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Previsível, Guns N'Roses fez o esperado em SP como cover de si mesmo

Combate Rock

31/03/2014 12h00

Marcelo Moreira

O bom de observar certos artistas internacionais veteranos em ação no Brasil é que alguns deles jamais vão decepcionar, para o bem e para o mal. Axl Rose cumpriu todas as expectativas na última sexta-feira, na Arena Anhembi, em São Paulo: atraso de uma hora e meia para subir ao palco e apresentação do Guns N"Roses digna de uma banda cover e, no caso, de si mesma, como o combate Rock vem alertando desde o começo de março.

Se havia ainda alguma esperança de melhora nesta turnê, já que o Guns atual ao menos demonstrou esforço para se sair bem no Rio de Janeiro e em Brasília, Rose tratou de decepcionar os fãs com um show burocrático e previsível, ainda que parte do público tenha se deliciado somente pelo fato de o cantor ter subido ao palco – grupo que faz parte dos apreciadores de música que se contentam com nada ou muito pouco.

Mais do que qualidade musical ou instrumental, o problema do Guns N'Roses atual é o mesmo que ficou patente no Rock in Rio 2011: postura. Em nenhum momento a atual encarnação, somente com Rose como integrante original, mostrou empatia com o repertório energético e primoroso da banda. Bons músicos, fizeram como se esperava o papel de coadjuvantes do vocalista e patrão, e nada mais do que isso. Poderia funcionar se no crachá de cada um estivesse escrito "banda solo ou de apoio de Axl Rose". Só que a realidade quis que todo o peso do nome Guns N'Roses pairasse sobre eles, o que comprometeu tudo: nome, banda, apresentação e mesmo o futuro.

O Guns N'Roses 2014 não empolga. Falta energia e, por mais absurdo que seja, falta carisma. Os anos de recolhimento após 1995 fizeram mal a Axl Rose como performer. O traquejo e a espontaneidade sumiram. Ele se esforça para encontrar o seu lugar no palco, mas não há mais referências ali. A banda encorpada, sólida, com desejo de estraçalhar, foi se esfarelando aos poucos, e deixaram o ator principal só no palco. Os substitutos fazem o que podem, ajudam a manter a máquina em movimento, mas com entrosamento mecânico e sem alma.

Axl Rose (esq.) não 'decepcionou' em São Paulo: shows morno pouco empolgante (FOTO; REINALDO CANATO/UOL)

Axl Rose (esq.) não 'decepcionou' em São Paulo: shows morno pouco empolgante (FOTO; REINALDO CANATO/UOL)

Os ecos do passado são cruéis para o atual Guns N'Roses. "Paradise City" e "You Could Be Mine" soaram caricatas em São Paulo, em versões mais rápidas e menos coesas. A coisa ficou pior em baladas como "Patience", onde a interpretação sentimental e suave dos anos 90 deu lugar a uma enfadonha balada desprovida de seu charme original. "Sweet Child O'Mine" é poderosa e jamais deixará de ser, e é a única boia de salvação de Rose, que conseguiu ao menos mostrar que ainda tem alguma coisa da antiga chama. Estava ali o único resquício de alma do Guns N'Roses.

Só que a banda cover voltou a dominar os trabalhos, já que a burocracia é paga para manter tudo funcionando, bem ou mal, ou ainda que aparentemente funcionando. E entram em cena as constrangedoras e desnecessárias versões de alguns clássicos rock – como se a banda com o bom número de sucessos e grandes canções que possui precisasse disso.

"Holidays In The Sun", dos Sex Pistols, foi cantada pelo baixista Tommy Stinson, o que já mostra claramente a sua "importância" para repertório. As versões instrumentais de "Babe, I'm Gonna Leave You", do Led Zeppelin, e "You Can't Always Get What You Want", dos Rolling Stones, surgiram claramente para encher linguiça, e o público sacou isso imediatamente demonstrando seu desdém.

O assassinato de "The Seeker", do The Who, para sorte de todos – músicos e público -, passou batido, pois claramente faltavam referências históricas aos jovens que ansiavam por um show do Guns. A execução desleixada apenas confirmou que a banda já estava nos acréscimos, cumprindo tabela. Pelo menos ninguém, pode dizer que não foi avisado:  Axl e sua banda vieram e cumpriram exatamente aquilo que se esperava deles, ou seja, bem pouco para quem carrega uma história preciosa.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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