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Mais um fiasco: Zoombie Ritual pulveriza credibilidade do metal no País

Combate Rock

15/12/2014 06h44

Marcelo Moreira

Era para ser a grande celebração daquele que começou a rivalizar com o Roça'N Roll (Varginha-MG), Porão do Rock (Brasília-DF) e Abril Pro Rock (Recife-PE) com um dos maiores festivais underground do país. Terminou a edição de 2014 como um fracassado tão grande quanto o desastroso e trágico Metal Open Air, em 2012, em São Luís (MA).

O Zoombie Ritual, realizado todos os anos em Rio Negrinhos, no interior de Santa Catarina, repetiu os mesmos erros – e a mesma falta de respeito – que os organizadores do festival maranhense: cancelamentos em massa de apresentações de bandas, acusações de não cumprimento de acordos, de não pagamento antecipado de cachês e de não garantir a estrutura mínima de hospedagem e deslocamento de artistas. Igualzinho ao Metal Open Air.

As principais atrações internacionais foram cancelando suas participações em um efeito dominó: Brujeria (EUA/México), Carcass (Inglaterra)EUA), Destruction (Alemanha) e Venom (Inglaterra), este a atração mais importante. No sábado, dia 13 de dezembro, terceiro dia do festival, foi a vez dos paulistanos do Harppia anunciarem via redes sociais que não tocariam na tarde daquele mesmo dia.

"Mesmo cobrando cachê simbólico, e percebendo problemas na comunicação, decidimos ir em frente, mas não recebemos garantias de hospedagem, trocaram nossas passagens de avião por uma viagem de van de São Paulo a Rio Negrinhos com outras duas bandas no mesmo veículo (?!?!) e não recebemos 50% do cachê, como havia sido acordado. Mesmo com a desistência de várias bandas, decidimos ir, mas a van não apareceu para nos levar – trocaram o dia da viagem e não nos avisaram ou consultaram. Sentimos muito e pedimos desculpas, mas não iremos tocar no Zoombie", informou o Harppia no comunicado oficial.

Destruction (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Destruction cancelou a apresentação com acusações pesadas contra os organizadores do Zoombie Ritual (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Em sua página oficial na internet, a banda Carcass publicou uma nota furiosa a respeito de sua desistência? "Zoombie Ritual:  nós nunca cancelamos. Vocês nunca cumpriram com as suas obrigações e nos manobraram apenas para obter o Venom nas nossas costas. Não temos nenhuma escolha exceto voltar para a Europa."

Entre os cancelamentos antes do festival podemos citar a banda norte-americana Whiplash, os noruegueses do Ragnarok, os ingleses do M-Pire of Evil e as brasileiras Sexthrash, Stress e Salário Minimo. As reclamações foram variadas, mas sempre com o mesmo tom furioso contra o descumprimento de contratos e nenhuma garantia "garantida".

E o que dizer dos alemães do Destruction, que chegaram a rio Negrinho na semana passada e praticamente ficaram sem respaldo, quase abandonados, com o descumprimento das cláusulas do contrato. O trio também usou uma rede social na última sexta-feira para denunciar a situação, e finalmente, cancelar o show:

"Metalhead brasileiros!!! Tem alguém no Zoombiefest agora? Destruction está em Rio Negrinho, mas o promotor sumiu, sem pagamento – parece que o show não vai acontecer. A banda está perguntando por notícias aos fãs que estão no local… Eles querem tocar, mas isto não está parecendo certo. Obrigado por compartilhar e pelo apoio! Parece que este será outro festival desastroso."

Pouco tempo depois, nova mensagem. "A equipe do Destruction está agora no Zoombie Fest para inspecionar o desastre. O promotor desaparecido acabou de chegar ao hotel e prometeu fazer as coisas acontecerem, então isto pode ter um final feliz, pelo menos por esta noite… Desculpe por todo o drama e obrigado a todos que nos ajudaram com informações! Vamos mantê-los informados se a banda vai tocar!"

Entretanto, o desastre se consumou durante a madrugada de sexta para sábado: "Devido à quebra de contrato em vários níveis, o Destruction foi forçado a cancelar sua participação no Zoombie Fest. A banda lamenta esta notícia ruim. Todos os outros shows no Brasil continuam!"

Foram várias as tentativas de apagar o incêndio por parte dos organizadores, que começaram a receber questionamentos de consumidores que compraram pacotes e ingressos no Brasil todo – e até na Argentina. Na página oficial do evento na internet, os responsáveis colocaram o seguinte recado tentando explicar as desistências de Brujeria e Carcass:

"Pessoal, em nome do Zoombie Ritual Open Air 2014, venho através desta informar a todos os interessados que, infelizmente por inúmeros motivos, também ocasionados por uma reação em cadeia, devido aos problemas envolvendo diretamente o nome do festival, não iremos conseguir trazer a banda Carcass e Brujeria, uma vez que faltavam apenas uma porcentagem dos cachês de ambas as bandas a serem quitadas, porém pela falta na procura dos ingressos o suficiente para cobrir os custos das duas bandas não conseguiremos ir até o fim com a negociação, portanto lamentavelmente as bandas não estarão se apresentando no festival, porém todos que acharem necessário, façam a solicitação de seu ingresso de volta, que em até 15 dias estarão recebendo, agradeço a compreensão de todos mais uma vez."

O Combate Rock tentou localizar a pessoa apontada como o principal organizador do evento, Juliano Ramalho, mas não recebeu retorno. Outras pessoas citadas em notas oficiais postadas por bandas que desistiram também não foram localizadas.

Ainda que alguma tenha subido ao palco e conseguido tocar, sejam lá quais fossem as condições, o saldo final é uma tragédia. Institucionalmente, o fiasco é gigantesco como o do Metal Open Air, senão maior, por conta da "reincidência" e do histórico positivo de anos de evento.

zoombie

A questão que fica é simples: credibilidade, ou melhor, a falta de. Mais pesado ainda do que o evento maranhense, o golpe no metal nacional com o fiasco do outrora elogiado Zoombie Ritual é duro, pois gruda na testa de cada produtor que trabalha direito e honra compromissos na América do Sul a pecha de "incompetente", "mal-intencionado" e outros adjetivos pouco lisonjeiros.

Dizer apenas que os organizadores do Zoombie "deram um passo maior do que a perna" é atenuar a gravidade do que aconteceu, com o imenso desrespeito aos artistas e ao público, como se a incompetência demonstrada fosse algo que pudesse ser relevado.

Depois do vexame em Santa Catarina, fica cada vez mais difícil encontrar argumentos para neutralizar os detratores do metal nacional (em relação ao amadorismo na organização de eventos) e para rebater o deboche de parte expressiva do público que outrora apreciou música pesada no Brasil e que despreza as bandas nacionais e os festivais que ocorrem.

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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