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O peso do mundo em português: heavy metal cresce em nosso idioma - parte 2

Combate Rock

27/05/2014 06h26

Marcelo Moreira

Acabou o medo de fazer heavy metal e música extrema em português. A nova geração brasileira de bandas de rock pesado está berrando e urrando em nosso idioma e colhendo bons resultados. Madame Saatan, Uganga e Worst, por exemplo, já estão pegando pesado faz tempo, e mostram bastante qualidade e vigor em seus trabalhos.

É gente que não pensa duas vezes antes de chegar chutando as portas e ensurdecendo os ambientes. É o caso do Project46, um trator derrubando tudo com seu thrash metal com influências de Pantera e dos paulistanos Torture Squad. Peso absurdo, guitarras na cara, vocal para lá de agressivo, letras demolidoras e uma precisão instrumental absurda.

Por que uma banda dessas ainda não estourou? Os caras não têm tempo para pensar nisso. Destroem tudo, colocam a casa abaixo e mostram que dá para fazer som extremo em português com muita qualidade. Acaba de lançar o seu segundo álbum, "Que Seja feita a Nossa Vontade", com bastante influência de música brasileira, como na interessante "Carranca". No álbum anterior, "Doa a Quem Doer", com ótima produção, os destaques são as porradas "Atrás das Linhas Inimigas", "Impunidade", "Capa de Jornal" e "Violência Gratuita". Um soco no cérebro.

UganGa (FOTO: REPRODUÇÃO)

UganGa (FOTO: REPRODUÇÃO)

Os mineiros do Uganga preferem um som mais moderno e mais calcado no hardcore dos anos 90, apesar dos ecos de clássicos como AC/DC e Motorhead, as principais influências do Carro Bomba. O som pesado era o caminho natural para a banda, que tem em sua formação Manu "Joker" Henriques, ex-baterista da lendária Sarcófago, que teve bastante prestígio no metal dos anos 80. "São mais de 2o anos tocando rock pesado e passando por várias situações. Não dá para ficar reclamando de falta de público. Temos de ralar e trabalhar", diz o músico.

O Uganga lançou no primeiro semestre o álbum "Vol.3: Caos, Carma e Conceito", também lançado na Europa, e prepara para 2012 um álbum ao vivo gravado no Razorblade Festival em 2010, na Alemanha. "Nossa primeira turnê internacional, com 18 shows em dez países, mostrou que o rock pesado em português é uma alternativa mais do que válida", afirma Henriques.

O Madame Saatan é uma das boas revelações do som pesado em português. O quarteto paraense lançou há um bom tempo o CD "Peixe Homem", uma pancada violenta em português que remete aos bons tempos dos Raimundos e ao começo inspirado da carreira de Pitty.

Como já virou tradição entre as bandas brasileiras desde o finado Toyshop, lá nos anos 90, os grupos nacionais que decidem colocar mulheres com cantoras o fazem também de olho no público: invariavelmente são muito bonitas. É o caso aqui, com Sammliz, seguindo a tradição de Shadowside, Ravenland, Holiness, Eclyptika e algumas outras. E, como nas bandas citadas, a garota canta muito bem. Em abril passado, no entanto, a vocalista anunciou sua saída do grupo, que decidiu paralisar as atividades por tempo indeterminado. A cantora informou em seu site oficial que sua partida foi programa com antecedência e que pretende seguir em carreira solo.

Madame Saatan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Madame Saatan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O Madame Saatan não é exatamente novata. Lançou em 2007 o seu primeiro álbum, auto-intiulado, mas que teve pouca repercussão no Sul e no Sudeste, embora tenha ganhado o prêmio Dynamite de Música Independente de 2008 como o melhor álbum.

"Peixe Homem" tem ótima produção, que privilegia o peso e as guitarras "na cara", dando estofo a canções que letras que fogem do óbvio – não são nada de extraordinário, mas fogem da mesmice que vemos no atual panorama raquítico do pop rock nacional em fase terminal.

