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Sleep Eazys traz Joe Bonamassa de um jeito diferente e divertido

Combate Rock

18/04/2020 06h37

Marcelo Moreira

O nerd da guitarra já tinha expandido o seu blues rock para o hard rock, para a soul music, para o rockabilly, para o country e para o folk. O que faltava então? Joe Bonamassa não pensou duas vezes: o rock instrumental.

Músico ao estilo Frank Zappa, ou seja, prolífico ao extremo, não consegue ficar parado. Ao lado da carreira solo mantém trabalhos paralelos com a cantora Beth Hart, com a banda de hard rock Black Country Communion e com o projeto Rock Party Funk Candy.

Para não caracterizar seu novo projeto como um álbum solo, inventou um combo chamado The Sleep Eazys, algo como Eric Clapton fez com o Derek and the Dominos em 1970. Mera firula, a banda é mesmo um apoio para que Bonamassa brilhe com sua guitarra em uma área diferente do habitual.

"Easy To Buy, Hard To Sell" é o primeiro CD de uma série que o guitarrista promete ao longo de alguns anos. Os timbres e as levadas, em sua maioria, são uma homenagem  Gatton, guitarrista criador do chamado "redneck jazz", uma espécie de música dançante criada por "branquelos", digamos assim. No repertório há também números imortalizados por Frank Sinatra, Tony Joe White, King Curtis e outros.

O primeiro single, "Bond (Serviço Secreto de Sua Majestade)", é uma menção ao filme de ação clássico de 1969 da franquia criada pelo escritor Ian Fleming e que virou sucesso absoluto no cinema com o nome de 007. 

"Sempre quis fazer um álbum assim, mas não sabia se estava pronto até agora. Pareceu a hora certa para homenagear um mentor, amigo e um dos grandes guitarristas da história: Danny Gatton, que nos deixou em 1994. Meu tempo tocando com Danny quando criança moldou minha forma de tocar", afirmou Bonamassa.

Os Sleep Eazys na verdade são vários colaboradores de sempre, como o mestre dos teclados Reese Wynans, que tocou na Double Trouble de Stevie Ray Vaughan, e o baterista Anton Fig, que foi músico de estúdio do Kiss e da banda do programa de David Letterman.

O time é completado por Lee Thornburg no trompete, Paulie Cerra no saxofone e Jade MacRae, Juanita Tippins nos backing vocals, Jimmy Hall na gaita e John Jorgenson em vários instrumentos.

No material de divulgação do disco, Bonamassa mostra humildade e dúvidas a respeito de homenagear um de seus heróis de infância. "Para ser ainda mais honesto, não tenho certeza se estava preparado profissional e musicalmente até agora para o meu tributo a Gatton, que morreu em 1994. Finalmente, parecia oportuno prestar homenagem a um mentor, um amigo e um dos maiores guitarristas de todos os tempos."

Esse álbum precisa ser visto e ouvido como uma experiência e um tributo, uma espécie de fuga do cotidiano estressante e congestionado de trabalho.

Pelo clima de gravação e pelo resultado, percebe-se que o guitarrista usou o tempo com os Sleep Eazys para desanuviar após a maratona que enfrentou ao lançar e divulgar os álbuns "Blues of Desperation" e "Redemption", solos, e "IV", com os amigos do Black Country Communion (que parece ter entrado novamente em longa hibernação, já que Glenn Hughes, baixista e vocalista, foi anunciado como novo integrante da banda de hard rock Dead Daisies).

Os fraseados e solos rápidos e os riffs contundentes e poderosos de seu blues rock aqui estão um pouco amenizados, onde Bonamassa resolve privilegiar a suavidade e a delicadeza, além de timbres mais limpos, mas não menos incandescentes.

Quase uma festa, o músico aposta em temas mais diretos e sem firulas, como "Bond" e "os arraHawaiian Eye", mas os arranjos mais elaborados de "Ace of Spades" e "It Was A Very Good Year", mostram bom gosto e inteligência, coo em uma sinfonia da alegria e de suspense.

Quando falamos que esse trabalho é uma espécie de desafogo, um Bonamassa fora da caixa, não quer dizer que ele tenha feito algo largado ou sem compromisso – isso não existe para o nerd da guitarra.

Assim como quase todos os artistas sempre "escapam" da realidade gravando álbuns de covers (versões para músicas de outros artistas), Joe Bonamassa decidiu se divertir de outra forma, ainda que se arriscando a uma seara da qual nunca foi muito assíduo.

A música instrumental costuma ser, no rock, uma estrada pedregosa onde mesmo especialistas, como Steve Vai, Joe Satriani e Eric Johnson às vezes derrapam. Bonamassa "estreou" de forma honrosa no segmento mesmo se divertindo, fazendo com que a a execução e a gravação pareça ter sido bem fácil.

Por ser uma novidade no repertório do músico workaholic, o novo CD está longe de suas melhores obras, mas é bastante agradável e mostra a extrema competência e versatilidade do guitarrista, hje o principal nome do blues no mundo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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