Topo

California Breed tenta espantar o fantasma de Joe Bonamassa

Combate Rock

07/10/2014 06h55

Marcelo Moreira

California Breed: Watt (esq.), Hughes (centro e Bonham (FOTO: DIVULGAÇÃO)

California Breed: Watt (esq.), Hughes (centro e Bonham (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Glenn Hughes achou que tinha ganhado na loteria pela segunda vez quando conheceu o ás da guitarra blues Joe Bonamassa em 2009. Apesar de sua bem-sucedida e consolidada carreira solo, o baixista e cantor nunca mais saboreou o reconhecimento que obteve em seus três anos de Deep Purple, nos anos 70.

Participações nos shows de um e de outro, Hughes cantando "Heatbreaker" no álbum "Black Rock", e estava estabelecida a parceria que resultaria no furacão Black Country Communion, quarteto de hard rock comandado pelos dois criado em 2010.

Foram três álbuns de estúdio, um ao vivo, um DVD e um sucesso estrondoso, que há muito Hughes ambicionava, mas que chegou ao fim em janeiro de 2013, depois que os dois amigos se desentenderam por causa da agenda lotadíssima de Bonamassa, que se equilibrava no BCC, carreira solo, parceria com a cantora Beth Hart e com o projeto Rock Candy Funk Party.

O veterano Hughes não se conformou com a banda efêmera e com o sucesso posto de lado por conta de uma carreira solo. O Black Country tinha acabado, mas não para o baixista, inconformado com o sucesso passageiro perdido.

E foi o inconformismo que empurrou Hughes para o California Breed, trio de DNA britânico, mas tipicamente californiano.

Metade do Black Country está na nova banda: Hughes e o baterista Jason Bonham, filho de John Bonham, mestre as baquetas do Led Zeppelin morto em 1980. Na guitarra, o lho clínico do baixista cantor pousou em um virtuoso de Los Angeles, Andrew Watt, de 23 anos.

calibreed_cover_m

Recuperado do baque que foi o fim do grupo com Bonamassa, Hughes não perdeu tempo e se enfiou no estúdio para compor as 11 músicas (com a fundamental ajuda de Watt) do álbum de estreia, auto-intitulado e lançado em junho passado.

Quem desconhecesse a história dos dois últimos anos poderia jurar que, escutando "California Breed", estaria ouvindo Black Country Communion.

A ex-banda ficou tão impregnada em Hughes e em Bonham que o novo projeto é praticamente uma sequência , ainda que Watt tenha se esforçado muito para dar uma outra personalidade ao trio.

Mesmo que tudo remeta a Black Country Communion, o California Breed mostrou competência de sobra para fazer um bom álbum de hard rock, mais cru e direto do que qualquer um do projeto anterior.

O peso e o virtuosismo de Joe Bonamassa fazem falta, mas Andrew Watt compensou com um trabalho meticuloso de pesquisa de timbres vintage para, quem sabe, emular um pouco do som do espetacular Trapeze, banda que Hughes liderou na Inglaterra entre 1970 e 1973, antes de entrar para o Deep Purple.

O California Breed é menos pesado e mais melódico do que o Black Country, e transpira urgência, exatamente como queria o baixista, disposto a não perder a verve e o vigor que ainda mantinha por conta do sucesso do projeto anterior.

A expectativa em torno do California Breed era muito grande, e o trio não decepciona. O álbum não é espetacular, mas é um biscoito fino, de alta qualidade.

Com a dificuldade de escapar da sombra de Bonamassa, Watt se virou como pôde e teve sucesso na maioria das faixas do álbum, em especial nas duas principais, "Sweet Tea" e "All Falls Down". É um músico trabalhador e meticuloso, mas com boas ideias e sacadas inteligentes, que tira da cartola soluções aparentemente impossíveis.

É o caso em duas faixas, "Strong" e "Invisible", já caminhando para o final do álbum. À primeira vista, são canções comuns e até simplórias, onde é possível perceber que, em algum momento, os compositores ficaram empacados em um beco. E eis então que surge uma melodia diferente na guitarra, que altera o panorama e traz frescor e uma visão diferente para as faixas.

Situação parecida pode ser observada também nas austeras "The Way" e "Days They Come", onde a guitarra quebra a aspereza do "ambiente" com uma condução melódica leve, mas contundente, com certo peso, mas sem exageros.

Pode-se dizer que o Black Country Communion foi a melhor coisa que surgiu na vida de Glenn Hughes nos últimos anos. Justamente por isso é que o músico inglês fez de tudo para não ver escapar os ótimos momentos que teve com o então quarteto, e tenta de todas as formas esticar a boa fase.

O California Breed é talvez a melhor banda de classic rock da atualidade, o que não é pouca coisa, e indica que Hughes e companhia estão no caminho certo. O Black Country é a base, mas o trio deve ficar ainda melhor na medida em que for se descolando do antigo projeto de Hughes e Bonham.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock