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Há 20 anos o Pink Floyd começava a morrer sem alarde

Combate Rock

03/04/2014 17h00

Marcelo Moreira

Capa de

Capa de "The Division Bell"

Quando os Sex Pistols surgiram, entre 1975 e 1976, direcionou suas baterias para os dinossauros do rock em sua fúria punk, disseminando as abomináveis camisetas com a inscrição "I Hate Pink Floyd" (Eu Odeio o Pink Floyd). O vocalista Johnny Rotten odiava os fãs da banda progressiva porque adoravam dizer que ela era "única" em todos os sentidos, e viviam repetindo isso. E não que eles tinham razão? O Pink Floyd foi único até mesmo na hora de sumir: acabou em 1995, sem alarde, e ninguém percebeu – na verdade, seus integrantes fizeram de forma a ninguém perceber.

Os fanáticos dizem que a banda acabou em 1983, com o lançamento de "The Final Cut" e a subsequente briga entre o guitarrista David Gilmour e o baixista Roger Waters, que foi parar nos tribunais. Gilmour e o baterista Nick Mason ganharam o direito de usar o nome da banda e voltaram em 1987 com o mediano álbum "A Momentary Lapse of Reason".

O verdadeiro fim mesmo ocorreu ao final da turnê do álbum "The Division Bell", lançado em 1994. Só Gilmour sabia o que iria acontecer. Milionário, colocou a banda recheada de músicos de apoio na estrada para dar um enterro digno a um mito do rock, mas sem que ninguém percebesse. Desde então, só silêncio, tanto no estúdio como nos palcos. O Live 8, em 2005, não conta, pois foi uma espécie de Live Aid onde a formação clássica só tocou quatro músicas – em 2010 os três remanescentes tocaram duas músicas em Londres, em um shows de Waters.

O guitarrista começou a dar várias pistas de que a morte tinha ocorrido em pelo menos cinco entrevistas dadas entre 1996 e 2002. Foi somente em 2003 que, em outra entrevista, para uma revista inglesa, que admitiu que o Pink Floyd "provavelmente não voltaria mais à atividade". Ele foi mais incisivo em 2005, meses depois do Live 8, dizendo que o Pink Floyd não existia mais, e não voltaria nem com a formação clássica e nem com qualquer outra.

A formação que gravou os dois álbuns após a saída de Roger Waters, em 1984: Nick Mason (esq.), David Gimour (centro) e Rick Wright (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A formação que gravou os dois álbuns após a saída de Roger Waters, em 1984: Nick Mason (esq.), David Gimour (centro) e Rick Wright (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"The Division Bell" manteve a qualidade do mediano álbum anterior. Gilnour contou com alguns colaboradores nas composições, entre os quais a jornalista Polly Samson, sua namorada na época. As músicas refletiam a forma como era compostas pelo guitarrista: retalhos diferentes de canções que eram "amarrados" e "conectados". Até que deu certo, apesar de uma certa falta de inspiração – tudo bem, "High Hopes" é uma excelente canção, provavelmente a melhor composta após a saída de Roger Waters.

Com produção esmerada, "The Division Bell" em nada surpreende, mais se assemelhando a "On a Island", o terceiro disco solo de Gilmour, lançado em 2006. Há muitos climas etéreos, muitos arranjos soturnos e soluções que se mostram insatisfatórias em algumas longas suítes progressivas. Existem boas ideias, mas a maioria parece "desconectada" do todo.

A fórmula de montagem do álbum seguiu aquela utilizada em "A Momentary Lapse of Reason": um single mais pop e uma música épica para carregarem o disco nas costas. Se em 1987 a música pop foi "Learning to Fly", o épico ficou por conta de "On the Turning Away". Sete anos depois, o mesmo esquema, com a pop "Take Me Back" e a épica "High Hopes". "Wearing The Inside Out" foi a primeira a contar com os vocais do tecladista Richard Wright desde "Dark Side Of The Moon", em 1973. "A Great Day For Freedom" é outro bom momento, assim como "Marooned" e "Came Back to Life".

A turnê que seguiu foi gigantesca, incluindo um concerto em Veneza, na Itália, que ficou famoso. Rendeu ainda outro disco ao vivo, "Pulse", com sua capa no CD com uma luzinha vermelha piscando, como se fosse o alerta para a iminente morte do dinossauro progressivo. Gilmour, Nick Mason (bateria) e Rick Wright (teclados, morto em 2008 aos 65 anos) recolheram-se a suas mansões e casas de campo e deixaram o Floyd sumir no ar sem que ninguém percebesse. Foi melhor assim.

Montagem com fotos do palco gigante das turnês entre 1988 e 1995 (FOTO: DIVULGAÇÃO/MONTAGEM)

Montagem com fotos do palco gigante das turnês entre 1988 e 1995 (FOTO: DIVULGAÇÃO/MONTAGEM)

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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