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Há 20 anos morria Rory Gallagher, um dos grandes heróis da guitarra

Combate Rock

24/08/2015 07h00

Marcelo Moreira

A maior banda do mundo perde um de seus guitarristas em meio a uma maré de baixa criatividade e abusos homéricos de álcool e drogas. Apesar de o guitarrista "demitido" ser excelente e um prodígio, ninguém se preocupa. Afinal, são os melhores e qualquer outro instrumentista de altíssimo nível bateria na mãe para assumir o posto.

Só que um irlandês maluco recusou e preferiu ficar tocando blues com seu trio em palcos menos nobres no interior da Irlanda e da Inglaterra. E garantiu até o final de sua vida prolífica que não se arrependeu de descartar logo de cara o que ele chamou de "sondagem".

Rory Gallagher é o nome da figura. A lenda diz que ele foi convidado a substituir Mick Taylor nos Rolling Stones na virada de 1974 para 1975. Keith Richards, o mestre das seis cordas da banda, estava irado com o que chamou de petulância de Taylor ao tentar "ensinar" aos outros membros como tocar.

Após a saída pouco amigável do colega, afirmou a uma revista inglesa que a banda tinha convidado Gallagher. Posteriormente, desmentiu e disse que os empresários dos Stones apenas fizeram uma sondagem. O irlandês nunca gostou de tocar no assunto. Sempre afirmou que foi apenas sondado, mas em algumas vezes disse que recebeu um convite formal de Mick Jagger.

 

O maluco mas virtuoso guitarrista Rory Gallagher, um dos maiores talentos subestimados do rock, morreu há 20 anos, apos 47 anos, em consequência de problemas por conta de um transplante de fígado. Dois lançamentos de 2015 coincidem com a efeméride a respeito de sua morte.

O primeiro, na verdade, é um relançamento, sendo o original em 2011: "The Beat Club Sessions" é uma reunião de algumas das participações de Gallagher no famoso programa de televisão alemão, que esteve no ar entre 1965 a 1972 recebendo bandas como The Who, os próprios Rolling Stones e o Led Zeppelin para apar~ições ao vivo.

O guitarrista apareceu quatro vezes entre 1970 e 1972, sendo uma delas com sua primeira banda, o Taste. Logo abandonou o grupo para encarar a carreira solo, embora fosse tímido ao extremo. E a compilação capta o melhor das perfomances de Gallagher, que era muito melhor ao vivo – ouça e adquira de qualquer forma os álbuns "Live in Europe", de 1972, e "Irish Tour", de 1974.

"Irish Tour '74", um de seus excepcionais trabalhos, foi considerado um dos melhores álbuns ao vivo dos anos 70, mostrando o endiabrado guitarrista em fantásticas performances ao vivo.

Uma caixa com 8 CDs lançada recentemente, como parte do aniversário dos 40 anos do álbum, é maravilhosa por trazer vários registros daquela turnê, e não apenas as poucas músicas contidas no LP original. Era o auge da carreira meteórica do irlandês que adorava encher a cara e que já começava a ser cobiçado por grandes bandas.

Ao lado de Gerry McAvoy (baixo), Rod De'ath (bateria) e Lou Martin (teclados), Gallagher desconstrói o blues com ferocidade poucas vezes vista e consegue resultados surpreendentes. Rato de palco, poucos tinham a mesma energia, seja em festivais ou em pubs.

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São 7 CDs e um DVD, contendo um documentário muito legal da turnê dirigido por Tony Palmer. Em relação ao áudio, são apresentações na íntegra – duas em Dublin, uma em Cork (interior da Irlanda) e outra em Belfast, na Irlanda do Norte.

Os dois primeiros CDs, gravados em 5 de janeiro de 1974 em Cork, são os mais interessantes e eletrizantes, com Gallagher barbarizando e mergulhando de cabeça em solos intensos, quase que antecipando o estilo elétrico de Angus Young no AC/DC.

O começo do show já vale o pacote, com uma sequência de pancadas atordoantes, como "Messin' With The Kid", "Cradle Rock", "I Wonder Who" e "Tattoo'd Lady". NO show de Dublin, no dia 2 de janeiro, um destaque especial para uma outra sequência destruidora – "Too Much Alcohol", "A Million Miles Away" e "As The Crow Flies".

As perfomances ao vivo foram elogiadas por gente como Ritchie Blackmore e Roger Glover, do Deep Purple, Rod Stewart e Ron Woods, dos Faces (este último herdaria a vaga nos Stones) e por Pete Townshend, do Who. Era um guitarista de poucos efeitos, mas de muito feeling e muita energia, com um conhecimento absurdo de timbragens e amplificadores.

Foram 16 álbuns em 30 anos de carreira, desde o surgimento do Taste, em 1965, até a sua morte, em 1995, causa por uma infecção hospitalar após um malsucedido transplante de fígado – era um beberrão de primeira e alcoólatra assumido.

Quando de sua morte, a revista Rolling Stone norte-americana colheu alguns depoimentos de músicos não muito importantes na história do rock: "Rory foi um dos grandes guitarristas de todos os tempos e um grande cavalheiro, uma pessoa muito simples", declarou Bono Vox, líder do U2, outra banda irlandesa.

Correm pela internet textos com versões de uma suposta declaração de Jimi Hendrix a respeito do irlandês maluco. Ninguém nunca atestou a veracidade, mas é excelente com lenda. Após a apresentação de Hendrix no Festival da Ilha de Wight de 1970, que também teve o Taste atração, um repórter perguntou: "Como é a sensação de ser o melhor guitarrista do mundo?" Hendrix não perdeu tempo: "Eu não sei. Vá perguntar a Rory Gallagher."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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