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Boa safra de livros para quem gosta de rock, jazz e muita história boa

Combate Rock

15/01/2015 07h16

Marcelo Moreira

As promoções pós-Natal invadiram o Ano Novo e estão oferecendo algumas boas alternativas de "livros musicais", entre biografias e análises específicas sobre períodos do rock e do jazz, bem como trabalhos individuais de vários artistas, tudo complementado com alguns lançamentos do fim de 2014.

Uma boa surpresa é "Dead Knnedys – Fresh Fruit From Rotten Vegetables", que conta a história do nascimento da banda punk mais importante da história e da criação/gravação do primeiro álbum, "Fresh Fruit From Rotten Vegetables", entre 1979 e 1980.

O autor do texto, Alex Ogg, percorre toda a improvável história do encontro de um moleque do Colorado (Jello Biafra, um pseudônimo hilário adotado pelo vocalista) com um rodado guitarrista irascível sete anos mais velho em San Francisco (East Bay Ray, o motor criativo da banda, na questão instrumental).

Lançado no Brasil pela editora Ideal, e com excelente tradução do jornalista e guitarrista paulista Alexandre Saldanha (da banda Reverendo Frankenstein), o álbum é importante para quem deseja conhecer a gênese do punk engajado e politizado norte-americano, bem mais agudo e influente do que o movimento inglês, que sempre foi mais musical e esteticamente bem definido.

O texto às vezes pode ser um pouco árido, já que, em alguns trechos, faz remissçoes e alusões que somente os iniciados no mundo punk poderão entender, mas isso não chega a atrapalhar.

Uma obra fundamental recente sobre a música popular do século XX é uma que mostra a genial influência do extraordinário Miles Davis, que embute uma máxima interessante: música de vanguarda jamais será popular, mas sempre será capaz de mudar o mundo.

 

DK

Como o foco sempre foi a criação da banda e agravação/lançamento do primeiro e magistral álbum, Alex Ogg apenas passeia sobre o resto da carreira do grupo.

"Kind of Blue: Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música", do jornalista inglês Richard Willians, foi editado no Brasil pela Casa da Palavra. Denso, didático e metódico, o livro é referência na análise das principais obras do jazz contemporâneo e faz um passeio interessante pela música popular do século XX e a vanguarda de vários estilos.

O ponto central da obra é a genialidade do álbum "Kind of Blue", que Miles Davis gravou com seu quinteto em duas sessões no primeiro semestre de 1959.

No ano em que a obra completou 55 anos de gravação, ainda ecoa por vários segmentos como uma das influências mais importantes para os artistas que vieram depois dele – e é bom lembrar que fazia parte da banda do trompetista que é quase um sinônimo de jazz o visceral saxofonista John Coltrane.

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Para os fãs do metal, chega uma biografia elogiada de um dos mais talentosos instrumentistas do subgênero roqueiro. "Cliff Burton – A Vida e a Morte do Baixista do Metallica" (Editora Gutemberg) é um sóbrio relato do surgimento de um raro tipo de músico, versátil e hablidoso ao extremo em conseguir timbres e fraseados até entao pouco usuais no metal.

A obra é assinada por Joel McIver, jornalista inglês especializado em livros musicais e fã declarado do Metallica. A obra, de vez em quando, envereda pela reverência, especialmente quando menciona o talento musical e sua habilidade também na composição. Também não há "podres" na narrativa – talvez porque realmente Burton procurasse passar longe de encrencas mais complicadas.

McIver também evita aprofundar a questão de que, pouco antes de morrer em um acidente com o ônibus da banda, na Suécia, em 1986, ele estivesse planejando dispensar o baterista do Metallica, Lars Ulrich (o criador de toda a coisa), com o apoio de James Hetfield, o guitarrista e vocalista. Vários autores divergem quanto à veracidade da informação e seus detalhes.

No rock nacional, detaques para quatro interessantes lançamentos. "Paramita", de Carlos Finho Telhada (Editoras Naturales11a), vocalista do 365, ganha uma caprichada reedição, trazendo poemas e leras de músicas de sua banda. O pacote fica completo com o lançamento de seu mais recente disco solo, com o mesmo nome.

Curiosamente, o baterista do 365 também se lançou às letras. "Miro de Melo – 30 Anos de Rock" tem texto de Edson Luís Rosa e edição da editora Sinergia e traz um relato linear, mas interessante, do músico da lendária banda paulistana. Destaque para informações preciosas sobre a formação de outra banda punk, o Lixomania, na qual também tocou, e fotos históricas da cena musical da cidade de São Paulo dos anos 80.

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"Tá no Sangue! – A História do Rock Pesado Gaúcho – Parte 1" (Independente) é um ambicioso projeto para mapear e resgatar a história do rock pesado gaúcho. Com intensa pesquisa e muitas entrevistas, foi dividido em dois volumes tamanha a quantidade de informações coletadas pelos autores – Maicon Leite, Douglas Torraca e Luís Augusto Aguiar. São mais de cinco décadas de música e de peso. Há boas histórias que recheiam a narrativa histórica, que chega até 1990 neste primeiro volume.

Também de cunho histórico aparece "Lira Paulistana", de Riba de Castro (Editora Natura Musical), talvez o melhor registro em texto do que foi e significou o teatro paulistano do bairro de Pinheiros que abrigou parcelas expressiva da vanguarda artística de São Paulo – a predominância era de músicos, mas havia poetas, artistas plásticos, jornalistas e muitos outros curiosos.

A obra chama a atenção pela quantidade de imagens raras e históricas, além de muitos depoimentos de quem participou daquele momento cultural rico de nossa cultura. Polo cultural dos mais importantes entre 1979 e 1986, o teatro teve em seus palcos gente como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Rumo, Língua de Trapo, Premeditando o Breque e muitos outros artistas, que contribuíram com depoimentos importantes, seja diretamente ao autor ou em entrevistas concedidas ao longo do tempo, como no caso de Assumpção, que morreu em 2003.

Para encerrar, uma boa opção para quer quiser ter uma visão geral da história do rock. "Almanaque do Rock" é uma revista de 100 páginas editada pela editora Alto Astral, de Bauru. Coordenada pela jornalista Melanie Retz, foi atualizada e  reeditada no ano passado. O texto é bom, leve e preciso nas informações sobre discografias, datas e formações de bandas.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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