The Doors, uma banda que não ‘envelheceu bem’
Marcelo Moreira
A morte do bom tecladista Ray Manzarek, o grande mentor da banda The Doors, em maio passado jogou uma luz sobre o seu trabalho e sobre a sua própria carreira com o grupo que se tornou muito cult a partir dos anos 60, em uma idolatria que é inversamente proporcional à qualidade de suas músicas e mesmo a sua fama na comparação com outros grande nomes do rock.
Assim como outros nomes da história musical, The Doors sempre foi uma banda superestimada – bastante superestimada, aliás. Surgida em 1966 em meio ao início do psicodelismo norte-americano, teve uma uma boa estreia em LP no ano seguinte, para depois se acomodar em uma zona de conforto e viver mais das polêmicas de seu vocalista e letrista, Jim Morrison, morto em 1971.
O quarteto não era uma banda ruim, pelo contrário. Teve bons momentos entre 1967 e 1969, mas infelizmente envelheceu mal. Suas músicas hoje soam datadas, no mau sentido, ao contrário dos contemporâneos do Creedence Clearwater Revival, cujas músicas, igualmente datadas, remetem a um momento mais auspicioso da música norte-americana.
Enquanto o Creedence apontava para o futuro, para uma mescla de música regional, folk e rock rural, os Doors não conseguiram se livrar de um certo ranço hippie/psicodélico, reforçado pelo comportamento de Morrison e por algumas de suas letras apenas razoáveis e, em certa medida, pseudo-intelectuais e pseudo-sofisticadas. Não é de se admirar que o maior sucesso da banda, "Light My Fire", tenha a maior parte da letra composta pelo guitarrista Robbie Krieger.
O californiano foi uma das boas atrações surgidas na segunda metade da década de 60, mas esteve longe de ser a melhor do período ou mesmo de seu país. Ok, a concorrência era de peso, com Creedence, Buffalo Springfield, The Byrds, Jefferson Airplane, Grateful Dead, entre outras bandas. Todas eram bem melhores do que Doors. Entretanto, o diferencial do quarteto californiano era o carisma de seu cantor, que se tornou um ícone da cultura ocidental da segunda metade do século XX.
Foto: DIVULGAÇÃO
Jim Morrison era um cantor mediano, para ser bem legalzinho. Era fraco, mas teve o grande mérito de aprender na marra na estrada. Nunca foi um aficionado por rock, o que teve seu lado bom e o seu lado ruim. Não curtia muito ser o rockstar que achava que era e que se esforçava para encarnar.
Aspirante a escritor e poeta, era inteligente o suficiente para manipular a faminta imprensa norte-americana de entretenimento e inteligente o suficiente para criar uma "persona" envolta em uma aura mística em torno de suas origens e supostas experiências pessoais.
Carismático e charmoso, adotou o comportamento decadente e excessivo de alguns de seus ídolos, como o poeta francês Arthur Rimbaud, e o de expoentes importantes da literatura alternativa/marginal, como Jack Kerouac (autor do clássico "On The Road") e William S. Burroughs.
Conseguiu levar essa quantidade de influências para o palco e se transformou no astro de rock atormentado e errático, com um comportamento extremo de roqueiro bêbado e eventualmente drogado ao mesmo tempo em que se achava um líder espiritual e, de certa messiânico, disposto a quebrar regras e a encarnar um briga contra o "sistema".
Infelizmente o momento mágico durou pouco e o combustível dos Doors foi acabando. As boas ideias foram rareando, ao mesmo tempo em que o comportamento insano de Morrison no palco começou a causar problemas para o grupo.
Enquanto isso, os ingleses, para variar, atropelavam todo mundo, com a criatividade em alta de bandas como Rolling Stones, The Who Pink Floyd, Cream, Pink Floyd, um pouco mais tarde, Led Zeppelin e Derek and the Dominos. Em comum, todas essas bandas abandonaram muito rápido qualquer influência da psicodelia e da cultura hippie e seguiram em frente.
Os Doors, aparentemente, perderam o bonde e assistiram, de forma incrédula, o festival de Woodstock, em 1969, anunciar a mudança dos tempos.
O grupo tentou reagir com boas ideias, como as boas músicas "Riders on the Storm" e "LA. Woman", bem construídas e flertando, de certa forma, com o rock progressivo, mas a fase final de Morrison com os Doors é mais lembrada pela veia pop de "Touch Me" e "Hello I Love You", que tiveram bom desempenho nas paradas de sucesso e nas emissoras de rádio, mas que não passam de canções pop medíocres e comuns.
Os teclados de Manzarek criaram sem dúvida um estilo imediatamente reconhecível, com seus fraseados elegantes e uma linha de baixo simples, mas acabaram colando na banda um rótulo de "sessentista" na pior acepção do termo – teclados aliás copiando largamente mundo afora, em especial pelos produtores e arranjadores de Roberto Carlos na época. A estagnação criativa após o álbum "Waiting Fort the Sun" (de 1968, o quarto, já bem inferior aos anteriores) pode ser uma das explicações pela "datação" da música do quarteto.
Embora Robbie Krieger seja um guitarrista subestimado, e Ray Manzarek seja bastante citado, ao lado de Jon Lord (Deep Purple), como uma inspiração e influência para vários músicos dos anos 70, 80 e 90, a banda patinou em certo momento na virada dos anos 60 para os anos 70 e acabou superada, de longe, por muita gente.
A julgar pelo cartaz que sempre ostentou desde o final dos ano 70, fica difícil encontrar argumentos que sustentem tamanha devoção (e ovação). The Doors é mais uma banda superestimada, cuja fama "alternativa" e "misteriosa", aliada ao imenso carisma de um cantor apenas mediano, superam em muito a verdadeira qualidade musical – uma banda de razoável para boa, mas nada mais do que isso.
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