Chega de saudade
Mauricio Gaia
Todo mundo leu ontem: mais uma vez, Robert Plant teria recusado a participar de uma reunião do Led Zeppelin. Mais, teria recusado uma oferta R$ 2,3 bilhões, feita por Richard Branson, aquele bilionário inglês excêntrico e dono da Virgin.
Robert Plant está certo. Primeiro, porque nenhum dos ex-integrantes da banda esteja precisando tanto assim deste dinheiro. Segundo, porque chega a ser obsceno um cachê destes, a qualquer artista. Finalmente, porque não há nenhuma razão para que esta reunião aconteça, por mais que Jimmy Page seja obcecado com isto.
O Led Zeppelin acabou em 1980, com a morte do baterista John Bonham. De lá para cá, alguns encontros esporádicos, muitos boatos e desmentidos. Qualquer tentativa de um retorno definitivo da banda sempre foi rechaçado por Plant que, ao longo dos anos construiu uma carreira bem interessante, seja em seus trabalhos solos, seja em parceria com outros artistas. Só isto já seria um bom argumento para não voltar a trabalhar sob o nome Led Zeppelin.
Mas tem mais – o Led foi uma banda gigante, lendária e as expectativas em torno dela seriam insuportavelmente altas. Não existe nenhuma necessidade de ter que viver sob esta pressão, jogando para o alto um trabalho que tem sido bem construído nos últimos trinta e poucos anos.
Às vezes, fico me perguntando como teria sido se cinco tiros não tivessem acertado John Lennon. Provavelmente, algum milionário do estilo Richard Branson ofereceria um cachê triliardário para que os Beatles se juntassem no palco. Em algum momento, eles poderiam aceitar. Eles poderiam voltar a compor, gravar novamente. E, muito provavelmente, lançariam discos pífios, em se comparando com o que haviam feito anos antes (ou alguém se lembra de "Free as a Bird"?).
Conto nos dedos de uma mão quantas bandas retornaram com fôlego criativo e fazendo trabalhos interessantes – Black Sabbath, Deep Purple, talvez, e não foge muito disto. Nada faz imaginar que Led Zeppelin ou Beatles produziriam coisa melhor do que alguns de seus integrantes fazem em suas carreiras-solo ou em novos projetos.
Muitas vezes, a melhor forma de respeitar um passado glorioso é deixá-lo onde está, no passado. E, para matar as saudades, existe uma discografia respeitável para se revisitar.
*Em tempo: a notícia desta oferta feita ao Led Zeppelin, divulgada pelo Daily Mirror, foi desmentida pelo agente de Robert Plant.
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