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Dinâmico e mais pesado, Dr. Sin abre muito bem o ano com 'Intactus'

Combate Rock

12/01/2015 06h22

Marcelo Moreira

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O preconceito já vem embutido: é impossível um dinossauro do rock voltar a lançar um álbum de qualidade, muito menos ainda algo que possa ser comparado ao que de melhor fizeram no passado. Existem vários exemplos que desmentem essa máxima, e um deles chega com tudo neste mês de janeiro para estapear quem pensa desta forma. O trio paulistano Dr. Sin está lançando "Intactus", seu novo álbum, e mostra vigor invejável em um momento em que a música se torna cada vez mais um bem descartável, desvalorizado a cada dia.

Mais pesado e dinâmico, o novo trabalho é o principal argumento do grupo para comemorar os 20 anos do lançamento do primeiro álbum – são 22 de carreira com a mesma formação, e que cometeu talvez o seu melhor trabalho, tão bom quanto o icônico primeiro CD. E o Combate Rock ouviu o álbum com exclusividade no mês de dezembro – e também executa com exclusividade todas as faixas de "Intactus" no programa de web rádio desta semana, que pode ser acessado ao final do texto

"O título do álbum é uma alusão a nossa longevidade mesmo permanecendo no underground e adotando um gênero musical que não tem popularidade no Brasil", diz o baixista e vocalista Andria Busic. "Tocar rock pesado por mais de 20 anos no Brasil, com a mesma formação, viver de música e adquirir prestígio internacional mesmo com as dificuldades que temos aqui, é algo que tem de ser celebrado."

"O novo álbum conseguiu capturar uma atmosfera muito boa, com uma variedade de temas e performances que me surpreenderam muito", comemora Ivan Busic. "A fase é boa, as ideias vieram facilmente em um momento de muito trabalho em todos os sentidos. Estamos tocando bastante pelo Brasil e recentemente fizemos uma rápida turnê pelos Estados Unidos, o que ajudou no clima de criação das músicas novas. Todo mundo estava pilhado."

Além de mais pesado, "Intactus" é bem mais diversificado, indo do power metal ao hard rock, do rock básico ao blues. E essa diversidade transpira um clima de paz e descontração como nunca antes a banda conseguiu – o que não quer dizer que trabalhos anteriores tenham sido problemáticos. A banda simplesmente aproveitou ao máximo a grande fase por que passa, quando tudo parece estar dando certo ao mesmo tempo.

Clima descontraído

A abertura do novo álbum é um aquecimento para uma jornal da bastante agradável, de muita pauleira. "Saturday Night" é rápida e festeira, remetendo aos bons momentos dos anos 90, com excelentes riffs e bom humor. "How Long" vem em seguida e mantém o pique, mas com mais elegância, misturando hard rock com um heavy classudo e mais elaborado.

"We're Not Alone" é um dos destaques do álbum, possivelmente a mais pesada, ao lado de "Fight the Good Fight". Densa, quase doom metal, abusa do clima de terror ao falar de alienígenas com alguma dose de humor, mas com guitarras com baixa afinação e um excelente riff que derruba alto-falantes. O trabalho do guitarrista Edu Ardanuy é impressionante tanto na base como nos solos cortantes.

À primeira audição, parece esquisito que a faixa seguinte seja "Soul Survivor". Blues da melhor qualidade que descamba em um heavy denso e dramático, dá uma quebrada na sequência, mas compensa com a alta qualidade da composição, onde as guitarras remetem ora ao melhor de Jeff Beck, ora ao blues sentimental e preciso de Joe Bonamassa.

O dueto vocal entre os irmãos Andria e Ivan é o diferencial, em uma letra que é a mais elaborada do álbum, remetendo ao livro "A Volta" ("Soul Survivor", em inglês), de Bruce Leininger, Andrea Leininger e Ken Gross, sobre o espírito de um piloto de avião de caça norte-americano morto na II Guerra Mundial e que teia reincarnado em um menino de dois anos.

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Dr. Sin em 2015 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"The Great Houdini" retoma o clima hard, com a versatilidade dando novamente as caras – a linha de baixo é incrivelmente pesada e técnica, e as guitarras remetem a bons momentos do Van Halen, do Mr. Big e de Steve Vai, bem apropriado para uma letra que homenageia o grande mágico norte-americano do começo do século XX. A música reserva espaço para várias brincadeiras e mantém o astral lá em cima, ressaltando os excelentes vocais de Andria, que melhoram ainda mais com o tempo.

A sequência é aquela que possivelmente é a melhor balada já gravada pelo grupo, "This Is The Time". Bem construída e com todos elementos oitentistas necessários, tem como destaque novamente o vocal de Andria Busic, além do suporte de uma guitarra pesada, mas ao estilo californiano. "The Big Scream" resgata o clima à la Van Halen, onde até os exageros de Ardanuy contribuem para o clima hard e de bom humor.

Já "Set Me Free" impressiona pelo feeling blueseiro em uma estrutura heavy bem consolidada. Não traz grandes inovações, mas injeta a adrenalina necessária e bem dosada que um rock'n'roll requer. A segunda balada do álbum, "Without You", perde um pouco em intensidade em relação a "This Is The Time", apesar da letra um pouco mais refinada e romântica. Entretanto, serve como contraponto "anticlimático" perfeito para a o encerramento apoteótico.

"Fight the Good Fight" transforma a boa energia que o álbum emana em força e ira para empurrar um heavy rock de contornos épicos, com direito a um baixo quebrado e virtuoso, enquanto que Ardanuy ousa experimentar nos timbres e nos arranjos. Ivan Busic, que fez um trabalho impecável em todo o álbum, transforma sua bateria em um fio condutor interessante bem elaborado.

Não poderia haver surpresa melhor do que começar o ano de 2015 com um trabalho de alta qualidade como "Intactus".

Fase boa

A agenda da banda é de causar inveja, com datas em vários locais do País e eventuais shows no exterior. Além disso, Andria Busic se tornou um requisitado produtor musical e faz malabarismos para atender a demanda. Já Ivan finalmente realizou um antigo sonho e se lançou como artista solo em 2013, e assumindo os vocais principais em todas as músicas de seu álbum "Rock and Road", produzido pelo irmão, que também tocou baixo e guitarra.

"Trinta anos atrás, quando eu e o Andria começamos no rock, eu era vocalista e cheguei a cantar no platina. Aí a bateria entrou na jogada e tivemos momentos fantáticos tocando com a banda Taffo e outros artistas até chegar ao Dr. Sin. Eu sempre quis retomar o lado cantor e o Andria foi o maior incentivador. Ou eu fazia naquele momento ou perderia o timing", comenta Ivan sobre elogiado CD autoral, onde compôs todas as músicas misturando pop, hard, blues, country e classic rock.

A fase realmente é boa. Andria e Ivan inauguraram um novo estúdio em São Paulo, o Studio 154, no bairro de Moema, onde "Intactus" foi finalizado pelo baixista. Ele e Ivan são sócios de Demian Tiguez, conhecido músico da cena roqueira paulistana. O novo ambiente é amplo e oferece algumas possibilidades a mais em relação ao estúdio anterior dos irmãos, o Sonata 84, no centro da capital.

Operando os modernos equipamentos do Studio 154 e curtindo um solo excepcional do guitarrista Edu Ardanuy na música nova "Fight the Good Fight", Andria abre um sorriso ao falar do início da esperada turnê comemorativa. "A experiência conta, é óbvio, mas esse começo de 2015 está sendo diferente, há uma expectativa diferente para esses shows. É o verdadeiro início de uma caminhada."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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