Roger Waters homenageia o pai e vira cidadão de Anzio

Marcelo Moreira

Um repórter chega e pergunta, com um forte sotaque romano: "E então, Mr. Waters, é o verdadeiro fim do Pink Floyd para o senhor?" Incrédulo, o baixista Roger Waters ainda segurava uma medalha de honra ao mérito enquanto tentava elaborar alguma resposta que não fosse um xingamento. "O Pink Floyd já não existe há muito tempo", disparou emburrado, antes de se virar para ouvir alguma coisa do prefeito da cidade italiana de Anzio.

Waters esteve nesta semana na cidadezinha para receber uma homenagem em nome do pai, Eric Fletcher Waters, soldado inglês de infantaria que morreu no desembarque na praia italiana em meados de 1944, poucos meses após o nascimento do filho. A repórter provavelmente se referia ao álbum do Floyd chamado de "The Final Cut", o último que contou com Waters, que assinou todas as músicas e que praticamente provocou a ruptura com os ex-amigos David Gilmour (guitarra e vocais) e Nick Mason (bateria), que seguiram adiante com a banda por mais 12 anos, mesmo tendo de encarar uma batalha judicial pelo nome com o baixista.

Roger Waters recebe uma placa e o título de cidadão de Anzio, na Itália (FOTO: GETTY IMAGES)

"The Final Cut", de 1983, é um dos mais tristes álbuns já compostos no rock. É de ótima qualidade, mas está longe de ser uma obra-prima, mas ainda hoje é lembrado por muitos fãs da banda e de música em geral. Contém pelo menos um clássico, "Not Now John", e duas das mais depressivas músicas pop já compostas, "The Fletcher Memorial Home" e "Southampton Dock". Gilmour não toca em todas as faixas, que contou com diversos convidados – muitos deles que integrariam a banda solo de Waters, no ano seguinte, ao lado do guitarrista Eric Clapton. Foi o caso do saxofonista Raphael Ravenscroft e do guitarrista Andy Fairweather-Low.

O baixista não fala sobre o assunto, mas músicos que trabalharam com ele no álbum atestam que finalmente Waters teria expiado seus traumas de crescer sem pai ao compor, gravar e cantar todas as faixas de "The Final Cut" – que pode ser considerado seu primeiro álbum solo. Na contracapa, está uma dedicatória da obra a "Eric Fletcher Waters (1901-1944)".