'Physical Grafitti', do Led Zeppelin, chega aos 40 anos ainda 'superlativo'
Marcelo Moreira
Na esteira dos exageros e excessos que predominaram no rock dos anos 70 surgiram os chamados "álbuns superlativos", quase sempre qualificados de obras-primas e pontos altos de um gênero musical que, dali em diante, tenderia à decadência inexorável.
Três grandes álbuns foram lançados em 1975 e se encaixam dentro dos "superlativos": "A Night at the Opera", do Queen, "Wish You Were Here", do Pink Floyd, e "Physical Grafitti", do Led Zeppelin, este considerado o auge do auge por jornalistas musicais e críticos especializados.
Para Mick Wall, o jornalista que escreveu o caudaloso e ótimo "Led Zeppelin – Quando os Gigantes Caminhavam na Terra", o álbum duplo do Led Zeppelin, o sexto trabalho de estúdio da banda em seis anos, era o ápice do que se poderia produzir em termos de qualidade e criatividade no rock. De tão sublime, avançado e criativo, "Physical Grafitti" dificilmente seria superado ao longo da história.
O grande álbum do quarteto inglês volta a ser notícia na comemoração dos 40 anos de seu lançamento, com a chegada ao mercado de uma edição remixada, remasterizada e com um CD extra com material inédito como bônus. Essa edição de luxo chega ao Brasil no final de abril.
O guitarrista Jimmy Page nunca escondeu o orgulho por seu trabalho de produção em "Grafitti". O trabalho exaustivo de pesquisa de timbres de guitarra e os experimentos de superposição de linhas melódicas se tornaram referência para produtores de todos os gêneros musicais, entre outras inovações.
Gravado e produzido em meio a turbulências por conta de desentendimentos internos, com empresários e com as gravadoras que distribuíam o material do grupo, o então álbum duplo resultou em uma coleção de músicas diversificadas e maduras, que apontavam para direcionamentos diversos do que a banda havia trilhado.
O baixista John Paul Jones esteve a ponto de sair no meio do trabalho, exausto de tanto viajar e dos cada vez mais demorados períodos em estúdio. Ele avisou o empresário Peter Grant que estava fora no final de 1974. Grant e Page pediram para que o baixista esperasse um pouco antes de anunciar oficialmente a decisão e lhe deram três meses de folga, o suficiente para que reconsiderasse a decisão.
A chacoalhada de Jones reacendeu a vontade de trabalhar e contribuiu para que a tensão crescente entre Page e o vocalista Robert Plant fosse amainada. Depois de muito tempo, finalmente os quatro pareciam trabalhar em harmonia e juntos. Ainda que as bebedeiras intermináveis do baterista John Bonham por vezes afetasse o ritmo dos trabalhos, o clima geral foi bom e produtivo entre 1973 e 1974.
Com oito musicas novas e canções não aproveitadas recuperadas das sessões dos álbuns anteriores, "Physical Grafitti" foi lançado em março de 1975 e dividiu opiniões. A imprensa britânica criticou o que considerou presunção e autoindulgência, mesmo reconhecendo que p´álbum duplo tinha pelo menos três canções espetaculares.
Nos Estados Unidos, a repercussão inicial foi melhor, embora muitos jornalistas apontassem uma certa guinada "progressiva", em alusão às clássicas "Kashmir", "In My Time of Dying" e "Trampled Underfoot", climáticas e recheadas com várias camadas de teclados.
O álbum começa com duas pedradas pesadas, a grooveada "Custard Pie", com suas guitarras incandescentes, e o hard rock durão "The Rover", com riffs de guitarra flutuantes e certeiros, além de uma interpretação visceral de Plant.
O ouvinte mal tem tempo de se recuperar e já recebe de cara "In My Time of Dying", possivelmente o melhor blues rock da história, com seu peso descomunal e seu clima denso e pesado, com uma letra-lamento que beira o gospel. A sequência tem uma quebra com "Houses of the Holy", um boogie rock mais uma vez calcado no suingue de guitarra, que serve de introdução para o funk acelerado "Trampled Underfoot", que remete a Stevie Wonder com o piano elétrico que permeia toda a música.
O lado B do vinil termina com a exótica e viajante "Kashmir", com seu clima afro-indiano-oriental recheado de teclados e orquestrações de cunho místico. mesmo torcendo o nariz, page nunca negou as influências do rock progressivo, principalmente na elaboração das harmonias e dos arranjos. Plant canta divinamente, naquele que é o seu melhor vocal já feito, em minha opinião.
O terceiro lado é o mais variado e o menos pesado, evocando as diversas influências dos quatro músicos. "In the Light" segue por um lado esotérico-progressivo, mas em uma ambientação menos densa e mais acessível, principalmente em relação às linhas de guitarras, sem tantas variações, mas com um timbre elegante.
"Bron-Yr-Aur" resgata as influências de música celta de Page, com seus violões dobrados e dedilhados, servindo de intro para quase balada "Down By the Seaside", com sua levada agridoce e quase country. "Ten Years Gone" retoma o blues, em que a guitarra assume o controle total, estabelecendo um clima melancólico.
No encerramento, o astral sobe, com o predomínio do blues, sem muito peso. "Night Flight" mergulha em um funk rock energético e dançante, para ser seguida de um rock vigoroso em "The Wanton Song", com uma típica levada de blues.
"Boogie with Stu" tem cara de jam session, embalada pelo piano mágico de Ian Stewart, o sexto rolling stone. Em alguns momentos, os mandolins de Page e Jones levam a música para um quase ragtime. Já "Black Country Woman" mistura country e blues permeados por vocal sensual-safado de Plant, tudo movido a violões e guitarras acústicas, que preparam o clima para a porrada final de "Sick Again", o rockão vigoroso que encerra o trabalho.
O álbum foi um sucesso comercial, chegando ao primeiro lugar das paradas da revista Billboard, vendendo 8 milhões de cópias nos Estados Unidos na época. Se "Led Zeppelin IV" ainda é a icônica obra da banda por conter uma penca de hits e clássicos, "Physical Grafitti" é o auge criativo da banda, com sua coleção inigualável de canções diversificadas e de alta qualidade.
Clique no player para ouvir o programa combate Rock falando sobre "Physical Graffiti" e também sobre o primeiro álbum dos Rolling Stones:
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