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Blues nacional mantem o pique e segue com ótimos lançamentos

Combate Rock

08/01/2014 12h10

Marcelo Moreira

Uma grande jam session, com 12 músicos revezando-se no palco do restaurante Si Señor, unidade de São Bernardo do Campo (ABC, Grande São Paulo). Encerramento para um projeto pioneiro que deu muito certo, o Blues nas Quintas, que reúne nomes importantes do gênero às quintas-feiras. O que deveria ser uma experiência se tornou atração musical importante da região metropolitana da capital paulista, tendo começado em setembro de 2012 com a dupla Celso Salim (voz, guitarra e dobro) e Rodrigo Mantovani como residentes, mas recebendo convidados como Roger Gutierre, Little Will, Sílvio Alemão (Irmandade do Blues), Vasco Faé (Irmandade do Blues), Ivan Marcio e muitos outros.

O projeto Blues nas Quintas é a redenção de um gênero musical que patinou um pouco nos últimos anos, mas que teve em 2013 um boom de festivais, turnês de artistas internacionais e novas casas abrindo espaço para os artistas brasileiros. Isso para não falar da quantidade enorme de lançamentos de CDs e DVDs – Bgig Chico ("My New Blues"), Amleto Barboni ("A Night at Maxwell Street"), Nuno Mindelis ("Angels & Clowns"), Brazilian Blues Bash, Blues Etílicos ("Puro Malte"), Flávio Guimarães e Álamo Leal, Big Gilson ("Aqui Pra Você") e muitos outros, quase todos um oferecimento do batalhador Chico Blues, da Chico Blues Records.

O ano foi tão bom que chamou a atenção de uma nova gravadora, a Substancial Music, que está entrando com força no mercado ao lançar o novo álbum de Nuno Mindelis no Brasil e relançar pelo menos outros três títulos antigos do guitarrista, assim como da banda Blues Etílicos e o catálogo do guitarrista André Christóvam.

A última note de blues de 2013 no Si Señor, de São Bernardo, reuniu vários bluesmen de São Paulo em uma grande jam session (FOTO: MARCELO MOREIRA)

A última note de blues de 2013 no Si Señor, de São Bernardo, reuniu vários bluesmen de São Paulo em uma grande jam session (FOTO: MARCELO MOREIRA)

As novidades deste início de 2014 são os novos álbuns do gaitista Sergio Duarte e da dupla Ari Borger e Igor Prado. Duarte deixou de lado a banda Entidade Joe desta vez para gravar "Acoustic Blues Harp" com a dupla Celso Salim (guitarra e dobro) e Rodrigo Mantovani (baixo acústico), tendo como companhia ainda o excelente guitarrista Leo Duarte, o jovem filho do gaitista. Sergio já havia feito uma prévia do álbum em meados de julho, em apresentação pouco divulgada no Sesc Bom Retiro, no projeto Blues do Meio-Dia.

Apostando na recriação de standards do gênero dos anos 40 e 50, escolheu as pessoas certas para gravar clássicos coo "Little Red Rooster", "Worried Life Blues" e "Tell Me Baby", já Salim e Mantovani fazem um repertório semelhante, de forma acústica. A produção manteve o clima rústico, com a captação crua da sonoridade blueseira vintage, em performances ao vivo no estúdio bem azeitadas. Um trabalho de excelente bom gosto, lançado pela Chico Blues Records.

Celso Salim (esq.), Sergio Duarte (centro) e Rodrigo Mantovani (foto: DIVULGAÇÃO)

Ari Borger e Igor Prado, colaboradores de longa data, retomam a parceria em mais um projeto que privilegia o boogie woogie, uma das especialidades do pianista Borger. O guitarrista e vocalista Igor Prado é um dos nomes mais conhecidos da cena, seja com sua antiga banda solo ou com a Prado Blues Band, que fez vários trabalhos com Flávio Guimarães. Prado é um dos mais ativos militantes do blues e é o responsável, entre outras coisas, pela vinda de três gaitistas californianos em 2013 para uma longa turnê pelo interior de São Paulo – Mitch Kashmar, Rod Piazza e Lynwood Slim.

O novo trabalho da dupla, "Lowdown Boogie", mais uma obra da Chico Blues Records, tem a direção artística de Prado, que divide os créditos de produção com Borger e Chico Blues. Com o astral lá em cima e arranjos surpreendentes para músicas já conhecidas, a dupla mostrou um trabalho sofisticado e coeso, sem que haja a predominância do poderoso som de Borger ou da refinada técnica de Prado.

"Fat Means & Greens", de Edgar Hayes, "Rockin' at the Philarmonic", de Chuck Berry, e "Boogie Woogie Barbecue", de John Hardee, ganham novas releituras, eletrizantes e interessantes, com uma pegada típica dos anos 50, mas com arranjos versáteis e modernos. A dupla ainda teve o privilégio de ter como convidados o fantástico guitarrista norte-americano Junior Watson e o saxofonista também americano Sax Gordon, ambos amigos de longa data de Igor Prado. Completam o time o quase onipresente Rodrigo Mantivani, o baterista Yuri Prado (irmão de Igor) e o saxofonista Denilson Martins. Escute com prazer duas composições de Ari Borger e que mostram a essência do álbum, "Blues For Rafa" e "88'Swing".

Festival passou por Fortaleza no começo de outubro FOTO: Divulgação

Os catarinenses dos Headcutters (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Também da Chico Blues Records é o blues acústico da surpreendente banda catarinense The Headcutters. O quarteto de Itajaí acaba de lançar "Shake that Thing", recheado de canções fincadas no blues tradicional, com um ambiente jazzístico predominando em algumas delas, pontuados pela gaita de Joe Marhofer e pelo delicado timbre de guitarra de Ricardo Maca, que ocasionalmente também toca piano.

E o grupo não economizou na ousadia e já partiu para um trabalho autoral de responsabilidade, sendo 9 das 13 faixas compostas pelos quatro integrantes. Os destaque são as agradáveis "She Don't Want Me", "Valley Flood" e "I Don't Know" e versões carregadas e reverentes de "Nine Below Zero", de Rice Miller, e "Hoodoo Man", de John Lee Curtis Williamson. Entre as participações especiais estão as de Igor Prado em três faixas, a do gaitista e cantor norte-americano Omar Coleman em "Hoodoo Man" e "Man Like Me" (esta de autoria de Coleman) e do também norte-americano Richard "Rip Lee Pryor", guitarrista gantor e gaitista, na faixa "Nine Below Zero".

Para os próximos meses estão previstos o muito aguardado primeiro CD do Harmonica Duo (Little Will e Márcio Scialis), o novo álbum do gaitista e cantor Val Tomato e o segundo da dupla Celso Salim e Rodrigo Mantovani.




Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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