Nervosa mostra fôlego e competência no palco e no estúdio
Marcelo Moreira
Três meninas bonitas, que fazem um esforço danado para parecerem más. enchem-se de tatuagens roqueiras e "from hell" e resolvem fazer um barulho dos diabos, deixando estupefatos – e irritados – vários meninos que posam de extremos e violentos, mas que são incapazes de produzir a mesma violência sonora. E eis que uma das meninas más, um verdadeiro monstrinho de eficiência e competência na bateria thrash metal, começa a descrever sem cerimônias uma receita de um estrogonofe de carne com noz moscada, enquanto a mais irada resolve tirar sarro de um jornalista como se estivesse na sala de aula na sexta série.
O ambiente que envolve o trio feminino de thrash metal Nervosa, a sensação do metal nacional de 2013, é de astral muito alto e espontâneo. Nem parece que as meninas bonitas fazem um som brutal e extremo, recheado de violência lírica e sonora, bem ao gosto do demônio. E o clima só tem a melhorar, com o lançamento de "Victim of Yourself", o primeiro álbum, já com o suporte de duas gravadoras importantes, a Napalm Records, da Áustria, e a Die Hard Records, no Brasil.
Banda emergente, ex-independente, a Nervosa viu as coisas ocorrerem, muito rápido em menos de um ano. "Victim of Yourself" é poderoso e furioso, com produção correta de Heros Trench e Marcello Pompeu, ambos da banda Korzus e proprietários do estúdio Mr. Som, além da preciosa ajuda na produção do som de bateria de Amílcar Christófaro, baterista do ótimo Torture Squad. O resultado é de alta qualidade.
O problema principal das bandas underground de thrash metal é conseguir levar ao estúdio a fúria demolidora dos palcos. As meninas do Nervosa conseguiram ultrapassar essa barreira com louvor, pois os ingredientes estão todos lá: baixo gordo na cara, em velocidade alucinante, bateria marcante e pesada e guitarras cortantes e certeiras. É porrada do começo ao fim, começando com a ótima "Twisted Values", passando pela fúria insana de "Justice Be Done" e "Wake Up and Fight" até chegar na desoladora "Nasty Injury", no melhor estilo alemão de thrash reto e sem concessões.
"Victim of Yourself" não dá descanso e a pancadaria segue inclemente com as ótimas "Envious" e "Morbid Courage", desaguando na boa sequência mas técnica de "Death!", "Into the Moshpit", "Deep Misery" e a faixa-título, para encerrar na hardcore "Urânio em Nós", em português e mais antiga.
Na audição para a imprensa, as meninas não conseguiram conter a empolgação. No dia seguinte seria a o show de lançamento do CD, com as altas expectativas que o álbum criou. "A gente é 'nervosa' em qualquer situação, e amanhã (dia do show) seremos mais do que nunca. Só nós sabemos o quanto ralamos e como tivemos que superar os problemas para gravar e lançar nosso CD. Nada vem por acaso", diz Prika Amaral, a guitarrista loura de rosto delicado e mão pesada.
A inquieta e furiosa Fernanda Lira, baixista e vocalista, com seu rosto moreno de feições indígenas, desdenha da desconfiança que muitos fãs de metal depositam em bandas femininas de metal extremo. "Angela Gossow, ex-vocal do Arch Enemy, quebrou qualquer suposta barreira que pudesse existir. Tivemos dificuldades que todo mundo teve, e fomos apoiadas por gente que realmente gostou do nosso trabalho, sejam os rostos bonitos ou feios. A Napalm Records, com o nome que tem na Europa, não tem tempo nem condições para ficar lançando CD de bandas só porque as meninas supostamente são bonitas. "
No palco do Hangar 110, na zona norte de São Paulo, a Nervosa mostrou competência e energia, mesmo com alguns probleminhas de som. Coisa pouca para uma banda desenvolta e entrosada, que é consegue ser violenta no palco sem dispersões. Um som porrada, reto e direto, sem concessões, justificando os elogios generalizados. Uma banda nova, mas com bastante experiência, a julgar pela segurança com que dominaram o ambiente.
Já quem aposte que a Nervosa poderá se tornar aquilo que o Torture Squad quase conseguiu depois de vencer a batalha de bandas do Wacken Open Air. Ainda não é para tanto, mas as perspectiva são excelentes.
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