Genesis, 40 anos sem Peter Gabriel
Marcelo Moreira
Repórteres veteranos ainda se divertem com histórias sobre a passagem do Genesis por Rio de Janeiro e São Paulo em 1977. Do primeiro time do rock internacional, era apenas a quarta banda a visitar o Brasil – antes vieram Santana (no início dos anos 70), Alice Cooper (1974) e Rock Wakeman (1975), sem falar em Patrick Moraz, o tecladista suíço do Yes que morou no país por um tempo entre 1976 e 1977.
Logo em uma das primeiras entrevistas, Phil Collins torceu o nariz ao ser chamado de Peter Gabriel. O ex-baterista já ocupava o posto de vocalista havia dois anos, mas ainda tinha de lidar com essa confusão. No Brasil, no entanto, não fechou a cara. fingiu que nem ligou e foi adiante.
Collins teve de enfrentar por mais algum tempo as desconfianças de fãs e jornalistas sobre a sua condição de substituir um monstro como Gabriel, que já voava em sua carreira solo na época dos shows do Genesis no Brasil.
Não bastassem as desconfianças e o sucesso do antecessor, ainda havia as nítidas mudanças na orientação musical da banda, conduzidas pelo ex-baterista.
O rock ainda era progressivo, mas já se notava o começo de um acento mais pop, uma tendência preconizava pelo trio que carregava o nome do Genesis. A banda ficou mais pop, ganhou mercado e muito dinheiro, ainda que fãs mais radicais tenham se irritado.
Os puristas não aceitaram e até hoje não digeriram o terremoto que foi a saída de Peter Gabriel do Genesis, em meados de 1975. Há 40 anos, o baterista discreto, mas que já havia cantado duas músicas durante a primeira fase da banda, assumia o leme do monstruoso cantor que transformava cada apresentação em uma experiência multicultural, mesclando rock, teatro, literatura e muito mais.
Tudo mundo esperava que, mais cedo ou mais tarde, Gabriel abandonasse a banda. Já não eram poucas as divergências artísticas no quinteto com a cada vez mais evidente predominância do vocalista. Foi o típico caso de integrante que estava tão grande que não cabia mais no ambiente – e começava a incomodar todo mundo.
Artista multimídia já no início dos anos 70, o vocalista do Genesis se destacava com suas fantasias, suas roupas extravagantes e sua teatralidade incorrigível. Houve quem o comparasse a David Bowie, para surpresa de Gabriel. Este via algumas conexões, mas se limitava a isso, embora tenha deixado escapar algumas vezes que considerava seu trabalho "menos pop e mais profundo".
Seja como for, as comparações até que não eram indevidas, mas realmente o Genesis imprimia conceitos mais consistentes em seu trabalho, em especial no fantástico álbum "Selling Englind By The Pound", de 1973.
Com a banda voando, Gabriel sentiu que era hora de avançar, e bancou a criação da ópera-rock progressiva "The Lamb Lies Down on Broadway" em 1974, obra considerada máxima da banda e que sedimentou o quinteto como uma das grandes bandas de seu tempo.
O sucesso do álbum duplo gerou uma bem-sucedida turnê, que acabou por escancarar as divergências de Gabriel com a banda, apesar do sucesso. Considerado individualista e cada vez mais apartado dos companheiros, já preparava sua saída da banda ao final da turnê.
Tudo ocorreu de forma bastante civilizada, o que não significa que a decisão de Gabriel foi bem aceita pelo resto do grupo, ainda que as tensões fossem muitas.
Peter Gabriel anunciou a sua saída pouco depois do fim da turnê de "The Lamb Lies Down on Broadway", em 1975, para embarcar em uma carreira solo admirável, lançando seu primeiro álbum, "Peter Gabriel", em 1977.
Ao quarteto restante restou oficializar o baterista Phil Collins como vocalista, coim implicações profundas no direcionamento musical da banda. Sua ascensão era natural – já havia cantado duas canções na banda, "For Absent Friends" (do álbum "Nursery Cryme") e "More Fool Me" (de "Selling England by the Pound").
Se a solução era natural, as mudanças no direcionamento musical não foram. A guinada pop, ainda que discreta em 1976, desagradou o guitarrista Steve Hackett, outro que já ensaiava voos solos desde 1975.
Em 1977, o Genesis era um trio e iniciou uma fase de muita popularidade e sucesso comercial, principalmente com o disco "Genesis", de 1983.
Peter Gabriel, no entanto, nunca vendeu tanto, mesmo com o clássico álbum "So", de 1986, repleto de hits, mas se tornou um dos artistas mais respeitados da história do rock. Sua obra solo é de altíssima qualidade, bem superior ao que o Genesis produziu após a sua saída.
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