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Biografia de Aquiles Priester é um manual de sobrevivência no rock nacional

Combate Rock

10/05/2014 22h00

Marcelo Moreira

Aquiles-Priester-livro

O Polvo vai substituir Mike Portnoy no Dream Theater. Essa era a notícia do dia 48 ahoras após o comunicado oficial informado a saída do baterista norte-americano da banda que fundara em 1985. Fóruns e chats nos Estados Unidos e na Europa discutiam se era ou não uma boa opção para a banda, para tentar substitui o insubstituível.

A notícia era falsa, mas o nome do Polvo continua em alta como um dos "cotados" para entrar no Dream Theater. Ele cansou de desmentir, mas ao mesmo tempo não escondia em e-mais e comunicados em fóruns no Brasil que ficou orgulhoso por ter sido lembrado. Mais tarde, foi convidado pela banda norte-americana a fazer testes durante uma semana, ao lado de outros seis bateristas, em Nova York. Muito bem tratado e reconhecido, acabou preterido por Mike Mangini, o baterista da banda solo do vocalista James LaBrie.

Exímio instrumentista, Priester ostenta com inegável orgulho o vídeo de uma de suas audições para o Dream Theater, mas o teste já ocorreu em um passado distante, em sua mente. Continua na ativa sem datas em agenda para fazer os seus concorridos workshops, além de se dividir entre o Hangar, banda gaúcha onde toca há mais de dez anos, e o seu novo projeto, o Noturnall, ao lado de integrantes descontentes do ainda vivo (mas coem coma) grupo Shaman.

Na estreia do Noturnall nos palcos, em março, no Carioca Clube, em São Paulo, o baterista fartous-e de vender merchandising próprio, como DVDs de videoaulas, baquetas e principalmente o seu livro, a biografia "Aquiles Polvo Priester – De Fã a Ídolo", de 2012, com texto de Circe Brasil. Em mais uma reedição da obra, o músico sul-africano de nascimento, mas de coração metaleiro totalmente brasileiro, deixa um pouco a modéstia de lado e mostra como se tornou o baterista mais admirado do país.

De leitura fácil, embora exagerando na linguagem coloquial e na pretensa falta de estilo, a biografia não tenta amenizar os traços de sua personalidade mais criticados, a obsessão e o perfeccionismo. Narra a infância em Foz do Iguaçu, no Paraná – chegou ao Brasil em 1977, aos seis anos – e os primeiros passos na bateria na adolescência, até o início das longas sessões de estudo a partir dos 21 anos, quando chegava a tocar por 14 horas seguidas diariamente.

O maior mérito do livro, no entanto, é contar com detalhes as agruras e as dificuldades extremas ds músicos brasileiros profissionais iniciantes – e mesmo os veteranos que ainda não atingiram o sucesso. Quem vê hoje Priester detonando a bateria do Hangar e do Noturnall, e fazendo teste para o Dream Theater, aos 42 anos de idade, nem imagina o quanto ele teve de estudar, carregar a bateria nas costas e sofrer com péssimas condições para tocar em pocilgas e, vez por outra, sofrer e se enraivecer com uma série de calotes. Ele mostra como se tornou ídolo da maioria dos apreciadores de heavy metal no Brasil, mas também como teve de ralar, e muito, para obter o reconhecimento que tem hoje.

Corajoso e sem meias palavras, também não hesitou em revelar os problemas internos do Angra, uma das três mais importantes bandas brasileiras de rock da história (as outras são Sepultura e Krisiun, as três que conseguiram uma carreira internacional sólida).

FOTO: ANTONIO ROSSA/DIVULGAÇÃO

FOTO: ANTONIO ROSSA/DIVULGAÇÃO

Substituto do monstro Ricardo Confessori (que hoje voltou ao Angra) e tentando conciliar as agendas de seus vários projetos, Priester ficou na banda dos guitarristas Kiko Loureiro e Raphael Bittencourt de 2000 a 2008 e cita os vários problemas de gerenciamento e de administração do Angra, que culminaram com uma parada de quase três anos e até mesmo brigas com agressões físicas – fato já narrado antes pelo baterista em uma entrevista polêmica à revista Roadie Crew, de São Paulo.

A visão privilegiada de Aquiles Priester e sua percepção aguçada das mazelas e dos problemas que atingem o mundo do rock no Brasil valem a leitura. Rapaz inteligente, não poupa munição contra desafetos, é franco e sincero até demais em alguns momentos, o que dá mais credibilidade à obra. Ninguém até hoje retratou com maior fidelidade os bastidores do meio musical do rock pesado melhor de o Polvo.

Entre os (poucos) livros que tratam do rock brasileiro que não toca nas emissoras de rádio, a obra de Priester é que melhor conseguiu mostrar, com certo sabor e muita informação, como são os bastidores musicais de um escalão intermediário no Brasil – acho improvável que o leitor vá encontrar relatos tão precisos em outro lugar sobre relacionamentos entre músicos, brigas, disputas comerciais, administração caótica dos negócios e situações bastante complicadas na hora de acertar shows e lidar com "promotores" amadores e/ou picaretas ao extremo.

"Consegui certo destaque e prestígio em 20 anos de carreira, mas fiz questão de demonstrar, e espero que tenha conseguido, o quanto foi difícil chegar até aqui e como continua sendo quando as bandas ainda não atingiram certos patamares de popularidade", afirma o baterista. "O lado glamouroso de ter tocando com Angra convive com outro lado de 'ralação' total, de horas e mais horas de estudo diárias, de carregar equipamento nas costas e estar sujeito a tomar 'chapéu' de vez em quando."

O último álbum que gravou com o Hangar é álbum "Infallible", bastante elogiado pela versatilidade. Neste ano, o Noturnall parece ser a sua prioridade, até pelo investimento que a banda realizou para gravar o álbum em Nova York, gravar o DVD no Carioca Club e engatar apresentações pelo Brasil e pelo exterior.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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