Rock no Brasil se tornou um mercado que vive de exceções
Marcelo Moreira
Os ingressos venderam relativamente rápido: 600 tíquetes em três semanas – muito rápido, em se tratando de mercado musical decadente e putrefato no Brasil. A casa é pequena, e a banda já planeja voos mais altos, com apresentações em casas maiores.
O Almah tem uma base de fãs sólida, que abarroou o Manifesto Bar no último sábado (29). Era o encerramento da turnê longa do álbum "Unfold".
Os hits estava todos lá, assim como algumas canções nunca executadas pela banda. Foi uma grande celebração. O show terminou cedo, 23h, para dar lugar a uma banda cover do Iron Maiden – a casa esvaziou, deixando os rapazes do grupo seguinte se apresentando para muito poucos.
Na semana anterior, o Combate Rock já havia registrado que a banda goiana indie-psicodélica Boogarins tinha feito uma concorrida apresentação em São Paulo, também lotada.
Almah e Boogarins, assim como Autoramas, Cachorro Grande e mais umas poucas bandas estão na contramão e integram um grupo de artistas de rock que é exceção no Brasil atual: tocam com regularidade, tem uma base sólida de fãs e consegue se manter por meio de sua música. Enfim, tem algo próximo de uma carreira. No entanto, repito: são exceções em um mercado falido.
Em época em que festivais gratuitos não conseguem encher os locais onde são realizados, é reconfortante saber que ainda existem bandas e cantores que conseguem tocar e atrair um público disposto a pagar, mesmo enfrentando a concorrência de medalhões e de fantasmas do passado que ressurgem de forma oportunista (Legião Urbana, por exemplo).
Os festivais estão se consolidando e atraem bom público, como Abril Pro Rock (Recife), Porão do Rock (Brasília), Roça'n'Roll (Varginha) e outros underground, mas não são suficientes para criar uma cena e manter as rodas girando.
Alguns textos por aí dão a entender que existe uma cena independente fervilhante no Brasil – inclusive textos aqui neste Combate Rock. Essa cena existe sim, está consolidada e tem certa solidez, mas não é fervilhante e nem de longe pode ser considerada uma tendência.
As bandas citadas devem servir de exemplo para o restante, é óbvio. Se elas conseguem, por que as outras não? Como conseguem atrair público? Como construíram sua base de fãs? Existe um caminho e essas bandas indicaram esse caminho.
No entanto, não tem como evitar a constatação: há menos espaço no país hoje para sons autorais, e existe muito menos disposição hoje para apoiar e abrir novos espaços para sons autorais.
Boogarins (Foto: Debora Oliveira)
Tudo isso, evidentemente, consequência de um momento em que o público não parece nada disposto a apoiar bandas de rock com som próprio.
De alguma forma, é a consolidação de um estado de coisas que surgiu lá atrás, no final do século passado, quando os downloads ilegais começaram a corroer a indústria fonográfica e a ignorar os direitos autorais, cenário tão bem descrito no ótimo livro "Como a Música Ficou Grátis", de Stephen Witt (Editora Intrínseca).
A noção de que tudo ficou grátis hoje é uma realidade que desvirtuou os mercados artístico e cultural, desnorteando a todos. Ninguém conseguiu até agora estabelecer um novo modelo de negócios que possa ao menos sustentar algum tipo de cena. Afinal, por que as pessoas vão pagar por algo que está de graça na internet, ainda que adquiri-lo seja ilegal e prejudique os artistas?
Como bem disse o cantor e guitarrista Paul Weller em recente entrevista ao UOL Música, "atualmente não é um bom momento para se tornar um músico ou entrar no mundo da música".
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