Quem promete um som pesadíssimo e com letras cortantes e contundentes é a banda paulista Worst, que acaba de lançar seu novo álbum, "Cada Vez Pior". O grupo é liderado pelo insano baterista Fernando Schaefer, que já tocou com músicos do Biohazard e Sepultura, além de muitas outras.

A banda engata um peso e uma violência incomuns no heavy metal em português. Com produção muito boa, "A Violência te Ensinou", "Sem Solução" e "Não Pode Ver Paz" remetem aos grandes momentos de Anthrax e Exodus, com vocais gritados e às vezes urrados.

Bioface, de São Bernardo do Campo, vai pelo mesmo caminho, embora a produção de seu álbum novo, auto-intitulado, não seja tão boa quanto a do Project46. Intencional? Talvez, mas não invalida o trabalho do grupo. As músicas são fortes e a gravação crua despeja toneladas de energia. O instrumental é bom, com variações rítmicas interessantes que, lapidadas em uma produção mais apurada, pode elevar ainda mais o nível do grupo.

O brasiliense Totem já aposta em uma vertente mais tradicional do heavy metal, mas com uma sonoridade mais moderna, muitas vezes lembrando os bons trabalhos da banda sueca Candlemass.

"Vale Quanto Pesa" é o seu mais recente trabalho, que mostra muita energia e peso, embora a mixagem tenha deixado os vocais um pouco abaixo das guitarras. É um som bem diferente do que se faz hoje no Brasil, com uma timbragem única. "Nojanta", Resistência" e "Esse Morcego" são os destaques.

A banda Bruto, de Brasília, já parte para o outro extremo, praticando um death/thrash metal competente e barulhento, embora a produção pudesse ressaltar mais os timbres de guitarra, que soam cortantes como serra elétrica. O som por vezes abafado deixa de ressaltar o interesante trabalho de seis cordas.

"Mundo Destruído" é o nome do mais recente álbum, que traz uma desgraceira sonora digna do subgênero escolhido. A faixa-título é um dos destaques, assim como "Porrada" – nesta, a bateria deixa um pouco a desejar em relação à sonoridade, muito seca.

Já o Nôva, de Sorocaba (SP), traz em seu EP "O Tempo", um som mais cru e reto, mesclando hard rock e heavy tradicional com competência. Transita na área dos ótimos Golpe de Estado e Carro Bomba, com vocal ótimo e bom trabalho de guitarras. Seu trabalho é promissor. Ouça a ótima faixa de abertura "Superficial".

Claustrofobia (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Claustrofobia (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O Claustrofobia, banda paulistana fundada em 1994, estremeceu quando lançou seu último álbum, o excelente "Peste". Coeso, pesado e veloz, o grupo mantém a pegada dos anos 90. O som é direto e muitas vezes cru, mas extremamente bem tocado, tudo realçado com uma ótima produção. "Nota 6.66" e "Metal Maloka" são amostra da pancadaria insana que domina quase todo o álbum.

Assim como caso do Madame Saatan, há a utilização de elementos de música brasileira, mas que em nada comprometem o bom trabalho de "Peste" – soa ao mesmo tempo exótico e interessante escutar a agressividade death/thrash característica do grupo com tais elementos.

Por fim, temos o Galinha Preta, de Brasília, praticante de um hardcore que se esgueira para o mais autêntico punk, na linha Garotos Podres, ora para o metal extremo, em um crossover digno dos Ratos de Porão. Barulheira das boas, para colocar abaixo a casa noturna ou bar, ou até mesmo para incomodar muito aquele vizinho muito, mas muito chato. Remete aos bons tempos do punk nacional, da primeira metade dos anos 80. Os destaques são "Ninguém Neste Mundo é Porra Nenhuma", "Leis", "Bicicleta" e "A Carta da Barata".

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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