Eduardo Cunha rebelde e polêmico? Para alguns, é 'culpa' do rock...
Marcelo Moreira
E eis que 60 anos depois de surgir e revirar a sociedade ocidental, o rock atinge um patamar inimaginável graças à política brasileira: conseguiu unir um balaio de gatos tão grande, diversificado e radicalmente oposto no uso do gênero musical para repudiar algo ou alguém.
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o personagem brasileiro mais importante das duas ou três últimas semanas, é o alvo de ódio e amor em doses cavalares, e o rock está sendo usando por alguns, indiretamente, como ferramenta de apoio/protestos.
As redes sociais viraram um campo de batalha político/social/racial desde que foram criadas, onde a intolerância, a falta de educação e de civilidade campeiam. Debates e discussões deram lugar a xingamentos de arquibancada. E o Cunha roqueiro (quem diria) se transformou em arma contra – e quase nunca a favor.
Evangélico e ultraconservador, Cunha é um político matreiro, ensaboado e experiente – mas competente, embora isso não seja um elogio.
Depois de anos galgando postos importantes dentro do partido e na Câmara, tornou-se desde 2010 um homem importante no cenário nacional. Importante e temido, a ponto de sair da zona de conforto e confrontar abertamente o governo federal – que seu partido apoia.
Aparentemente, o poder subiu a sua cabeça, mas não se pode subestimar a esperteza do político que adora dizer que gosta de rock e que toca bateria – mas que se sente por demais à vontade ao lado de gente cujo reacionarismo e falta de bom senso afrontam a inteligência, como o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ, mas também articulador do Partido Militar Brasileiro e defensor da ditadura militar) e parlamentares fundamentalistas evangélicos, daqueles que abominam homossexuais, menores infratores e qualquer coisa que supostamente ofenda suas crenças.
Todo sorridente, tocou 30 segundos de bateria em um programa de TV e afirmou em uma emissora de rádio ter sido fã de Led Zeppelin, Pink Floyd e Yes na adolescência, nos anos 70. Cunha tem 56 anos de idade.
O fato de ter sido roqueiro – note bem, "ter sido", já que em nenhum momento ele diz que ainda é ou que ainda escuta músicas do gênero – suscitou um curioso debate em redes sociais, sempre associando o Cunha roqueiro ao desempenho dele como político e como adversário do governo federal administrado pel0 PT.
Ser roqueiro, dependendo do ponto de vista, é uma qualidade ou um defeito que supostamente influenciaria comportamentos e desempenhos diversos, para alguns seres. No caso em que observamos, é defeito apontado por inimigos políticos que ocupam espectros distantes e inconciliáveis.
Não foram poucos os detratores de esquerda e defensores do PT que associaram o maquiavelismo e o comportamento "oportunista-sorrateiro" de Cunha também ao fato de "ser roqueiro" (??????), segundo um tuíte de um cidadão de posições políticas no mínimo ingênuas.
E quem diria, parcela de alguns cidadãos mais conservadores, de direita, acredita que o rock é um ingrediente que levou o presidente da Câmara a um "desvirtuamento de caráter", a uma "deformação de personalidade" que poderiam explicar os "desvios de comportamento" na condução dos trabalhos da Câmara.
Nas tentativas de conversas com alguns desses internautas, a receptividade foi péssima. Os posts, em seguida, foram apagados.
Não ajudou o fato de que meus perfiis nas redes sociais informam que sou jornalista. Print screen das telas? Não deu tempo – na ânsia de buscar mais informações e conteúdo, vacilei…
As curiosidades a respeito de como o rock está servindo para desqualificar Cunha pela direita ou pela esquerda ajuda a entender um pouco a banalização do debate político e do empobrecimento cultural e intelectual da sociedade brasileira, que cresce progressivamente. (Até o momento, não encontrei ninguém elogiando o deputado por seu gosto musical e que, por isso, suas atitudes demonstrariam ser corretas por conta disso…)
Dois aspectos podem ser observados após uma rápida análise do comportamento de alguns desses internautas:
1) ainda tem gente que associa o rock a um "comportamento desvirtuado", "rebelde" e "reprovável" (nada mais longe da verdade atualmente) e, portanto, que Cunha seria um rebelde (só se for em relação à birra, não aos seus conceitos e pensamentos);
2) ainda tem gente que liga o rock a uma "elite perversa, mesquinha e oportunista", coisa de gente arrogante, prepotente e distante de manifestações realmente populares (??????) – o absurdo é tamanho que não merece maiores comentários.
Quem diria que, em menor escala diante da situação política do país, um político polêmico despertaria tal celeuma entre internautas que desprezam o rock?
P.S.: Não apareceu ninguém para defender o gênero musical diante das atrocidades cometidas em nome de (e por conta de) Eduardo Cunha. O rock está mesmo em baixa…
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