E quando morrerem nossos ídolos?
Dum de Lucca – do site Jukebox
"Nossos ídolos estão morrendo e as aparências não enganam mais". A frase visceral da música "Como Nossos Pais", bem cantada por Elis Regina e Belchior, mais a morte do fenomenal Joe Cocker me fez refletir sobre ídolos clássicos e a perenidade de suas obras e de si próprios.
Aqueles que, sem dúvida, deixaram um legado tátil, aromático, sensorial, técnico, e sobretudo espiritual na música e na arte. Seja pela qualidade do trabalho como pela personalidade.
E, se a música é antes de tudo uma sensação imaterial e discos clássicos e ídolos são eternos, quem sobrará para ídolo/obra após a morte do último dos nossos heróis?
Foi a partir dos anos 1950 que a construção do rock star como ídolo/ícone de gerações começou. Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holy, Jerry Lee Lewis são bons exemplos, amparados pela mídia e por um som vital, diferente, e que transformaria a sociedade careta e bem comportada.
Nas duas décadas seguintes todas as possibilidades foram exploradas ao limite, mesmo porque após os anos 1960 do desbunde hippie e da descoberta do LSD e da marijuana, a década de 1970 foi onde os solos de Jimmy Page se estenderam até as veias punks de Sid Vicious. Assim, nessa década foi eternizada a maior coleção de artistas e álbuns canonizados pela mídia e público.
A década de 1970 foi singular em termos de criação de inovações em estilos e gêneros musicais (Hard Rock, Heavy Metal, Fusion, Punk, Eletrônica e Reggae) uma ponte musical que liga o estilo de vida hippie da década de 1960 com o "brilho" dos anos 1980, regada a cocaína e alguns artistas e bandas frugais, e outros de certa relevância como The Cure, The Smiths, The Cult, The Pretenders e Sisters of Mercy.
Os anos 1960/70 criaram lendas e mitos eternos, tanto por terem produzido canções e discos imortais como pelas personalidades marcantes de certos artistas. Seja com Jimi Hendrix, Patti Smith, Beatles, The Who, Jim Morrison, ou o nosso querido Raul Seixas, uma legião de semideuses nascia. Ou alguém duvida que daqui a 100 anos Beatles, Patti Smith ou Elton John, serão lembrados?
Nos anos 1980 os subgêneros mais relevantes são a New Wave, o Punk Hardcore, o Gótico e o Industrial, com uma forte tendência a mais alegria e mi mi mi. E, na década de 1990, os subgêneros criados foram o Grunge, o Britpop, o Indie Rock e alguns tipos de metal. Após isso, nos anos 2010, só Jack White valeu a pena como força criativa, autêntica e feroz.
A bunda molice e a higienização se instalou no Indie Rock. Ou seja, último espernear do genuíno Rock foi com a explosão do Grunge e talvez a cena de Manchester, com suas batidas dançantes e guitarras sujas.
Não se pode matar o rock n'roll, mas muitos dizem que o mesmo está morto. Eu discordo. Eu acho que está em coma, talvez até coma "induzido". Dizem que a culpa é da mídia, mas acho que quem induziu esse coma foi a incompetência e falta de criatividade e peito de grande parte das bandas post-1990.
Por isso, e é minha opinião pessoal, logo mais, talvez em 10 anos, não sobrarão verdadeiros ídolos sobre a Terra. Ou alguém acha que após Mick Jagger, Eric Clapton, Patti Smith, Carole King, Ritchie Blackmore, Tony Iommi, Iggy Pop, Keith Richards, Jimmi Page, David Bowie, Pete Townshend e todos os que produziram obras imortais morrerem, algum cometa do Indie Rock será lembrado daqui há 40 anos?
Qual de vocês apostaria suas fichas que Tom York, Chirs Martin, Alex Turner se tornarão ícones daqui há 40 anos? E pior ainda, músicos medíocres mas endeusados por uma parcela da mídia como Pete Doherty, Ricky Wilson, Brandon Flowers, Alex Kapranos, e outros, serão lembrados em 2024?
Lógico que eles têm fãs, são amados e vendem discos, mas serão reverenciados por terem deixados obras seminais e relevantes como Led Zeppelin, Ramones, Frank Zappa, Joy Division, Bob Dylan, The Carpenters, Jeff Beck, Ozzy Osbourne, Aretha Franklin ou Marvin Gaye? NÃO!
Ou alguém acha que qualquer álbum do Radiohead venderá como "Dark Side Of The Moon", do Pink Floyd, de 1973, que rendeu 50 milhões de cópias e continua bombando!! Só para dar UM exemplo.
A verdade é que os melhores, mais criativos, mais influentes, os maiores criadores de discos míticos e de histórias impagáveis, estão morrendo. Alguns foram precocemente: Jimi Hendrix, Ian Curtis, Duane Allman, Frank Zappa, Cássia Eller, Koquinho, Gigante Brasil, Ruffino Lomba, Janis Joplin, Jim Morrison, John Bonham, Kurt Cobain, Karen Carpenter, Marc Bolan, John Lennon, Keith Moon, Freddie Mercury, Johnny Ramone, Amy Winehouse, Joe Strummer, Cazuza, Tim Maia, e outros tantos. Já Alvin Lee, Lou Reed, Bobby Keys, Joe Cocker, George Harrison, Johnny Cash, Wilson Pickett, Arthur Lee, Syd Barret, James Brown, Lux Interior, Jon Lord, Gary Moore, Ray Manzarek, Jerry Garcia, Curtis Mayfield, Buddy Miles, Raul Seixas, Etta James, Ronnie Montrose, Levon Helm, Johnny Winter, Jack Bruce, Ronnie James Dio, Phil Lynott, Richard Wright, tinham mais de 50 anos quando se foram.
Então, vamos aproveitar os verdadeiros ídolos, os artistas e bandas que têm um legado consistente e não sobrevivem sobre farsas, mentiras e mediocridades. Seja ao vivo, em vinil, CD ou Mp3. Porque, em 2024 quem estará vivo?
Contudo, viverão para sempre na história da música como arte, e os medíocres das listas do New Music Express continuarão como zombies perambulando como hypes natimortos. Pessimismo? NÃO! Constatação de quem ouve e consume música desde 1967.
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