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Deixando os brasileiros na mão, Allman Brothers abandonam os palcos

Combate Rock

29/01/2014 12h06

Marcelo Moreira

Todo roqueiro no Brasil sempre sonha com os gigantes do rock que nunca pisaram aqui para shows, como Pink Floyd e The Who. Da primeira banda pudemos ver várias vezes o baixista e vocalista Roger Waters, em carreira solo. Da segunda, ainda podemos esperar que passem por aqui na derradeira turnê de 2015. E há ainda os que querem ver de novo o Van Halen, que só fez dois shows no Brasil em 1983. Quase ninguém cita outro gigante que nunca sequer ameaçou vri à América do Sul: o Allman Brothers.

A gangue sulista anunciou nesta semana que vai parar de fazer shows, sem especificar se encerra a carreira (pela segunda vez) ou continua gravando apenas álbuns de estúdio. Essa decisão pode explicar, de certa forma, o anúncio no começo de janeiro de que Warren Haynes e Derek Trucks deixarão a Allman Brothers Band no final de 2014 para se dedicarem a seus projetos. Amigos de longa data do líder Gregg Allman, não conseguiram dizer não quando reconvocados para ajudar nas turnês nos anos 2000.

Haynes entrou na banda em 1989, quase coincidindo com o retorno aos palcos após alguns anos desativada. Engatou uma carreira solo em 1992, para logo em seguida criar o Gov't Mule ao lado do baixista do Allman, Allen Woody, os dois desgostosos por conta da falta de espaço na banda. A partir de 1994, o Gov't Mule virou prioridade dos dois quando deu certo e passaram alguns anos afastado do grupo. Woody morreu em 2000, aos 44 anos de idade, e Haynes tocou esporadicamente com o Allman Brothers até ser reincorporado novamente em 2003, equilibrando-se em sua carreira solo e com o Gov't Mule.

Allman Brothers com formação atual, em foto do ano passado (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Allman Brothers com formação atual, em foto do ano passado (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Menino prodígio da guitarra blues dos anos 90, ao lado de Kenny Wayne Shepherd, Jonny Lang e Nathan Cavaleri, Derek Trucks, sobrinho de Butch Trucks, percussionista do Allman Brothers nos anos 70, conseguiu bastante destaque na carreira solo e se tornou um arroz de festa, tocando em vários projetos e nos CDs de vários amigos. Ajudando o amigo Gregg Allman ao vivo, tocava regularmente com a banda do mentor desde 1999. Casado com a também guitarrista de blues e country Susan Tedeschi, montou há cinco anos com a esposa a Tedeschi Trucks Band.

Nenhum empresário brasileiro do ramo de entretenimento consegue explicar a falta de shows do Allman Brothers no Brasil. Já se alegou que a banda seria cara, por ter muitos integrantes. Seria mais cara do que Iron Maiden? Será que não conseguiria lotar duas ou três noites em uma casa grande como o Credicard Hall ou Espaço das Américas, em São Paulo? Outros dizem que o líder Gregg Allman decidiu não mais sair dos Estados Unidos, tendo inclusive reduzido drasticamente as apresentações na Europa. Ninguém confirma tal informação nos Estados Unidos.

Existe sim público para a banda no Brasil. Faltou visão dos empresários de escutar e pesquisar o mercado para saber de que forma poderia ser viabilizada a vinda da banda. Um ex-produtor de shows disse em 2011 que esse tipo de banda não tem público, citando os supostos fracassos de público do Gov't Mule e Lynyrd Skynyrd no Brasil – errando totalmente, demonstrando desinformação.

O Gov't Mule veio ao Brasil em 1996 para participar do Nescafé Blues Festival quando era totalmente desconhecido por aqui, apesar de ter sua apresentação com lotação esgotada em São Paulo; o Lynyrd Skynyrd estreou em palcos brasileiros no SWU Festival de 2011, no interior de São Paulo, e foi considerado uma das três melhores atrações e sendo responsável pela maior parte do público no horário em que tocou, no final da tarde.

Considerada a banda que definiu o que seria o som do chamado southern rock, a trupe dos irmãos Allman foi criada em 1969 na cidade de Macon, na Flórida, liderada pelos irmãos Gregg (teclado, violão e vocais) e Duane (guitarra) Allman. Chamando a atenção por conta da sonoridade diferente e da energia nos palcos, gravou dois bons álbuns em 1969 e 1970, para ganhar de vez o público com o ao vivo de 1971. Começando a ficar conhecida nacionalmente nos Estados Unidos, a banda quase acaba com a morte de Duane em um acidente de moto perto de casa no mesmo ano de 1971 – ele que foi considerado um dos mais inventivos guitarrista daquela geração americana, despertando a admiração e a amizade de Eric Clapton, entre outros.

allman brothers

A banda prosseguiu e gravou em 1973 um dos seus melhores álbuns, "Brothers and Sisters", e atingiu o auge dois anos depois nas concorridas apresentações ao vivo, com seus solos intermináveis e longas jam sessions, mas problemas internos, inclusive de saúde, forçaram a banda a dar uma parada entre 1976 e 1978. Na volta, sem o mesmo vigor, seguiu capengando até o final das atividades em 1982. Embora razoavelmente bem sucedida, a carreira solo de Gregg Allman não foi suficiente para aplacar a sede dos fãs, que praticamente exigiram a volta da banda em 1989.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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