Foo Fighters, uma grande farsa do rock
Dum de Lucca – do site Jukebox
O novo lançamento do Foo Fighters, "Sonic Highways", banda capitaneada pelo "cara mais legal do rock", Dave Grohl, escancara uma história de muito marketing, moda, e maximiza o quanto a cena rocker empobreceu, criando mitos e lendas que têm a consistência de uma geleia. Grohl apostou todas as suas fichas no rock carnal, pós-punk, rápido e fácil.
Lançou oito álbuns, desde 1995, abastecendo as viúvas do Nirvana com algo parecido, mas longe de ser original (o que não é nenhum problema), além de ter frequentado as listas dos álbuns mais vendidos e amealhado alguns prêmios. Criações para programas de TV, participações em projetos com nomes como John Paul Jones, do "Led Zeppelin", e com o "Queens of The Stone Age", entre outros, sempre estiveram na pauta dele.
O vocalista/baterista/guitarrista acendeu através do Nirvana e todo hype criado em torno do épico grupo de Seattle, as portas de sua virtuosa inteligência e faro para os negócios. Hoje ele se assemelha muito a Gene Simmons, do Kiss, ou seja, virou uma máquina de ganhar dinheiro. É proibido? Não! O que incomoda é vender a imagem de alternativo, diferente e talentoso, pois o americano foi engolido pelo mainstream faz tempo, mas ainda posa como a última bolacha do pacote underground. E, se o Nirvana musicalmente já era duvidoso, apesar da indiscutível balançada que provocou na cena rocker, o Foo Fighters é um engodo que satisfaz pela metade, ou muito pouco. Bandas como, por exemplo, o Dinosaur Jr e o Temples, são infinitamente mais consistentes e inteligentes do que o FF. Tanto pelo talento dos músicos como pelas composições, linhas melódicas, harmonias e punch.
Em "Sonic Highways", o oitavo trabalho do grupo, o FF desceu a ladeira perdendo o maior trunfo que tinha, sua identidade. Grohl, na esteira do documentário que produziu em 2013 sobre o lendário estúdio "Sound City", por onde passaram Fleetwood Mac, Nirvana e Nine Inch Nails, apostou em uma cartada mais ampla, mais rendosa e bem mais midiática. Gravar o álbum em oito cidades de grande valor para a história da música dos EUA, Chicago, Nashville, Austin, Nova Orleans, Nova York, Los Angeles, Washington e Seattle, e recheá-lo de participações especiais como Joan Jett, Buddy Guy, Willie Nelson e Josh Homme. Ao mesmo tempo, registrou as sessões, colheu depoimentos e produziu o documentário – "Foo Fighters: Sonic Highways"-, de cunho pretensamente antropológico. O doc. pode ser conferido em oito capítulos a partir de 30 de novembro no canal a cabo BIS.
Banda
O trabalho em si tenta de forma desastrada, como nas canções "Congregation", "Something for Nothing", "In The Clear" e "Subterranean" enveredar pelo Classic Rock. E, se a banda não tem a mínima vocação e talento para ir adiante nesse tom, Grohl escolheu as piores matizes e clichês do Classic Rock como inspiração. E mesmo as tentativas de inesperadas mudanças de dinâmicas não convencem, pois soam como o rock de arena em seu pico pré-MTV. Claro que muitos vão gostar, mas é evidente para mim que a tentativa de flertar com o Classic Rock, e "tentar evoluir" em sua musicalidade, foram dois tiros nos pés.
Fãs admitem tudo, e por isso são fãs, mas Grohl parece perdido em seu "Sonic Highways". A única certeza que ele parece ter é que sua conta bancária vai engordar. Errado? Não! Ele sabe muito bem a linha tênue entre ser infalivelmente consistente e implacavelmente estereotipado, e tem tentado fornecer a cada novo disco uma nova narrativa. Ironicamente, na experiência de explorar a mística das cidades mais célebres da América, o Foo Fighters desmistifica completamente o seu próprio processo criativo, efetivamente transformando o projeto "Sonic Highways" em um experimento frustrado ao tentar se reinventar.
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