Fender Stratocaster, o símbolo do rock, faz 60 anos
Marcelo Moreira
O símbolo do rock fez 60 anos em 2014. Identificada imediatamente com o gênero musical, a Fender Stratocaster se transformou em uma instituição da humanidade, digna de reverência e idolatria. Há que diga que ela é tão ou mais importante do que os guitarristas que a empunharam.
Ela não foi a primeira guitarra elétrica, e nem mesmo foi a mais desejada por algum tempo. Vendeu pouco em seus primeiros anos de mercado, mas foi a obstinação de seus criadores e dos diretores da empresa Fender que a mantiveram nas lojas, com suas inovações e seu design mais bonito, mais prático e versátil, ainda que mais cara do que irmã mais velha, a Broadcaster, que depois foi renomeada para Telecaster.
Com seus três captadores, em vez dos normais dois de outros modelos da companhia e da concorrência – notadamente as da Gibson -, a Strato, como ficou conhecida, praticamente se tornou sinônimo de rock quando o ícone Buddy Holly se apresentou no programa de TV de Ed Sullivan, o Sílvio Santos (ou Faustão) americano dos anos 50. Holly era o último grande da primeira geração roqueira e sua apresentação a TV em 1957 o transformou em um astro, assim como a Strato branca que empunhava virou objeto de desejo.
Leo Fender, o guitarrista de jazz que adorava eletrônica e que era obcecado pelo som amplificado de instrumentos, construiu uma fábrica de guitarras a partir de um sonho nos anos 40, e criou o mito Stratocaster em maio de 1954 sem muita pretensão. A menina de seus olhos era mesmo a Telecaster que, mesmo com o nome inicial de Esquire, logo modificado para Broadcaster, vendia muito por ser barata e sem muitas complicações.
A Strato surgiu após uma série de consultas e opiniões de músicos profissionais de jazz e blues amigos de Leo Fender, que os observava ao vivo sempre que podia. O resultado foi um instrumento diferente, com som mais poderoso e diversificado por conta dos três captadores, sem falar na ponte que permitia a regulagem individual de cada corda. O design a tornava mais confortável e suas especificações gerais a tornavam menos suscetíveis a desafinações.
Resumindo, era o instrumento perfeito para quem gostava de som mais limpo e nítido, mas ao mesmo queria mais versatilidade. Transformou-se no veículo ideal para a disseminação do vírus do rock definitivamente a partir da apresentação de Buddy Holly na TV.
Os ingleses ajudaram a revitalizar o rock, em baixa entre os anos 1960 e 1962, empunhando algumas peças Stratocaster nos anos pré-beatlemania. Hank Marvin, o mago da guitarra da banda The Shadows, encomendou uma em 1959, na época em que a banda acompanhava o astro Cliff Richard, e moldou seu timbre em torno do modelo.
O sucesso do instrumento na Europa já era grande em 1963, quando os Beatles se preparavam para tomar o mundo, e se tornaram muito populares na França, na Inglaterra, na Alemanha e na Itália, apesar de serem bem caras para os padrões normais da época. John Lennon e George Harrison compraram os seus primeiros modelos em 1965, e a usaram em músicas emblemáticas, como "Ticket to Ride", "Nowhere Man" e "All You Need Is Love", entre outras.
Com a venda da empresa para a CBS, gigante do entretenimento, em 1966, a disseminação mundial das Fender foi avassaladora, ao mesmo tempo em que uma geração de gênios adotou as Strato como uma extensão de seus corpos, como Eric Clapton, Jimi Hendrix, Jeff Beck, Johnny Winter, Buddy Guy e muitos, muitos outros. Até mesmo grandes adeptos das Gibson se renderam aos encantos das Fender, como Jimmy Page, Pete Townshend, David Gilmou e Leslie West (Mountain). Já na década de 70, o time aumentou: Robin Trower, Rory Gallagher, Steve Howe (Yes, em alguns períodos)…

Stevie Ray Vaughan empunha Lenny, uma das mais importantes guitarras que teve em sua curta vida (foto: DIVULGAÇÃO)
Quando a CBS parecia cambalear nos anos 80 por conta de mudanças no mundo da música, decidiu vender a Fender, que também passava por problemas técnicos e de vendas, e principalmente sendo solapada pela concorrência pesada de Gibson, Ibanez, Jackson e outros pesos pesados. Mas eis que os gênios da guitarra voltaram a dar uma força.
Stevie Ray Vaughan, Jeff Beck e Yngwie Malmsteen nunca abriram mão de suas Strato e ascenderam ao estrelado da época (no caso de Beck, um ressurgimento) empunhando a guitarra símbolo de duas gerações. Eddie Van Halen, aquele que construiu algumas de suas guitarras e que tinha predileção pelas Wolfgang, também contribuiu ao usá-la algumas vezes. E o império não parou mais de crescer, tornando-se referência para toda uma indústria e para um gênero musical inteiro.
Em um trabalho muito interessante, o jornalista Guilherme Zanini escreveu a história da trajetória da Stratocaster em reportagem de capa da edição número 224 (dezembro) da revista Guitar Player Brasil. O texto é obrigatório para quem gosta de rock e de música em geral.
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