguns combos e jam sessions, ao memso tempo que tentavam se equilibrar em empregos e subempregos.
E foi em 1968, dois anos depois de se esbarrarem, que Plant indicou o amigo para a nova banda de um astro à beira da decadência, o respeitado Jimmy Page, então guitarrista dos Yardbirds e renomado músico de estúdio.
Meio ressabiado, Page aceitou a sugestão de seu novo vocalista e fez um teste com o bruto baterista de Birmingham que idolatrava o insano Keith Moon, do Who.
Os Yardbirds precisavam cumprir datas de shoes na Escandinávia, mas a banda não exista mais, pois só page e o empresário restaram. E Page estava com pressa para depois resolver a sua vida.
Mal sabia ele que, ali no porão de sua casa á beira do rio Tâmisa, estava construindo um dos gigantes do rock ao lado o baixista John Paul Jones, antigo amigo dos estúdios, o jovem Robert Plant nos vocais e o igualmente moleque Bonham, que espancava os bumbos. nascia o Led Zeppelin.
A chegada do baterista foi essencial para que o Zeppelin se tornasse a usina de rock pesado dos anos 70. O som de Bonham era pesado, intenso e com um senso rítmico inigualável.
A impressão que se tinha era a de um trem desgovernado prestes a destruir tudo pela frente, como é possível observar em "Communication Breakdown", "Immigrant Song", "Whole Lotta Love" e muitas outras.
Quis as coincidências da vida que Bonham trilhasse o caminho do ídolo e depois excelente amigo Keith Moon: insano, louco, excessivo e impossível.

Led Zeppelin, ainda como New Yardbirds, em outubro de 1968: Bonham é o primeiro da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Para suprir o tédio e as constantes ausência de casa por conta das turnês, Bonham bebia demais e zoava muito, descontando sempre em quartos de hotéis, automóveis e chatos de plantão. As brigas eram constantes em qualquer lugar, e as companhias, tão bebuns e insanas quanto ele, não ajudavam nenhum pouco.
Nem a morte do brother Moon, em setembro de 1978, causada por overdose acidental de medicamentos contra o alcoolismo, foi o suficiente para conter a bebedeira e a insanidade depressiva de Bonham, então um dos músicos mais ricosz e bem-sucedidos do mundo no final dos anos 70.
"Eu pensei que aquele fim estava destinado a mim, por isso foi um choque quando eu soube. Primeiro Moon, um dos nossos mestres, depois Johnny. Eu estava afundado nas drogas e na bebida, e fora da minha banda. 'Aguente firme, Johnny, logo logo eu já vou'… Quantas vezes eu pensei isso…", relembra Bill Ward, baterista do Black Sabbath e conterrâneo de Bonham, amigo de porres homéricos em Birmingham antes e depois da fama.
O Led Zeppelin capengava em 1980, após a recepção morna ao álbum "In Through the Out Door", de 1979, e juntava os cacos depois dos poucos shows na Europa no começo do ano.
Às pressas o empresário Peter Grant arrumou nova turnê americana para o final do ano e a banda precisava ensaiar. E foi no fatídico 25 de setembro de 1980, na primeira semana de ensaios, que Bonzo aprontou pela última vez.
Irritado por ter de ensaiar, e longe de casa – a propriedade rural de Jimmy Page -, o baterista enrolou no dia anterior para chegar, e fiz várias "paradas" em pubs pelo caminho. Chegou embriagado para ensaiar e lá continuou tomando as suas doses de vodcas, ora puras, ora com suco de laranja.
Sentou, com dificuldade, para tocar, mas não tinha condições. Tentou, mas a coordenação não ajudou. Um assistente e John Paul Jones o convenceram a ir dormir e se recperar para o dia seguinte.
Desmaiado em um dos quartos da casa de Page, assim permaneceu por mais de 12 horas. No final da manhã do dia seguinte, 25 de setembro, Jones e outro assistente, meio irritados, subiram ao andar de cima para acordar o baterista, já que o ensaio estava bastante atrasado. Encontraram-no sem vida.
O relatório do médico legista informou posteriormente que a morte ocorreu em decorrência da falência de órgãos ocasionada por excesso de ingestão de álcool – quantidade equivalente a 40 doses de vodca, ingeridas nas 24 horas anteriores à hora da morte.
Homem de hábitos simples, mas de personalidade complexa, John Bonham virou sinônimo de bateria poderosa e de rock pesado, elevando bastante o patamar técnico para o instrumento nos anos 70.
Sob a batuta de Page, tornou-se o motor do Led Zeppelin e de toda uma geração de músicos que aprendeu a tocar com força, potência e técnica apurada. Mais do que isso, virou sinônimo de bateria no rock.
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