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Morre Daevid Allen, o mítico líder do Gong

Combate Rock

13/03/2015 16h32

Marcelo Moreira

Daevid Allen causou comoção em janeiro quando anunciou publicamente que iria interromper o tratamento contra um câncer no pulmão. Em vários canais na internet, o líder do excelente Gong e que também fundou o maravilhoso Soft Machine mostrou uma paz de espírito comovente diante da aproximação da morte – os médicos deram-lhe uma esperança de vida de seis meses. Não durou tanto tempo assim. O músico morreu anteontem em sua casa, segundo nota postada por seu filho Orlando no Facebook. Ele tinha 77 anos.

Australiano de nascimento e francês por adoção, Allen esteve no Brasil com o Gong no ano passado, para uma rápida turnê pelo Sudeste. em São Paulo, tocou em um lotado auditório no Centro Cultural São Paulo. De aparência frágil, esbanjava vitalidade em um show intenso e movimentado, ressuscitando pérolas do rock progressivo de sua banda.

Fabio Golfetti, guitarrista brasileiro que é líder do Violeta de Outono, integra o Gong desde 2011 e é um grande amigo do cantor, guitarrista e flautista australiano. Em alguns momentos dividiu o protagonismo do show paulistano com Allen e encantou o púbico presente. Ele havia comentado no começo deste ano com o seu irmão Sílvio, diretor-presidente da Voice Music, que o Gong estava hibernando devido à doença de Allen, que tinha se agravado.

Daevid Allen é considerado um visionário do rock por seus fãs, um intelectual e guru capaz de criar obras complexas repletas de referências filosóficas e carregadas de significados ocultos. Seus detratores, por outro lado, o desprezam, afirmando o músico ser apenas um hippie velho e chapado, com obra escondida e pouco relevante. É um dos mestres do rock progressivo europeu.

gong

Montagem com a formação mais recente do Gong. Allen está ao centro, em destaque (FOTO-MONTAGEM: DIVULGAÇÃO)

Um dos criadores do maravilhoso grupo de rock psicodélico Soft Machine (depois um quinteto de música instrumental) em 1966, em Londres (onde chegou em 1961), teve a vida virada de cabeça para baixo no ano seguinte, quando tentava voltar a Londres de uma viagem a Paris: as autoridades inglesas negaram a renovação de seu visto e ficou proibido de entrar na Grã-Bretanha. A restrição nunca foi esclarecida por completo, mas o músico tem certeza que está relacionada a denúncias de suposto uso e porte de drogas.

Longe de sua casa na época e da banda que criara, não perdeu tempo e formou o Gong com músicos ingleses expatriados em Paris, além de colaboradores espanhóis e franceses. A formação se estabilizou mesmo em 1971, quando o Gong ganhou jeitão de banda e uma estrutura minimamente profissional para tocar em bares, festivais e fazer excursões.

Com sua música hermética e intrincada, o Gong surpreendeu quando se tornou um dos primeiros nomes contratados pela então iniciante gravadora Virgin Records em 1972. A fama veio rápido, mas o dinheiro não apareceu, embora o grupo começasse a incomodar os líderes do rock progressivo da época – Yes, Jethro Tull, Genesis, ELP.

Mesmo sem conseguir impedir o rodízio de músicos, o Gong atingiu o auge entre 1973 e 1974, quando lançou sua trilogia da "Radio Gnome Invisible", que consiste nos discos "Flying Teapot", "Angel's Egg "e "You", todos especialmente enfocados nos personagens criados por Allen e Gilli Smyth, professora inglesa que conheceu em Paris e que se tornou sua esposa.

A boa fase não durou muito, pois em 1975 Allen e a mulher romperam com a banda, descontentes com as composições dos outros integrantes. A banda continuou por mais algum tempo até sumir lentamente, para ser retomada em 1992. Desde então, foram milhares de formações e encarnações, sob diversos nomes.

"Só posso desejar que, no decorrer desta jornada, tenha de alguma forma contribuído para a alegria nas vidas de alguns seres humanos", disse Allen no comunicado divulgado á imprensa em que se despedia da vida. Ele agradeceu ao público "ter iniciado o processo de fazer o seu luto, exortando-o depois a celebrar esta morte que se aproxima". "É assim que podem contribuir, seria um grande prenda da parte daqueles que estão emocional e espiritualmente relacionados comigo."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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