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Woodstock e o fim do sonho flower power

Maurício Gaia

12/08/2014 12h05

Tinha tudo para dar errado. Aliás, tudo para dar muito errado. Mudança de local em cima da hora, uma cidade sem infra-estrutura para receber o público imaginado – que acabou sendo o dobro. Chuvas torrenciais, atrasos, invasões. Mas não é assim que a história contou o que aconteceu no festival de Woodstock, ocorrido entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969.

O que a história conta foi que, embalada pelas músicas de gente como Jefferson Airplane, Jimi Hendrix, Janis Joplin, entre outros, a cultura hippie, com seus lemas, encontrou seu ápice em uma fazenda na cidade de Bethel, estado de Nova York. É o que a história conta, mas a verdade, é que ali foi o começo do fim da era hippie, como ela se desenhou ao longo dos anos 60.

The Who em Woodstock. Estão sorrindo porque ainda não sabiam que, em nome do

The Who em Woodstock. Estão sorrindo porque ainda não sabiam que, em nome do "paz e amor", a organização não pretendia pagar o cachê deles.

O "flower-power" já havia sofrido um forte abalo, graças aos malucos comandados pelo não menos doidão Charles Mason, que, dias antes de Woodstock, haviam invadido a mansão de Roman Polanski e assassinado sua esposa, Sharon Tate, que estava grávida, e quatro amigos do casal.

Este rastro de violência não passou por Woodstock – duas pessoas morreram (uma por overdose, outra atropelada por um trator), mas acabou desaguando no Festival de Altamont, próximo a San Francisco.

Os Hell's Angels em ação em Altamont

Os Hell's Angels em ação em Altamont

Com um line-up de peso, com Jefferson Airplane, Grateful Dead, Flying Burritos Brothers e Rolling Stones, o concerto tinha tudo para da certo. Mas não deu e começou a dar errado já na escolha dos Hell's Angels para fazer a segurança do evento. A situação já estava fora do controle (um dos "seguranças" já havia nocauteado Marty Balin, do Airplane) quando Meredith Hunter, um jovem que estava na platéia foi esfaqueado por um Hell's Angel.

A história até hoje é controversa: a vítima estaria armada e corria em direção ao palco, onde os Rolling Stones se apresentavam. Ou não. Alguns relatos da época diziam que a banda estava tocando "Sympathy for the Devil" quando o crime aconteceu. O filme Gimme Shelter, de Albert e David Maysles, indica que a coisa toda aconteceu durante "Under My Thumb". No final, o segurança foi absolvido, alegando legítima defesa. De qualquer forma, a vaca flower power já havia ido para o brejo.

Ainda houve uma outra tentativa, em 1973, o festival de Watkins Glen, um autódromo em Nova York. Grateful Dead, The Band e Allman Brothers tocaram para 200 mil pessoas. Apesar dos nomes, a coisa revelou-se cansativa – cada uma destas bandas tocou por 4 horas, no mínimo, cada uma, para depois se reunir em uma interminável jam session. Nada de shows curtos e pilhados para animar uma platéia submetida a um bocado de chuva. O clima de contestação também já havia ficado para trás – não havia mais Guerra no Vietnã, os Beatles já eram passado, Bob Dylan estava fora de cena e Hendrix, Morrison e Joplin, entre tantos outros, já haviam morrido.

Mais de 600 mil pessoas foram a Watkins Glen (Foto: Divulgação)

Mais de 600 mil pessoas foram a Watkins Glen (Foto: Divulgação)

Durante os anos 70, a lógica havia mudado –  Woodstock havia mostrado que, embora tivesse dado prejuízo no evento, seus promotores conseguiram muito dinheiro com seus subprodutos: um filme e um álbum triplo. Este resultado fez com que pipocassem festivais como o California Jam, cuja primeira edição foi patrocinada pelo canal de televisão ABC.  Estas iniciativas foram, mais do que Woodstock, a semente para os festivais modernos que temos hoje ao redor do mundo. Mas o brilho da contracultura ficou naquela fazenda perdida de Bethel.

O cineasta Ang Lee conseguiu mostrar, com relativo sucesso, o que foi Woodstock no filme "Aconteceu em Woodstock" (veja trailer abaixo):

No player abaixo, o Programa Combate Rock sobre os 45 anos de Woodstock

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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