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O excelente disco desprezado do Deep Purple

Maurício Gaia

27/02/2014 12h00

Mauricio Gaia

Corria o ano de 1974 e Deep Purple era uma das bandas mais populares do mundo. Mesmo as saídas de Ian Gillan e Roger Glover, no ano anterior, não mudaram o status da banda e eles eram presenças garantidas em shows para grandes multidões, como o California Jam, onde 400 mil pessoas viram um irritado Ritchie Blackmore espatifar sua guitarra contra uma câmera de filmagem e explodir seu amplificador.

A irritação de Blackmore tinha uma origem: ele estava insatisfeito com as mudanças que ocorriam no som do Deep Purple – as entradas de Glenn Hughes e David Coverdale deram um acento funky que não o agradavam. Na verdade, existia uma alteração no comando da banda – Coverdale, à época com 21 anos e Hughes, quase um ano mais novo, estavam dando ao Purple este novo direcionamento. Jon Lord, com uma dose de cinismo e outro tanto de bom humor, chegou a dizer que Hughes era boa-praça, mas acreditava ser uma espécie de "Stevie Wonder branco". Em 1975, Blackmore decide abandonar a banda que havia fundado com Jon Lord e Ian Paice e onde construiu riffs que marcaram a história do rock'n'roll.

Neste momento, a banda decidiu recrutar o jovem Tommy Bolin, guitarrista americano, da mesma idade que Coverdale e Glenn Hughes. Hughes conta no documentário Phoenix Rising que, ao ver Bolin chegando para o teste com cabelo pintado, ficou imediatamente convencido que este seria o substituto ideal para a vaga de Blackmore. Na verdade, havia outra razão: Tommy Bolin havia participado da gravação do ótimo álbum Spectrum, do baterista de jazz Billy Cobham e todos os membros da Deep Purple já conheciam este trabalho e admiravam o talento do jovem guitarrista.

Capa de Come Taste The Band (REPRODUÇÃO)

Capa de Come Taste The Band (REPRODUÇÃO)

Definida formação do Mark IV, a banda entrou em estúdio e gravou aquele que, até hoje, é um dos discos menos ouvidos do Deep Purple: Come Taste The Band. Com a entrada de Bolin, o som da banda ficou mais suingado ainda, flertando em alguns momentos com a nascente cena disco. Músicas como "Getting Tighter" e "I Need Love", embora pesadas, cabem perfeitamente em pistas de dança. Cada vez mais ausentes do núcleo decisório da banda, os veteranos Jon Lord e Ian Paice são co-autores em somente duas faixas: "Comin' Home" (Coverdale, Bolin e Paice) e "This Time Around" (Hughes e Lord).

Embora "Come Taste The Band" tenha tido uma recepção morna (alcançou 19º lugar na parada britânica e 43º nos Estados Unidos), o resultado é excepcional e contém pelo menos um clássico no repertório da banda: o medley "This Time Around/Owed to G".

A turnê de lançamento do disco foi conturbada, devido a diversos problemas envolvendo excessos de drogas e uma conturbada passagem pela Indonésia, onde um roadie da banda foi morto no hotel e até os pneus do avião em que era utilizado para viagens foram retirados – foram devidamente reinstalados após o pagamento de uma "taxa" às autoridades locais. Estes problemas acabaram culminando com a separação da banda, no ano de 1976. Meses após, Tommy Bolin morre, em decorrência de overdose e o Deep Purple somente retoma suas atividades em 1984, com a reunião de sua formação clássica, a Mark II, com Ritchie Blackmore, Jon Lord, Ian Paice, Ian Gillan e Roger Glover.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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