Joe Cocker, o gigante passional da voz rouca que deu elegância ao pop
Marcelo Moreira
Eram poucos os ingleses que resolveram cruzar o Atlântico naquele quente agosto de 1969 para tocar em um grande festival hippie no Estado de Nova York. Muita gente já previa que poderia ser uma roubada, graças a um histórico recente de calotes e problemas diversos de estrutura em shows grandes.
Teve gente que realmente recebeu menos do que o prometido em Woodstock, mas boa parte dos artistas se consagrou definitivamente. Jimi Hendrix virou celebridade mundial, por exemplo, e transformou o hino norte-americano distorcido em trilha sonora de toda uma geração.
Dos ingleses, nenhuma surpresa: The Who foi sensacional, antecipando em algumas semanas as principais músicas de sua ópera-rock "Tommy". O Ten Years After ganhou o respeito generalizado com seu blues pesado e insano, alçando o guitarrista Alvin Lee a lenda do instrumento. Mas foi um cantor ruivo quase desconhecido que roubou a cena, desconstruindo uma "melancolicamente alegre" canção dos Beatles e virando celebridade mundial.
Joe Cocker tinha 26 anos de idade e ainda insistia de todas as formas virar estrela da música pop. Tentou de tudo, menos o rock pesado, mas não escondia a paixão pela música negra norte-americana, em especial a soul music. Não se sabe se ele foi para o tudo ou nada em Woodstock, mas ele se transformou em um monstro de sentimento e emoção.
"With a Little Hepl From My Friends", de John Lennon e Paul McCartney, sucumbiu e foi mimetizada, passando de uma canção de entonação quase infantil na voz de Ringo Starr – a única música que o baterista cantou em "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" – a um hino gospel, desesperado e emocional.
Catapultado ao estrelato, o sensível grandalhão de voz rouca de Sheffiled aproveitou como pôde os bônus do sucesso, mas não conseguiu escapar do tsunami dos excessos e das armadilhas do mercado. Conheceu como poucos os altos e os baixos de uma carreira instável, mas recheada de talento e de elegância.
O saldo foi positivo, ainda que a saúde não tenha resistido à gangorra do mercado musical. Fumante inveterado, Cocker lutou contra um câncer no pulmão por anos e foi derrotado ontem, morrendo em consequência da doença aos 70 anos, na Inglaterra.
Adepto de um som pesado e passional, repleto de metais e com um invejável suingue para um inglês do meio norte industrial, tinha apurado senso estético e e era exigente quanto aos arranjos das canções, em especial nos das mais românticas – ficou conhecido como um músico detalhista e perfeccionista, chegando a ser irascível no estúdio, embora fosse generoso e gentil no dia a dia.
No frescor do sucesso pós-Woodstock, Cocker ainda conseguiu mais alguns hits nos anos 70 com "She Came Through the Bathroom Window" (outra versão de uma música dos Beatles), "Cry Me a River" e "Feelin Alright". Em 1970 sua versão ao vivo do sucesso "The Letter" dos Box Tops, lançado na compilação Mad Dogs & Englishmen tornou-se sua primeira canção a entrar no Top Ten americano. O álcool e as drogas, enretanto, lhe passaram várias rasteiras.
O ressurgimento veio ganhando um Grammy por "Up Where We Belong", um dueto com Jennifer Warnes, em 1983, canção do filme "A Força do Destino" (1982). Ela foi seguida por por outros sucessos românticos, muitos também incluídos em trilhas de filmes – "Don't You Love Me Anymore""Up Where We Belong", "You Are So Beautiful", "When The Night Comes" e "Unchain My Heart", esta tema da novela brasileira "Sassaricando".
Sua versão para "Never Tear us apart", da banda INXS, foi tema de sucesso da novela "Coração de Estudante", e "You Can Leave Your Hat On", incluída na trilha do filme "Nove Semanas e Meia de Amor", de 1987, talvez sua música mais conhecida no Brasil.
Com 21 álbuns lançados, o músico visitou o Brasil pela última vez em 2012, quando mostrou as canções de "Hard Knocks", seu álbum lançado em 2010. Cocker já havia se apresentado no país em 1977 e no Rock In Rio 2, em 1991. Seu último disco, "Fire It Up" foi lançado em 2012.
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