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Com descaso e som ruim, Uriah Heep e Mark Farner surpreendem na Virada

Combate Rock

19/05/2014 17h00

Marcelo Moreira

Menos gente, mas com os problemas de sempre. A Virada Cultural de São Paulo está deixando de ser um programa legal, especialmente para os roqueiros. Mais uma vez o rock foi negligenciado, apesar do ótimo público que compareceu ao palco São João, na avenida de mesmo nome, quase no cruzamento com a avenida Duque de Caxias. O som disponibilizado para as bandas estava péssimo, embolado, com cantores se esforçando para driblar as constantes falhas do microfone e volume baixo.

A parte central do centro da cidade estava bem policiada, mas pena que os policiais e guardas civis estavam mais preocupados em coibir o comércio ilegal de qualquer coisa do que em evitar assaltos e arrastões, sem falar dos arruaceiros de sempre, loucos para arrumar confusão e facilitar delitos de toda ordem.

Os músicos que fizeram a bela homenagem ao mestre Hélcio Aguirra, guitarrista do Golpe de Estado morto em janeiro passado, estavam tão empolgados e emocionados que relevaram os problemas técnicos apresentados durante a apresentação. Quem veio depois, o ótimo Uriah Heep e o melhor ainda Mark Farner, fizeram o que puderam, mas sucumbiram diante das condições ruins de equipamento e som oferecidas pela prefeitura.

Mick Box (esq.) e Bernie Shaw no bom show do Uriah heep na Virada Cultural (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

Mick Box (esq.) e Bernie Shaw no bom show do Uriah heep na Virada Cultural (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

O Combate Rock circulou durante o show do Uriah Heep e assistiu ao show em quatro pontos diferentes, a no máximo 50 metros do palco. Era impossível escutar decentemente o que a banda tocou. O microfone de Nernie Sahw, o vocalista, só teve o seu som corrigido no final da segunda música, a interessante "Overload", mas ainda assim falhas ocorreram. O baixo estava muito alto, ofuscando muitas vezes a guitarra do mestre Mick Box.

Três técnicos de som que trabalharam no evento, no palco rock, ouvidos pelo Combate Rock, mas que pediram para não serem identificados, admitiram que houve vários problemas, com reclamações de músicos e técnicos das próprias bandas. Entretanto, apenas um ousou informar que não houve muita preocupação com o palco rock, usando até mesmo a palavra desleixo. "Fiquei sabendo que o som estava redondinho da praça da República", disse.

Não estava, mas quem foi ver o mágico guitarrista norte-americano Stanley Jordan, por exemplo, ouviu o instrumento nitidamente na maior parte do show. Ali também o som do baixo estava muito alto, estourado, mas que não chegou a comprometer a apresentação do guitarrista. a prefeitura informou que não recebeu queixas sobre problemas de som no palco São João e que não registrou problemas ali.

O Uriah Heep fez o que pôde, dentro de uma enxuta apresentação. Empolgados e afiados, abriram com músicas novas, mas foi com so clássicos que levantaram o público. A bela "Sunrise" trouxe o clima hard rock dos anos 70 para a plateia, que ainda delirou com a pesada "Stealin"' e com o megaclássico "Look at Yourself". No mesmo fôlego, mostraram competência e vigor em mais dois hits, "July Morning" e a sutil e sensível "Lady in Black", para encerrar com outro clássico universal, a maravilhosa e pesada "Easy Livin"'. Segundo a Polícia Militar, quase 2o mil pessoas assistiram ao grupo britânico

Mark Farner, a voz do Grand Funk Railroad, visitou a cidade pela segunda vez e transformou a avenida São João, com menos púboico que o Uriah Heep, em uma grande pista de dança. O repertório curto privilegiou os hits de sua ex-banda e agradou bastante, sobretudo aqueles que não conheciam "aquele tiozinho baixinho que toca muita guitarra" – esses eram a maioria.

Com os seguidos atrasos nos palcos, Farner subiu ao palco depois da 1h30 e mostrou bastante carisma. Coim uma banda entrosadíssima, dominou totalmente o ambiente e atacou sem dó a guitarra em solos furiosos e intrincados, para a alegria dos "guitarreiros". E o público dançou bastante ao som das maravilhosas "Footstomp Music", "Loco-Motion", "Closer to Home" e "We're An American Band".

Mark Farner colocou todo mundo para dançar na avenida São João (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

Mark Farner colocou todo mundo para dançar na avenida São João (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

Quem estava perto do palco pouco ouviu, irritando-se com o som embolado e sem definição. Mais para o fundo, perto do telão, na praça Júlio Mesquita, a coisa melhorava um pouco , mas ainda com deficiências. Com o som baixo da guitarra, as caixas de som do fundo, que falharam várias vezes, só ressaltavam o poderoso baixo da banda de Farner. Frustante para a maioria dos roqueiros. Quem acompanhou os shows do fim da madrugada e do dia de domingo também reclamou da qualidade do som, especialmente no show do Gueto.

Infelizmente, os problemas não se limitaram ao som e ao equipamento deficiente oferecido aos artistas. Números extra-oficiais mostram que houve cinco baleados, dois esfaqueados, vários tumultos e muitos detidos na 10ª Virada Cultural.

Público lotou a avenida São João para ver os veteranos roqueiros (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

Público lotou a avenida São João para ver os veteranos roqueiros (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

Sem a presença da PM, o palco 25 de Março teve empurra-empurra e correria na noite de sábado, segundo reportagem do UOL. À medida que os shows iam acontecendo, tumultos localizados aconteciam e se dispersavam rapidamente. O uso e a  venda de drogas também aconteciam livremente no local. Uma pessoa da organização chegou a anunciar no microfone  que a festa poderia acabar, caso a violência não parasse. O músico Ivo Mozart cancelou o show que faria às 2h no local, alegando falta de segurança.

Também ocorreu arrastão na região entre a rua Boa Vista e a praça da Sé. Por volta da 1h da manhã do domingo (18), o clima era tenso na região, com PMs abordando e revistando grupos de jovens, que eram liberados em seguida. Pela manhã, o 3º Distrito Policial (Santa Ifigênia) estava lotado de policiais militares e suspeitos detidos por crimes como roubo e tráfico de drogas. Policiais da delegacia disseram que era impossível passar um balanço das ocorrências, devido à grande quantidade de casos que haviam sido, e ainda estavam  sendo, registrados.

LEIA MAIS SOBRE OS CASOS DE VIOLÊNCIA NA VIRADA CULTURAL CLICANADO AQUI.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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