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Raven abrindo para o Metallica, uma roubada

Combate Rock

29/03/2014 07h42

Marcos Bragatto – site Rock em Geral

John Gallagher, Joe Hasselvander e Mark Gallagher se esforçam em vão na abertura para o Metallica

John Gallagher, Joe Hasselvander e Mark Gallagher se esforçam em vão na abertura para o Metallica (foto: MRossi/ T4F/DIVULGAÇÃO)

A ideia era ótima, mas positivamente, não funcionou. Trinta e um ano depois de o Metallica fazer a primeira turnê, abrindo para o Raven, nos Estados Unidos, agora seria o Raven a fazer a abertura para o Metallica, no último sábado, no Morumbi, diante de um público estimado em 65 mil pessoas. Ocorre que, quando o trio britânico subiu no palco o que se viu foi uma banda esforçada tocando com um equipamento mal equalizado e que não funcionava na maior parte do tempo. Não era possível sequer ouvir o vocalista e baixista John Gallagher, que atuava com um daqueles microfones presos na cabeça. Para piorar, o retorno do som, para os músicos, parecia funcionar, de modo que eles se apresentavam como se estivesse tudo certo. Não fosse a reconhecida boa vontade do fã de heavy metal com o gênero o Raven teria saído do Morumbi sob uma vaia monumental.

Ainda mais que, dado a heterogeneidade de um abanda gigante na qual o Metallica se transformou, boa parte do público não sabia quem era o trio que se esforçava inutilmente no meio daquele palcão. E, a bem da verdade, saíram sem saber. A música de abertura, a boa "Take Control", só foi reconhecida quando o guitarrista Mark Gallagher cantou, junto com John, o refrão/título, já que, do microfone do baixista, simplesmente não saía som. Na maior parte do tempo o som que chegava ao público vinha diretamente da bateria de Joe Hasselvander e dos amplificadores, como se o sistema do palco não estivesse interligado ao PA. No final de "Take Control", os irmãos Gallagher (não confundir com aqueles outros) ergueram os instrumentos numa coreografia à Judas Priest que fez o público vibrar.

É tido como normal o som ter volume e potência ajustados em uma condição inferior para bandas de abertura, como aconteceu, por exemplo, com o Sepultura, na abertura para os dois shows do Metallica, no mesmo Morumbi, em janeiro de 2010. Mas o que se viu no sábado foi, na pior das hipóteses, uma verdadeira sabotagem sonora, ou, na melhor, uma incapacidade da equipe do trio britânico de lidar com as circunstâncias de banda de abertura em um espetáculo de grandes proporções. Por isso, músicas com refrão colante como "On And On" e "Break The Chains", que teve uma boa coreografia de Mark e John, em vez de ganhar o público, passaram sem ser percebidas.

É preciso registrar que, enquanto o Metallica de 1983 para cá teve uma trajetória de sucesso planetário e se tornou uma das grandes bandas de todos os tempos, o Raven traçou caminho oposto, ainda mais depois do grave acidente que deixou Mark Gallagher durante um bom tempo sobre uma cadeira de rodas . Diferentemente dos integrantes do Metallica, em forma e com disposição para tocar longas turnês em shows de duas, duas horas e meia, os rapazes do Raven estão pesados e com uns quilinhos a mais, tentando reviver um sonho que, na verdade, nunca se realizou. Por isso, no Morumbi lotado, se tudo funcionasse certinho o show já seria por si só anacrônico. Com o colapso do sistema de som, nem isso foi.

O trio, contudo, se esforçou. Além dos hits que marcaram época, em cerca de 40 minutos eles citaram ao menos dois riffs do Black Sabbath – "Symptom Of The Universe" e "War Pigs" -, "destruíram" instrumentos, usaram voz em falsete e chamaram a participação do público, que – repita-se – com a contumaz boa vontade ergueu os braços e aplaudiu na maior parte do tempo. John agradeceu ao Metallica, assim como James Hetfield, antes do encerramento do show principal, também rasgou seda com os caras do Raven. Pena que as duas bandas não fizeram toda a turnê, foi só esse show de São Paulo, e que, no horário do show do Raven, Hetfield e sua turma estavam com entrevistas agendadas com a imprensa brasileira. Foi ou não foi uma roubada?

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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