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Em vídeo, Lobão tenta justificar grosserias, mas não convence

Combate Rock

13/07/2015 13h56

Marcelo Moreira

O cantor e guitarrista Lobão não se satisfaz apenas em trocar a música pelo desrespeito quase generalizado em seus shows, que na verdade se tornaram espetáculos de stand up sem graça – músicas de menos, piadas e comentário esparsos demais.

Depois da repercussão negativa dos xingamentos e das paródias desrespeitosas no show do último sábado (11), espalhou pela internet, inclusive em vídeo, de que nada houve demais na apresentação que justificasse a celeuma. Insiste que não houve nada de anormal no espetáculo e que tem o direito de falar de política e sobre o que quiser em "seu palco".

As justificativa surgiram após a publicação pelo portal UOL de dois textos a respeito do referido show, que não teve o público esperado, segundo a reportagem do repórter Rodrigo Bertolotto. Em seguida, com base no relato, eu escrevi um artigo crítico onde lamentava a troca da música pelo desrespeito por parte do artista.

CLIQUE AQUI E LEIA O TEXTO DE RODRIGO BERTOLOTTO, COM O VÍDEO ONDE LOBÃO XINGA A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF E FAZ PARÓDIAS DESRESPEITOSAS.

CLIQUE AQUI PARA LER O TEXTO "LOBÃO SE AFUNDA E TROCA A MÚSICA PELO DESRESPEITO".

O texto crítico em nenhum momento entra no mérito político da questão, ou seja, não tocou no fato de Lobão se posicionar contra o governo do PT e de Dilma Rousseff.

A questão passou bem longe disso, por mais que os fã e seguidores fanáticos (e alguns lunáticos) insistissem em enxergar uma posição favorável à presidente, ao seu governo e ao seu partido.

O problema foi o comportamento desagradável do artista em relação a figuras públicas e a quem defende ideias políticas contrárias. Lobão tem todo direito de deizer o que quiser no palco, fora dele, em sua casa, na rua ou na internet. Só não pode achar que estará imune a críticas – como artista veterano, jamais poderia se esquecer disso.

Independente de suas posições políticas, critico a forma desrespeitosa ao se referir a adversários e desafetos, além dos ataques desnecessários e grosseiros a quem discorde de suas teses. De artista relevante e diferenciado no rock dos anos 80, Lobão passou a trovador histriônico e hidrófobo, ranzinza e rancoroso, com uma necessidade incontrolável de criar factoides fora do ambiente muscial.

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

Nesta segunda-feira (13), Lobão gravou e publicou no YouTube um vídeo de quatro minutos onde faz um rápido comentário sobre a repercussão de seu show do dia 11 e das grosserias e xingamentos que perpetrou no palco.

Tranquilo e articulado, tentou intepretar, a seu modo, o que aconteceu no final de semana. Pouco ou quase nada explicou. Deveria ser uma justificativa, mas preferiu zombar do acontecimento e reclamar da suposta "má intenção" da imprensa e da mídia, que teria "distorcido" e "interpretado de forma enviesada" o seu espetáculo.

O cantor tratou os incidentes (se é que pdoemos chamar assim) como se fossem bastante normais, e acontecessem com frequência em shows de vários artistas.

E, para não perder a ocasião, de novo vociferou contra políticos e contra o PT, com um elogio ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de tecer seus confusos comentários sobre suas confusas teses sobre polítíca. O vídeo está no final do texto.

Lobão não foi o primeiro artista a perder a linha e perpetrar grosserias e ataques desrespeitosos e além dos limites a figuras públicas. No entanto, talvez tenha sido a figura pop mais proeminente a cometer tais atos.

Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, fez protestos políticos no Rock in Rio 2013, quando fez ataques a figuras como o senador José Sarney (PMDB-AM) – mas não houve xingamento nem desrespeito.

No final dos anos 90, os Ratos de Porão tocavam no circo Voador, no Rio de Janeiro, no dia da eleição para prefeito do Rio de Janeiro. O vencedor na época foi Eduardo Conde.

Sem saber do evento de punk rock no Circo Voador, Conde e sua equipe foram ao local para comemorar a vitória. O confronto foi inevitável, com troca de palavrões e ameaças de agressão entre as turmas. Os punks venceram e enxotaram os políticos do então PFL, em uma cena que não foi bonita – e totalmente desnecessária.

E o que dizer então dos iconoclastas Garotos Podres? Embora totalmente dentro de seu contexto punk de protesto e do então posicionamento de esquerda (graças ao vocalista Mao), o quarteto gravou a música "Fernandinho Viadinho" no comecinho dos anos 90, canção que foi logo associada ao então presidente Fernando Collor de Mello.

Chula e apelativa (mas devidamente contextualizada), a música virou trilha de vários protestos, inclusive nos vários que culminaram no impeachment de Collor. Os Garotos Podres, espertamente, nunca afirmaram que a canção se referia a Collor. De forma sagaz, também nunca negaram.

Seja como for, não dá para deixar de constatar: foi uma postura deselegante e desrespeitosa para com um presidente da República, embora totalmente esperado diante do histórico de carreira e de comportamentos das bandas punks.

Nenhum dos artistas citados, no entanto, tem a proeminência no Brasil que Lobão adquiriu. Não é espantoso somente a forma grosseira e desrespeitosa como o cantor age atualmente: surpreende pela profunda mudança de atitude e de comportamento ao longo dos anos.

Lobão nunca deixou de falar de política em sua carreira, mas o fez de forma contundente – e até com certa dose de agressividade – sem apelar para o baixo nível e para a grosseria.

Nos anos 80 e 90, costumava destroçar adversários, com argumentos, sarcasmo e uma ironia cortante, como um esgrimista elegante e habilidoso. Mais de 20 anos depois, o esgrimista deu lugar a um lutador de rua, tosco e apelativo, do tipo que joga areia nos olhos do oponente.

O Combate Rock reafirma todos os pontos do texto original e lamenta que Lobão tenha se tornado uma paródia de si mesmo, optando pelo desrespeito e deixando a música em segundo plano.

VEJA ABAIXO O VÍDEO PUBLICADO POR LOBÃO NESTA SEGUNDA-FEIRA

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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