Tidal nada tem a ver com arte. É só sobre dinheiro
Mauricio Gaia
No final do mês passado, o multimilionário (irei repetir esta palavra várias vezes neste post) rapper Jay-Z montou uma festa de arromba para anunciar sua nova empreitada: o Tidal, novo serviço de streaming de música que, nas palavras de Alicia Keys, é "o futuro da música". No palco, junto com Jay-Z, a própria Alicia (milionária), Jack White (milionário), Daft Punk (milionário), Rihanna (milionária), Madonna (multimilionária), Beyoncé (multimilionária), entre outros felizes ricaços.
O que propõe o Tidal de tão revolucionário? Conteúdo de áudio e vídeo em alta qualidade. Conteúdos exclusivos. A um preço bem mais alto que seus competidores e, claro, sem a alternativa de um serviço pago por publicidade, que outros serviços como Spotify, Deezer ou Rdio oferecem. Entre outras justificativas, no vídeo da apresentação, vários dos multimilionários afirmam que é um serviço oferecido pelos artistas, que eles são os "donos" do serviço e não empresas de tecnologia, etc e tal..
We're only on it for the money (Zappa, Frank)
Vamos aos detalhes – todos os que estavam no palco, todos muito ricos e bem de vida, tem contratos amarrados a grandes corporações. O próprio multimilionário Jay-Z é uma corporação que gira muito dinheiro. Como tudo na vida, sabemos que o interesse de grandes corporações muitas vezes se resume a dinheiro. Então, onde se lê "artistas tomam o controle", ou "o futuro da música", entenda: eles estão falando somente sobre dinheiro.
Não à toa, Tidal surge em um momento em que as grandes gravadoras estão pressionando os demais serviços de streaming a acabarem com o modelo de serviço pago por publicidade, onde o usuário não paga. Não por acaso, a cantora multimilionária Taylor Swift anunciou a retirada de seu catálogo de músicas do Spotify para ser uma artista "exclusiva" Tidal.
Esta pressão das gravadoras se deve por um motivo: dinheiro. Elas querem mais dinheiro das empresas que fornecem o serviço. Se o serviço do multimilionário Jay-Z já se propõe a oferecer um serviço completamente pago pelo usuário (entenda-se: você), atende de bate-pronto às exigências das gravadoras.
Outro ponto, também apontado na apresentação – o percentual do valor de assinatura aos artistas seriam maiores. Pode até ser, não duvido disto, mas estamos falando de artistas, vou repetir mais uma vez a palavra, multimilionários. Me lembra aquele trecho de South Park em que um policial explica à simpática gang de Eric Cartman porque download ilegal não era bacana.
Dias atrás, eu conheci um rapaz que é autor de algumas músicas (não sei quais, não me perguntem isto) e tem este trabalho oferecido tanto na Deezer, quanto no Spotify e Rdio. Ele me disse que se sente bem satisfeito com a remuneração paga pela execução de suas músicas nestes serviços. Eu imagino que ele esteja bem longe do hit parade, mas fazendo o racicínio inverso, se um compositor quase anônimo acha ok os valores que recebe, só uma coisa explica porque Madonna, Jay-Z, Taylor Swift e seus parceiros comerciais não estão satisfeitos: porque eles querem ficar mais ricos do que já são. É tudo sobre dinheiro. E sobre quem vai ganhar mais dinheiro. Como bem apontado por Ben Gibbard, do Death Cab From The Cutie, não havia nenhum artista independente no palco durante a apresentação do palco. Assim como também não se preocuparam em ouvir a declaração de algum deles. Somente os bem-sucedidos, tanto artistica como financeiramente.
Para terminar, se você acha mesmo que ouvir Taylor Swift em arquivos sem compressão vai te proporcionar uma experiência sublime, amigo, você merece ter que pagar vinte dólares por mês por isto.
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