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Aos 70 anos, Jimmy Page ainda faz história

Combate Rock

10/01/2014 17h05

Marcelo Moreira

O guitarrista Jimmy Page chegou aos 70 anos de idade neste mês de janeiro da maneira sonhada por todos os músicos do mundo: milionário, reconhecido como gênio e, como atividade principal atualmente, dedica-se a cuidar do maior legado, o Led Zeppelin. Os detratores obtusos que adoram criticar dinossauros do rock falam que ele nada mais fez de produtivo após 1980, quando a banda acabou. É uma grande bobagem mentirosa. Mesmo se fosse verdade, ainda assim estaria bom demais.

Page divide a honra de integrar a grande trindade máxima do rock, ao lado de Eric Clapton e Jeff Beck, que curiosamente passaram pelos Yardbirds, assim como o líder do Led Zeppelin. E também faz parte da santa trindade do rock pesado, ao lado de Ritchie Blackmore (Deep Purple) e Tony Iommi (Black Sabbath). Assim como o cantor do Led, Robert Plant, Page tornou-se um ícone do rock setentista, até mais do que Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones, que não engataram uma fase muito boa na primeira metade dos anos 70.

Page no auge do Led Zeppelin, na primeira metade dos anos 70 (FOTO: REPRODUÇÃO)

Page no auge do Led Zeppelin, na primeira metade dos anos 70 (FOTO: REPRODUÇÃO)

Se existe alguma dúvida a respeito significado de Jimmy Page, já setentão, para o rock, é só dar uma uma espiada no ótimo documentário "It Might Get Loud", sobre o processo criativo e a maneira de tocar do mestre e de dois pupilos, The Edge (U2) e Jack White (The White Stripes). A veneração com que os dois observam as explicações e dicas do músico mais velho – e muito mais importante – resume de maneira inequívoca a jornada vitoriosa do guitarrista do Led Zeppelin.

Virou moda dizer que o guitarrista se tornou obsoleto, cuja única atividade é ficar eternamente tentando um retorno do Led Zeppelin. Ainda que eventualmente ele faça algum movimento neste sentido, reduzi-lo a um roqueiro decadente não passa de uma tentativa bisonha de ignorar seus méritos, que são imensos. Page ainda incomoda porque ele não precisa ficar dando explicações repetitivas sobre a importância de sua carreira e também porque não se importa com as críticas de quem acha que sua carreira, na verdade, só durou cinco anos (1970-1975), o auge do Led. Da mesma forma, não dá  a mínima para os que ainda insistem em chamá-lo de mito. Contenta-se apenas em fazer com que sua maravilhosa obra fale por ele.

Músico precoce, apareceu em um programa de TV inglês aos 13 anos de idade tocando ao violão algumas músicas ao lado de outros meninos prodígios. Autodidata e com facilidade para aprender a ler partituras, foi picado pelo rock e 1959 e logo começou a tocar em uma série de bandas nos arredores de Londres. Entretanto, com saúde frágil, teve de abandonar a estrada aos 17 anos e se tornou imediatamente um requisitado músico de estúdio. Sua fama aumentou nos dois anos seguintes, não só porque era muito bom, mas por ter uma habilidade rara: podia tocar qualquer coisa e qualquer ritmo, já que sabia ler partitura. Foi assim que tocou em gravações do Who, dos Kinks, de Marianne Faithfull, PP Arnold, Lulu e mais uma centena de artistas ingleses e norte-americanos entre 1961 e 1966.

Sua vivência em estúdio o levou a ficar amigo de Eric Clapton em 1964. Inseparáveis, por um tempo ensaiavam quase todo dia na casa de Page. Essa amizade impediu que o futuro guitarrista do Led substituísse Clapton nos Yardbirds no começo de 1965. Page achava que não seria leao ao amigo se pegasse a vaga, embora Clapton é que tenha se demitido. Na verdade, Page ainda tinha dúvidas se mergulhava no rock, já que ganhava muito bem como músico de estúdio. Recusando o convite, indicou um outro grande amigo para a vaga de Clapton, o guitarrista habilidoso dos Tridents, um tal de Jeff Beck.

Page em 2012, no lançamento do DVD 'Celebration Day' (FOTO: AP)

Page em 2012, no lançamento do DVD 'Celebration Day' (FOTO: AP)

Um ano depois, mudou de ideia, já saturado e desgostoso de ficar trancado em estúdio tocando para gente fraca e sem talento. Quando os Yardbirds ficaram sem baixista, com a saída de Paul Samwell-Smith, veio outro convite a Page, que dessa vez não recusou, mesmo nunca tendo tocado baixo para valer na vida. Seu amigo Beck ficou exultante no início, mas preocupado depois. Com um mês de banda, o guitarrista base Chris Dreja percebeu que Page era zilhões de vezes melhor e propôs a troca de instrumentos.

Os amigos Beck e Page mantiveram a cordialidade, mas iniciou-se uma rivalidade ferrenha, ainda que saudável no princípio. A dupla genial de guitarristas durou apenas quatro meses, pois Beck, irascível e egocêntrico, saiu para formar o próprio grupo. Os Yardbirds como quarteto durou apenas um ano e meio mais, sempre com Page segurando a onda e tentando evitar o despedaçamento do grupo, já então sem inspiração e considerado decadente em 1968.

E foi durante o mês de março que a banda simplesmente acabou, ao final da turnê norte-americana. Keith Relf (vocal), Chris Dreja (baixo) e Jim McCarty (bateria) debandaram e sumira, deixando Page e o empresário Peter Grant com uma série de datas ainda para cumprir na Europa. Os dois então tiveram que se virar para encontrar substitutos muito rápido. Um amigo músico de estúdio, John Baldwin, que já atendia por John Paul Jones, aceitou meio ressabiado o convite para ser baixista. Um mês depois, Page e Jones foram conferir as indicações de amigos em Birmingham e encontraram os jovens Robert Plant e John Bonham. O Led Zeppelin nasceria dois meses depois para mudar a história do rock e da música do Ocidente.

Na próxima semana o programa de web rádio Combate Rock vai homenagear o guitarrista tocando algumas músicas importantes de sua carreira e contando alguns fatos curiosos e pouco conhecidos sobre sua vida.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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