Há dez anos, um gênio da guitarra era assassinado no palco
Marcelo Moreira
Abordamos aqui recentmente os 45 anos do trágico festival de Altamont, "organizado" (???) pelos Rolling Stones e que resultou em uma quantidade imensa de tumultos e confusões e na morte de um jovem negro de 18 anos esfaqueado por Hell's Angels, que faziam a "segurança" do evento.
Após Altamont, Mick Jagger ficou paranoico com a segurança e deu atenção especial a esse quesito, resultando em um isolamento tota, fato seguido pelo Led Zeppelin, pelo Queen, pelo Who e por muitos outros artistas nos anos 70 e 80, temeosos de que alguém pudesse invadir o palco e atacar um dos integrantes.
Ao longo do tempo, entretanto, nem todos tiveram o mesmo cuidado, especialmente nos momentos iniciais da carreira, ou de decadência, tocando em clubes pequenos ou festivais ao ar livre, gratuitos, em cidades do interior.
Shows de punk, hardcore e metal extremo de bandas menores, em locais pequenos, costumam ser bastante energéticos, com constantes invasões de palco para os famosos "stage dives", "moshs" e "mergulhos", para desespero de toda a equipe de segurança.
Muitos artistas estimulam essas práticas, e chegam a entrar em conflito com os próprios seguranças destacados para protegê-los, quando não interompem e saem do palco em "protesto" contra o que consideraram "violência" e "agressão" do corpo de seguranças contra "fãs" animados que queriam apenas "se divertir".
Pena que um dos melhores guitarristas de todos dos tempos, no metal e no rock'n'roll, não tve a sorte – ou competência – para contar com um corpo de seguranças eficientes que impedissem um demente nojento de subir ao palco de uma espelunca no meio do nada e asassiná-lo a tiros.
Há dez anos, em 8 de dezembro de 2004, Darrell Abbott, mais conhecido como Dimebag Darrell, ex-guitarrista do míico Pantera e atuando ntão em sua banda, Damageplan, foi alvejado a tiros em pleno palco, segundos antes de começar o show.
O incidente ocorreu no clube Alrosa Villa, na cidade de Columbus, Estado de Ohio, um lugar perdido no interior dos Estados Unidos, onde Darrell e seu irmão Vinnie Paul (ex-baterista do Pantera) tentavam retomar a carreira por baixo depois do fim traumático de sua ex-banda.
Um maluco chamado Nathan Gale, chapado ate a orelha com tudo o que tinha direito, conseguiu entrar armado no local. Conseguiu driblar dois bloqueios frágeis de seguranças despreparados e arrumou muita confusão antes de o show começar.
Ninguém conteve o imbecil e o deixaram enchendo o saco de mita gente até que o Damageplan subisse ao pequeno tablado que servia de "palco". Sem que alguém saiba como, Gale se desvencilhou de muita gente, subiu no tablado, gritou algo, sacou a arma e deu dois tiros no guitarrista, que morreu no local.
Após isso, ele virou-se e começou a atirar em todos os que haviam subido no palco para impedi-lo, matando também o fã Nathan Bray, que estava na platéia, o funcionário do clube Erin Halk e o chefe da segurança Jeff "Mayhem" Thompson, que trabalhavam no local.
Foram baleados ainda um dos empresários da banda, Chris Paluska, e o técnico de bateria John "Kat" Brooks, que sobreviveram. 15 pessoas foram atingidas, no total.
Surpreendentemente, havia um policial local no clube na hora do show, e não exatamente para assistir ao espetáculo. O oficial de polícia James D. Niggemeyer respondeu rapidamente com tiros, matando Nathan Gale antes que ele fugisse ou matasse mais pessoas.
Especula-se que o assassino tivesse problemas mentais, algo relacionado com esquizofrenia, e testemunhas (pelo menos três) relatam que, antes de atirar, Gale teria dito a um Darrell petrificado: "Você com fodeu com o Phil (Anselmo, ex-vocalista do Pantera e então ropido com os irmãos Dime e Vinnie) e com o Pantera. Vou resolver isso."
Aqueles que o conheciam afirmam que ele era um grande fã do Pantera e que ele sofria de problemas mentais, tendo inclusive sido medicado durante sua passagem pelo Exército americano, no qual serviu de fevereiro de 2002 a novembro de 2003, na Carolina do Norte, no cargo de mecânico.

Pantera nos anos 90: da esq. para a dir., Dimebag Darrell (guitarra), Phil Anselmo (vocal), Rex brown (baixo) e Vinnie Paul (baixo) (FOTO: REPRODUÇÃO)
Especula-se que sua passagem pelo exército tenha sido problemática, pois as circunstâncias de sua saída não foram bem esclarecidas. Alguns manuscritos de Nathan revelaram que ele pode ter sofrido de esquizofrenia.
O ataque a Dimebag Darrell proporcionou uma das páginas mais tristes do jornalismo cultural brasileiro, quando o cineasta Arnaldo Jabor, no papel de um "colunista político-econômico-social-cultural", ou seja, um "tudólogo", perpetrou uma série de comentários equivocados preconceituosos, desiformados e arrogantes, afirmando que ao como "bandas de heavy metal fazem apologia da violência, e a celebram quando ela acontece".
Os lamentáveis comentários no "Jornal da Globo", da TV Globo, foram proferidos sem que ao menos ele ou a produção do telejornal procurassem checar se aquilo realmente ra verdade, no Brasil e no mundo.
Para desgosto do tal colunista, as revistas Roadie Crew e Rock Brigade (uando esta ainda existia de forma regular) mostraram, em diversos momentos, que no Brasil, etre 1990 e 2004, foram registradas três mortes oficiais relacionadas a eventos dheavy metal – um quarto do total registrado no Brasil apenas no final de semana anterior ao da morte de Darrell, em dez shows – ou nos arredores – de pagode e sertanejo nas capitais brasileiras.
TRÊS MORTES EM 14 ANOS, período em que houve dois Rock in Rio, quatro Hollywood Rock, quatro Monsters of Rock, batendo em um público estimado em mais de 1 milhão de pessoas. E o final de semana anterior foram mais de dez mortes em eventos musicais – ou nos arredores – variados.
O enterro de Dimebag foi realizado em uma cerimônia fechada à imprensa. Somente a família, a companheira de muitos anos e os amigos puderam assistir.
No entanto, fãs do mundo inteiro fizeram vigília na sua casa no Texas, onde Dimebag Darrell passou sua infância, em um singelo ato de respeito ao guitarrista. Darrell foi enterrado em um caixão do Kiss com uma guitarra original enviada por Eddie Van Halen.
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