Previsível, Guns N'Roses fez o esperado em SP como cover de si mesmo
Marcelo Moreira
O bom de observar certos artistas internacionais veteranos em ação no Brasil é que alguns deles jamais vão decepcionar, para o bem e para o mal. Axl Rose cumpriu todas as expectativas na última sexta-feira, na Arena Anhembi, em São Paulo: atraso de uma hora e meia para subir ao palco e apresentação do Guns N"Roses digna de uma banda cover e, no caso, de si mesma, como o combate Rock vem alertando desde o começo de março.
Se havia ainda alguma esperança de melhora nesta turnê, já que o Guns atual ao menos demonstrou esforço para se sair bem no Rio de Janeiro e em Brasília, Rose tratou de decepcionar os fãs com um show burocrático e previsível, ainda que parte do público tenha se deliciado somente pelo fato de o cantor ter subido ao palco – grupo que faz parte dos apreciadores de música que se contentam com nada ou muito pouco.
Mais do que qualidade musical ou instrumental, o problema do Guns N'Roses atual é o mesmo que ficou patente no Rock in Rio 2011: postura. Em nenhum momento a atual encarnação, somente com Rose como integrante original, mostrou empatia com o repertório energético e primoroso da banda. Bons músicos, fizeram como se esperava o papel de coadjuvantes do vocalista e patrão, e nada mais do que isso. Poderia funcionar se no crachá de cada um estivesse escrito "banda solo ou de apoio de Axl Rose". Só que a realidade quis que todo o peso do nome Guns N'Roses pairasse sobre eles, o que comprometeu tudo: nome, banda, apresentação e mesmo o futuro.
O Guns N'Roses 2014 não empolga. Falta energia e, por mais absurdo que seja, falta carisma. Os anos de recolhimento após 1995 fizeram mal a Axl Rose como performer. O traquejo e a espontaneidade sumiram. Ele se esforça para encontrar o seu lugar no palco, mas não há mais referências ali. A banda encorpada, sólida, com desejo de estraçalhar, foi se esfarelando aos poucos, e deixaram o ator principal só no palco. Os substitutos fazem o que podem, ajudam a manter a máquina em movimento, mas com entrosamento mecânico e sem alma.
Os ecos do passado são cruéis para o atual Guns N'Roses. "Paradise City" e "You Could Be Mine" soaram caricatas em São Paulo, em versões mais rápidas e menos coesas. A coisa ficou pior em baladas como "Patience", onde a interpretação sentimental e suave dos anos 90 deu lugar a uma enfadonha balada desprovida de seu charme original. "Sweet Child O'Mine" é poderosa e jamais deixará de ser, e é a única boia de salvação de Rose, que conseguiu ao menos mostrar que ainda tem alguma coisa da antiga chama. Estava ali o único resquício de alma do Guns N'Roses.
Só que a banda cover voltou a dominar os trabalhos, já que a burocracia é paga para manter tudo funcionando, bem ou mal, ou ainda que aparentemente funcionando. E entram em cena as constrangedoras e desnecessárias versões de alguns clássicos rock – como se a banda com o bom número de sucessos e grandes canções que possui precisasse disso.
"Holidays In The Sun", dos Sex Pistols, foi cantada pelo baixista Tommy Stinson, o que já mostra claramente a sua "importância" para repertório. As versões instrumentais de "Babe, I'm Gonna Leave You", do Led Zeppelin, e "You Can't Always Get What You Want", dos Rolling Stones, surgiram claramente para encher linguiça, e o público sacou isso imediatamente demonstrando seu desdém.
O assassinato de "The Seeker", do The Who, para sorte de todos – músicos e público -, passou batido, pois claramente faltavam referências históricas aos jovens que ansiavam por um show do Guns. A execução desleixada apenas confirmou que a banda já estava nos acréscimos, cumprindo tabela. Pelo menos ninguém, pode dizer que não foi avisado: Axl e sua banda vieram e cumpriram exatamente aquilo que se esperava deles, ou seja, bem pouco para quem carrega uma história preciosa.
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