Chris Squire, chefão do Yes, também foi hábil negociador e visionário
Marcelo Moreira
Poucos grupos de rock trocaram tanto de integrantes como o Yes. A banda inglesa de rock progressivo, famosa pelo som complexo e refinado e pelas composições quilométricas, jamais emendou quatro anos com a mesma formação em seus 48 anos de existência. E, no entanto, poucos grupos conseguiram reunir tamanha integridade e qualidade em sua trajetória, menos em seus trabalhos menos expressivos.
Esse, talvez, seja o maior legado de Chris Squire, cofundador e único músico a fazer parte de todas as formações. Reconhecido como um dos baixistas fundamentais da história do rock – como John Entwistle (Who) e Jack Bruce (Cream), entre outros -, Squire morreu neste domingo (28), na Inglaterra, aos 67 anos, em decorrência de uma leucemia linfoide.
Exímio músico e condutor implacável de uma banda tradicionalmente turbulenta por causa dos egos de seus integrantes – tão gigantescos quanto seus talentos -, o baixista estabeleceu um conceito rigoroso de padrão musical, assim como de ética no trabalho, a despeito dos excessos de tudo nas vidas pessoais dos integrantes.
A despeito das divergências e discussões, essas eram qualidades que Jon Anderson, o vocalista cofundador do Yes, em 1968, admirava no companheiro.
Pragmático e exigente, Squire sempre foi um instrumentista focado e um gestor consciente das potencialidades da banda e de suas imensas possibilidades artísticas e empresariais. Segurou o Yes na ativa nos altos e nos baixos, transformando-o em uma instituição do rock progressivo.
Não bastasse o seu pragmatismo bem-sucedido, tinha uma visão ampla do negócio da música e nunca perdeu uma boa oportunidade de fazer avançar o status de sua banda ou mesmo de arrecadar um pouco mais de dinheiro – que significou, muitas vezes, convidar seguidas vezes outrora desafetos para retornar à banda – Jon Anderson em 1983, Steve Howe em 1994 e Rick Wakeman em 1996, entre outros.
Uma de suas boas sacadas foi acatar a ideia de Anderson de juntar os "dois Yes" em 1990, em uma formação com oito músicos que durou quase dois anos, entre 1990 e 1992. T
Todos os oito tiveram com passagens anteriores pela banda, mas com carreiras solo empacadas ou em recesso à época. Este período foi retratado oficialmente em um DVD e um CD ao vivo, em 2011.
A chamada "Yes Union Tour" começou em 1991 e terminou no início de 1992. Surgiu de forma "improvisada", se é que podemos chamar assim.
Hábil negociador
Quando o Yes terminou em 1981, após o fracassado do álbum "Drama", sem Jon Anderson, e da turnê subsequente, o baixista Chris Squire e o baterista Alan White tentaram formar uma banda com Jimmy Page e Robert Plant, ambos ex-Led Zeppelin.
O XYZ, nome do projeto, começou a ensaiar no final de 1981 em Los Angeles, mas Plant logo abandonou o projeto na primeira semana. Page desistiu um mês depois.
Sem saber o que fazer, Squire e White foram apresentados ao guitarrista sul-africano Trevor Rabin, que aceitou trabalhar com os dois. O ex-Yes Tony Kaye foi recrutado para o que viria a ser o Cinema.
No fim de 1982, durante as gravações do primeiro CD do Cinema, Jon Anderson visitou Squire no estúdio e adorou o que estavam fazendo. Convenceu os quatro de que seria interessante ele entrar na banda e renomeá-la como Yes. O álbum, "90125″, de 1983, estourou com o megahit "Owner of a Lonely Heart" e o grupo viveu seus maiores dias de glória.
Entretanto, as tensões entre os membros surgiram quatro anos depois, na turnê do álbum "Big Generator". A orientação mais pop irritou Anderson, que saiu do grupo novamente (como fizera em 1980). O Yes seguiu em frente com Rabin como vocalista.

Última formação do Yes: da esq. para a dir., Chris Squire (baixo), Alan White (bateria), Geoff Downes (teclados), Steve Howe (guitarra) e Jon Davidson (vocais) (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Para fazer "pirraça" para o então ex-amigo Squire, Anderson, de brincadeira, reuniu três outros ex-Yes em sua casa para uma jam session e espalhou que seria um novo Yes.
Ele, Rick Wakeman (teclados), Steve Howe (guitarra) e Bill Bruford (bateria) se reuniram mais de uma vez e acabaram compondo algumas músicas. O que era brincadeira ficou sério e empresários correram para viabilizar a gravação de um novo álbum.
A ideia era que o grupo se chamasse Yes, mas Chris Squire, claro, não permitiu, primeiro porque ele detinha os direitos sobre o nome, e segundo porque ainda existia um Yes em atividade.
Com o nome de Anderson, Bruford, Wakeman and Howe, os quatro, mais o baixista Tony Levin (King Crimson) gravaram um CD, com o nome da banda apenas, e saíram em turnê mundial.
Enquanto isso, o Yes hibernava e muito lentamente começava os trabalhos para um novo álbum. A fome de bola do Yes alternativo era tanta que, ao final da turnê mundial, voltaram ao estúdio para gravar novo CD.
E eis então que Jon Anderson reata a amizade com Squire e Rabin em 1990, ao mesmo tempo em que a gravadora recusa algumas das ideias musicais do "Yes alternativo". Anderson pede a Rabin que ceda algumas músicas para reiniciar os trabalhos com o Anderson, Bruford, Wakeman and Howe.
As músicas caem em cheio no gosto do "Yes alternativo" e então um empresário tem a ideia de remontar o Yes juntando os quatro músicos do Yes original e os quatro do alternativo. Cada um dos grupos jpa havia composto, gravado e mixado quatro músicas cada. Isso não foi impedimento, já que todas aparecem no CD "Union", lançado em 1991.
Pela primeira vez o Yes aparecia em CD como um octeto – vocal, baixo, duas guitarras, dois teclados e duas baterias. Essa formação saiu em turnê pelos Estados Unidos e Europa – o registro em DVD/CD que saiu em 2011 é desta turnê.
É claro que os egos inflados e enormes eram muito maiores do que o espaço no palco. Houve insatisfações, resmungos, mas nenhuma discussão grave. A turnê foi bem-sucedida, mas ao final cada músico seguiu seu caminho.
O Yes só retornaria em 1994 com o CD "Talk", com a formação que gravou "90125″ – Jon Anderson, Chris Squire, Tony Kaye, Trevor Rabin e Alan White. A turnê deste álbum passou pelo Brasil em 1995.
Quem assistiu aos shows na época ficou admirado ao constatar a qualidade técnica e o profissionalismo dos músicos em apresentações impecáveis, embora já sem a mesma empolgação dos anos 70.

Anúncio da Union Tour, em 1991: da esq. para a dir., Tony Kaye (teclados), Trevor Rabin (guitarra e vocais), Rick Wakeman (teclados), Alan White (bateria, com a camisa do Flamengo), Chris Squire (baixo), Jon Anderson (vocais), Bill Bruford (bateria) e Steve Howe (guitarra) (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Sobre os Autores
Sobre o Blog
Contato: contato@combaterock.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.