Dave Evans, 1º vocalista do AC/DC, anuncia shows no Brasil
Marcelo Moreira
Dave Evans é um cantor australiano bastante comparado ao baterista Pete Best, que tocou nos Beatles até meados de 1962, quando foi substituído por Ringo Starr, graças às restrições do produtor George Martin. vocalista de razoável fama em Sydney no início dos anos 70, teve a infelicidade de um dia atender à porta de sua casa, do nada, um guitarrista baixinho de menos de 18 anos, praticamente intimando-o a ser o vocalista de uma nova banda em formação. Evans não gostou muito da abordagem e não levou o garoto baixinho a sério e nunca ligou para dizer ao menos que não aceitava o posto.
Meses depois, um outro guitarrista baixinho, mas desta vez respeitado músico de Sydney, fez um convite a Evans para cantar em um novo projeto. Sem hesitação, aceitou na hora o convite de um decidido Malcolm Young, então com 20 anos de idade, e começou a ensaiar com os músicos que iniciaram o que viria a ser conhecido em meados de 1974 como AC/DC.
O problema é que no primeiro ensaio o cantor reconheceu o segundo guitarrista, o mesmo menino baixinho que batera a sua porta meses antes convocando-o para um novo projeto. Era o irmão mais novo de Malcolm, Angus. No ato o ressentimento do garoto veio à tona, e isso ajudou a abreviar a passagem de Dave Evans pelo grupo, substituído em fins de 1974 pelo mítico Bon Scott, ex-baterista e vocalista dos Valentiones nson anos 60 e eventual motorista do próprio AC/DC.
A história saborosa está no livro "AC/DC, a Biografia", de Mick Wall, recém-lançada no Brasil pela Globo Livros. E no momento em que a banda anuncia a aposentadoria de Malcolm Young por questões de saúde, no ano do 40º aniversário de fundação do grupo, Dave Evans decide emergir do limbo anunciar shows pelo Brasil no segundo semestre deste ano.
Após a passagem rápida pelo AC/DC, Evans nunca conseguiu engatar uma carreira consistente. Em aparições bissextas a Austrália, gravou alguns singles e poucos álbuns. Com o grupo dos irmãos Young, ainda teve tempo de gravar um single, com as músicas "Can I Sit Next to You, Girl" e "Rockin' in the Parlour", que estão no repertório atual do artista, além de alguns clássicos da ex-banda da era Bon Scott.
A turnê pela América do Sul ocorrerá entre os dias 17 e 28 de setembro. No repertório, não faltarão músicas dos seus bons trabalhos solo, as duas composições que gravou com os australianos, "Can I Sit Next to You, Girl" e "Rockin' in the Parlour", e clássicos da era Bon Scott.
Ainda segundo o livro de Wall, Dave Evans foi o quarto membro a ser oficializado, depois do próprio Malcolm Young, de Colin Burgess (bateria) e Larry van Kriedt (baixo). Angus Young entrou por último. O livro narra os complicados atritos e a disputa de ego entre os músicos, que culminaram em uma briga entre o vocalista e o empresário do AC/DC, que quase acabou com uma excursão arduamente negociada pela Austrália. Logo após sair do AC/DC, tentou a sorte na banda Rabbit, mas não deu certo. O último trabalho lançado pelo cantor é o álbum "Judgement Day" (2008).
Opções de sobra
A história de Evans com o AC/Dc é contada, com diferentes níveis de detalhes e com abordagens totalmente distintas, em três três livros recentemente editados em português. Nenhum traz grandes novidades ou revelações bombásticas, mas contam de maneira honesta e linear a trajetória de uma das bandas mais importantes do rock. E as obras fazem ainda mais sentido após o anúncio da saída – e provável aposentadoria – de Malcolm Young do grupo, por questões de saúde, aos 61 anos
"AC/DC – Rock'n'roll ao Máximo", de Murray Engleheart e Arnaud Durieux (Editora Madras), é o mais abrangente e detalhista, com detalhes precisos sobre a discografia, shows importantes, trocas de integrantes e dados biográficos dos três principais músicos – Angus, Malcolm e o vocalista Bon Scott, morto em 1980, aos 33 anos.
A obra da dupla de jornalistas e escritores é a que conseguiu transmitir as melhores informações a respeito da trágica morte do vocalista, por exemplo, não só mostrando o devastador impacto nos integrantes, mas também a reação de fãs, amigos de outras bandas e da imprensa. E o mais curioso é que o texto consegue captar uma situação pouco conhecida: todos no AC/DC não faziam ideia da importância que a banda tinha atingido, pois ainda se consideravam uma banda australiana em constante batalha pelo sucesso, mesmo com pelo menos três álbuns de sucesso no mundo. A morte de Scott mostrou o quanto eles haviam crescido.
Completamente diferente, e sem muito apuro por informações estatísticas, digamos assim, é o livro "Let There Be Rock – A História do AC/DC" (Companhia Editora Nacional), da jornalista norte-americana Susan Masino. Tem um diferencial: está recheado de relatos e anedotas pessoais da autora, amiga íntima de todos os integrantes.
