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Eric Clapton: o deus da guitarra faz 70 anos

Combate Rock

30/03/2015 16h15

Marcelo Moreira

Há muitas qualidades em Eric Clapton que merecem ser admiradas além de sua habilidade como guitarrista. Algumas delas são a coragem, a honestidade e a coerência com que toca sua carreira há 51 anos. Desde a sua intempestiva saída dos Yardbirds em 1965 (nem tão intempestiva assim), em protesto contra o "comercialismo" da música da banda, até a forma como tratou os músicos de apoio ao longo dos anos, sempre os trocando, mas com respeito e sem traumas, o músico inglês sempre primou por sua integridade como pessoa e como profissional – e sua autobiografia comprova isso.

Há dois anos Clapton disse que estava no fim de sua carreira, ao menos nos palcos. "Não quero tocar por aí, em extensas turnês, com 70 anos de idade", afirmou em entrevista à revista norte-americana Guitar Player. Entretanto, desde então lançou dois álbuns e encarou duas turnês mundiais.

O mestre da guitarra completa 70 anos no dia 30 de março. E está convicto de que tem de desacelerar e preparar a retirada. Ao contrário de Mick Jagger e Keith Richards, que fazem 72 anos em 2015, e de Paul McCartney, que fará 73 em maio, o guitarrista sente o peso da idade e constata que não tem mais preparo físico – e coluna – para encarar duas horas de palco, com suas amadas guitarras penduradas no pescoço e nos ombros.

Um de seus grandes legados – e são – muitos -, é o indispensável Crossroads Festival, evento beneficente realizado a cada três anos nos Estados Unidos reunindo a nata dos guitarristas do mundo. Tocam velhos amigos, ases do instrumento, estrelas do blues e prodígios do instrumento. Em conversas com Keith Richards, durante a última edição do evento, em 2013, Clapton garantiu que o festival continuaria, sempre com a sua presença. Talvez seja uma das poucas exceções que abrirá a partir de 2015.

Eric Clapton (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Eric Clapton (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ainda em  2013, durante a turnê do álbum "Old Sock', o seu mais recente lançamento, teve de cancelar duas apresentações por conta de fortes dores nas costas. "Subir no palco não é o problema, nunca foi. Se eu pudesse fazer isso em minha vizinhança sempre, seria ótimo. O que me aflige são as viagens. Há caras no Texas que tocam em seu próprio circuito e isso os mantêm vivos. Eu não vou parar de tocar aos 70, quero me apresentar de vez em quando, mas eu vou parar de fazer turnês". afirmou á Guitar Player.

O fato que a geração que nasceu entre 1965 e 1975 e que se acostumou a ouvir o melhor rock já produzido não está acostumada com as perdas. Os amantes do blues e do jazz estão mais escolados, já que há pouquíssimos heróis vivos – B. B. King, Buddy Guy, James Cotton e mais ninguém, acho.

Por mais que vez ou outra um Dio morra, ou Gary Moore, ou Trevor Bolder (Uriah Heep), um Rick Wright (Pink Floyd) ou mesmo um Jon Lord (Deep Purple), o pessoal da linha de frente ainda não teve uma grande baixa recente – exceto por Freddie Mercury, em 1991, e George Harrison, em 2001.

Quando um gigante como Clapton anuncia que vai se aposentar dos palcos – e ele é coerente e vai cumprir -, é sinal de que a música fica mais pobre e com menos referências. Seria bom demais ver Clapton imitando B.B. King e tocando aos 89 anos de idade, ou ver Jagger ao menos em cima do palco cantando "Start Me Up" até quase os 80. Mas isso não vai acontecer.

Pete Townshend já anunciou que o Who fará sua última turnê mundial em 2015, quando fará 70 anos de idade. Seu companheiro, o cantor Roger Daltrey (assim como Jagger, bisavô), faz 71 neste ano. O rock clássico, quem diria, ficou clássico de verdade.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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