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Rock supera o caos do Metal Open Air e mostra grande vitalidade em 2013

Combate Rock

31/12/2013 16h18

Marcelo Moreira

Contrariando as mais pessimistas previsões, o mercado musical roqueiro brasileiro superou o fracassado Metal Open Air, em São Luís (MA), em abril de 2012, e mostrou uma recuperação admirável em 2013. Claro que os problemas estruturais de um país que cresce de forma desordenada e que descuida da infraestrutura não vai oferecer condições ideais para artistas e público de uma hora para outra, mas temia-se que os problemas no festival maranhense afetasse seriamente o setor, algo parecido com o caos que parte da população e de especialistas teme que ocorra na Copa do Mundo em razão dos parcos investimentos na mesma infraestrutura.

A confiança na maioria dos produtores de shows da América do Sul voltou e 2013 foi um ano repleto de atrações internacionais – em São Paulo houve período em que havia sete bandas estrangeiras tocando na cidade na mesma semana – e grandes festivais ainda acontecendo, por mais que haja uma crise internacional na área de entretenimento que ainda perdura e que teve algum reflexo no Brasil.

O Rock in Rio, mais uma vez, foi um sucesso tremendo, ainda que atrações inacreditáveis e destoantes tenham se apresentado. Sorte de quem gosta de boa música e de rock que houve gente de qualidade para contrabalançar e sobrepujar as atrações lamentáveis. Metallica, Iron Maiden, Living Colour, Bruce Springsteen, Helloween, Sepultura, Angra, Viper, Dr. Sin, Andre Matos, Krisiun, Destruction, Slayer e outras atrações roqueiras de peso honraram o gênero e mostraram que o rock tem bastante público e e potencial de consumo extraordinário. Basta ver a fantástica turnê do Black Sabbath, de longe o grande o evento do ano no Brasil.

Black Sabbath no palco do Campo de Marte, em São Paulo (FOTO: LUCIANO PIANTONNI)

Black Sabbath no palco do Campo de Marte, em São Paulo (FOTO: LUCIANO PIANTONNI)

Entre as bandas brasileiras de rock pesado foi um ano  de conquistas e de muito trabalho, ainda que o público do segmento deixe um pouco a desejar. Se os medalhões conseguem ainda lotar casas de tamanho médio – casos de Angra, Andre Matos, o ressuscitado Viper , Matanza, Almah e Sepultura -, bandas de porte um pouco menor ou iniciantes continuam em busca da fórmula para atrair os espectadores e vender a preço de custo seus CDs. Shadowside, Suprema, Nervosa, Project 46, Hibria, Oitão, Tailgunners, Sioux 66 e muitas outras estão penando para conseguir público apenas razoável para seus shows em algumas grandes cidades brasileiras.

Os músicos tentam evitar o ressentimento, mas as reclamações – e frustrações – são generalizadas em relação à falta de interesse do público, que tem priorizado apresentações internacionais com ingressos superiores a R$ 300 em detrimento de minifestivais com quatro ou cinco bandas nacionais com entrada custando muitas vezes menos de R$ 40. A cena roqueira ainda patina na busca de soluções para atrair público sem que os custos tornem inviáveis a existência de bandas.

A situação é tão curiosa que surgiu em dezembro de 2013 uma campanha no interior de São Paulo – e que se alastrou pela internet – contra as chamadas bandas cover, que só tocam clássicos do rock ou de uma banda em detrimento de músicas próprias.

Uma luz nestas trevas foi a iniciativa bem-sucedida do festival Super Peso Brasil, em São Paulo, que reuniu bandas veteranas nacionais de rock pesado que cantam em português. Salário Mínimo, Centúrias, Taurus, Stress e Metalmorphose levaram um excelente público ao Carioca Club e mostraram que a nostalgia, se bem aproveitada, pode ser uma alternativa interessante para ajudar o segmento a buscar um público jovem , mas atualizado e exigente – e todas as bandas citadas estão com músicas novas no mercado ou em vias de ser lançadas, mostrando que o evento esteve anos-luz de um "baile da saudade".

Centúrias foi uma das bandas que tocou no Super Peso Brasil (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Centúrias foi uma das bandas que tocou no Super Peso Brasil (FOTO: MARCELO MOREIRA)

O blues nacional se deu bem demais, com uma nova leva de artistas lançando trabalhos de qualidade e aumentando o seu público. A Substancial Music, gravadora/selo novata, mas com gente experiente no comando, abraçou alguns dos grandes nomes do gênero, como Blues Etílicos, Nuno Mindelis e André Christóvam, e relançou quase todo o catálogo deles, bem como seus novos álbuns.

O batalhador Chico Blues, com seu pequeno selo, continua apoiando os principais artistas que ainda estão no underground, como Big Chico, Sergio Duarte, Igor Prado, Ari Borger, Headcutters, Flávio Guimarães, Harmônicos Duo, Greg Wilson, Giba Byblos e muitos outros, enquanto que Big Gilson, Celso Salim & Rodrigo Mantovani, Ivan Márcio, Irmandade do Blues e Adriano Grineberg mantém uma frenética atividade de forma independente, lançando CDs e DVDs. A nata dos gaitistas norte-americanos fez shows pelo Brasil, assim como o mestre Buddy Guy e mais uma leva de nomes importantes do gênero. Nunca o blues teve tanta exposição e atividade no país nos últimos 20 anos.

Quando olhamos para o pop rock nacional, então, o quadro é ainda mais desolador. As paradas de emissoras de rádio, medidas pela empresa Crowley e publicadas mensalmente na revista Billboard Brasil, mostrou que entre outubro e novembro nenhuma banda ou artista do gênero emplacou música entre as 30 mais – fato inédito desde que existe a medição. Variando entre quatro e cinco músicas no Top 100 da Billboard, no período citado apenas três músicas de pop rock estavam incluídas, todas abaixo do 50º lugar.

Sepultura lançou novo álbum em 2013 e tocou com lotação esgotada em todos os shows do segundo semestre no Brasil (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Sepultura lançou novo álbum em 2013 e tocou com lotação esgotada em todos os shows do segundo semestre no Brasil (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Os medalhões ainda resistem, têm público cativo, vendem quantidade razoável de CDs, mas bandas novas só conseguem alguma atenção no underground e no cenário independente, tocando e vendendo para cada vez menos gente. O pop rock nacional está deixando de existir, soterrado pelos abomináveis axé, pagode, sertanejo universitário, funk carioca e outros barulhos degradantes.

As perspectivas para 2014 são no mínimo semelhantes ao que ocorreu em 2013, em termos de shows internacionais e de lançamentos de qualidade em CD e em DVD. Infelizmente, nada mostra que possamos ter um panorama diferente no rock pesado e no pop rock. Mas todos, pelo menos, saíram ganhando ao deixar para trás os maus presságios do fracasso do Metal Open Air.

Para nós, do Combate Rock, o ano de 2013 foi importantíssimo, ainda que tenhamos estreado somente nos estertores do ano em nova casa. O portal UOL, o maior da América Latina, nos acolheu de forma entusiástica e assim começamos nova vida para nosso blog/site, no ar desde agosto de 2010, e nosso programa de web rádio, que estreou em agosto de 2011. Que 2014 traga a vocês e a nós muita luz, muito rock e muita sabedoria. Feliz Ano Novo, com um excelente 2014.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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