Susan era uma jornalista insatisfeita de uma rádio de interior dos Estados Unidos quando um amigo pediu para que ela ajudasse uma banda novata estrangeira pela região, em troca de alguns dólares de ajuda de custo. Sem nada para fazer, acabou aceitando aquele trabalho em meados de 1977 e se tornou uma das mais importantes colaboradoras da banda pelos dez anos seguintes, ao mesmo tempo em que mantinha sua carreira em sua cidade e em Chicago.
Escrito em tom de crônica, mistura a biografia da banda com "causos" que presenciou ao trabalhar ou acompanhar a banda, bem como alguns comentários pessoais a respeito de álbuns, shows e mesmo comportamentos dos amigos. É bem interessante pelo tom informal e despretensioso, mostrando que Susan Masino é uma boa contadora de histórias.
O terceiro livro é o mais recente, o já citado "AC/DC – A Biografia" (Editora Globo), que tem a assinatura de Mick Wall, veterano jornalista inglês autor da elogiadíssima biografia "Led Zeppelin" e de também do melhor relato já publicado sobre o Metallica, "Metallica", ambos lançados no Brasil.
Justamente por levar a assinatura de um dos melhores do gênero, esperava-se mais. Como os integrantes do AC/DC concedem pouquíssimas entrevistas, Wall, de 55 anos, baseou-se em entrevistas antigas e em reportagens de arquivo – pesquisa exaustiva, aliás, uma das marcas do jornalista inglês. Entretanto, falta nesta biografia o que sobra em "Led Zeppelin": informações detalhadas, entrevistas reveladoras e um painel mais amplo sobre o processo de criação das obras. Mick Wall fez um trabalho correto e eficiente diante das condições que teve para escrever, mas os outros dois livros contêm elementos mais interessantes que os diferenciam.
Apenas mais uma banda de rock…
Depois que os irmãos brigões se uniram, atraíram já no comecinho de 1974 a atenção de vários músicos iniciantes de Melbourne e Sydney. Já como AC/DC, chamaram Dave Evans nos vocais, mas uma série de bateristas e baixistas que passaram pelo grupo em menos de um ano. No entanto, rapidamente os irmãos Young transformaram um quinteto garageiro em um dos mais importantes da história do rock.
Dave Evans não durou muito, graças a algumas brigas e rusgas com Angus, e foi substituído por então motorista de van que já tinha sentido um gostinho de ser cantor de rock com The Valentines e outras bandas no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Bon Scott era alma que faltava ao rock barulhento e pesado do AC/DC.
Finalmente efetivado no início de 1975, o novo vocalista mostrou carisma, competência e qualidade como letrista. Logo a banda seria a número um na Austrália, embora demorasse mais três anos para consolidar seu nome na Inglaterra e na Europa. Os Estados Unidos só seriam definitivamente conquistados a partir de 1979.
Scott morreu em fevereiro de 1980, mas o que deveria ser o fim da linha se tornou o combustível para que o AC/DC se tornasse um fenômeno mundial já com Brian Johnson. A dor da perda de um amigo e parte vital de uma estrutura gerou uma das obras-primas do rock pesado, "Back in Black". O quinteto subiu de patamar: de gigante passou a ser monstruoso.
Angus e Malcolm sempre trabalharam para isso, mas jamais imaginariam que aquela decisão na acanhada sala de estar da casa dos pais 40 anos atrás pudesse levar ao estrelato de forma tão magistral. O irmão caçula sempre dizia, de forma presunçosa, que o AC/DC seria a maior banda do mundo, Malcolm até ria, mas concordava em parte. O quão longe chegaram era inimaginável.
Somente uma pessoa tinha certeza que iriam atingir o patamar de lendas: George, um dos irmãos mais velhos – era oito filhos, todos nascidos na Escócia, sendo Malcolm e Angus os mais novos. Sete anos mais velho do que Malcolm, George era a referência musical da família e um dos músicos-produtores mais famosos da Austrália no começo dos anos 70. Integrante da banda Easybeats, fez enorme sucesso entre 1964 e 1968 em seu país, até que a boa fase da banda foi acabando aos poucos.
Ao lado do amigo e colega de Easybeats Harry Vanda, formou uma requisitada dupla de produtores de música pop, e foi o grande incentivador da união dos irmãos mais novos. No começo do AC/DC, acompanhou de perto os shows e as primeiras gravações do iniciante e jovem grupo. Sentiu o potencial e acolheu o grupo para burilar as pedradas pesadas e transformar a energia em algo vendável. Foi produtor, empresário e também músico do grupo, tocando vários instrumentos em estúdio.
"Nunca tive dúvidas de que seriam grandes. Mas quando os vi nos palcos em 1976 e 1977, percebi que seriam gigantes. Não havia nada igual ou levemente parecido no mundo", afirmou George Young no livro "AC/DC – Rock'n'roll ao Máximo".
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