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Ritchie Blackmore, 75 anos: o mago da guitarra que enfeitiçou o rock pesado

Combate Rock

14/04/2020 14h36

Marcelo Moreira

Ritchie Blackmore no auge do Rainbow, na segunda metade dos anos 70 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O irascível Richard achava que era um gênio, mas tinha de se submeter ao maior conhecimento do seu amigo mais velho, John, ou Johnny, ou Jon (conforme a turma de amigos), que era músico erudito e formado em uma universidade.

O problema é que o rock progressivo da banda não era tão virtuoso quanto o dos concorrentes e nem tão visceral quando o de outras bandas. Pink Floyd, Yes, King Crimson e Moody Blues tomavam conta da área, enquanto o rock pesado era a nova sensação, como Jimi Hendrix Experience, The Who, Led Zeppelin e o finado Cream.

A decisão estava tomada, e o guitarrista Richard, que então já era Ritchie Blackmore, deu um golpe de estado e transformou o Deep Purple em uma banda de hard rock/rock pesado, para desgosto do erudito Jonathan, que já era o tecladista Jon Lord.

E foi assim que o genioso e irascível guitarrista Ritchie Blackmore, então um amigo distante de Eric Clapton e Jeff Beck, transformou uma banda de e rock progressivo/psicodélico e uma das forças mais importante do rock.

Blakcmore era muito bom, um dos destaques da Inglaterra blueseira dos anos 60, mas percebia que estava ficando para trás. Mick Taylor, quatro anos mais novo, era um ás da John Mayall's Bluesbreakers que tinha assumido um lugar nos Rolling Stones.

Já Peter Green, outro ex-John Mayall, se tornava uma lenda do blues, assim como Kim Simmonds, do Savoy Brown, Dave Mason, do Traffic, e os iniciantes Martin Barre (Jethro Tull), Tony Iommi (Black Sabbath), David Gilmour (Pink Floyd) e muitos outros.

Aos 24 anos, Ritchie Blackmore tinha decidido que era hora de fazer sucesso depois de três álbuns bons, mas de pouca repercussão. E assim, em 1969, ele transformou a sua vida e a sua carreira em um dos paradigmas do rock'n'roll. Aos 75 anos de idade, completados hoje, Blackmore vive ensaiando um retorno defintivo ao rock.

Depois de mais de 20 nos dedicados à folk music e à música medieval, com o seu Blackmore's Night (ao lado da mulher 30 anos mais nova, Candice Night), ele decidiu, desde 2015, reformar o Rainbow, ainda que seja para poucos shows desde então. Em tempos de confinamento social por causa do covid 19, restou fazer lives nas redes sociais ao lado da mulher.

Ironizado e até menosprezado por conta do gênio difícil e pela opção pela música medieval a partir de 1997, o músico que foi um dos responsáveis pelo surgimento do heavy metal – ao lado de Jimmy Page (Led Zeppelin) e Tony Iommi (Black Sabbath) continua cultivando a fama de outsider.

Ao mesmo tempo em que emite sinais de que em estaria disposto a conversar sobre um eventual de fazer um show comemorativo de 50 anos (53 atualmente) de criação do Deep Purple, dispara mísseis contra antigos companheiros sempre desdenhando de suas habilidades musicais. Ele deve esquecer essa possibilidade, já que quem conhece os bastidores da banda crava que nunca acontecerá.

Segunda formação do Deep Purple (mark II), considerada a clássica: em pé, da esq. para a dir, Ritchie Blackmore (guitarra), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria; sentados: Ian Gillan (esq.) e Jon Lord (teclados) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

De forma veemente e explícita, o vocalista Ian Gillan, o cantor que mais tempo esteve no Deep Purple e atual chefe da banda, não perde a chance de descartar qualquer celebração contendo Blackmore no programa – e isso se estende aos outros vocalistas que o sucederam, David Coverdale, Glenn Hughes e Joe Lynn Turner.

Blackmore fez uma escolha, e está seguindo com ela seja qual for o julgamento que o mercado faz dele. Mora em um rancho na costa leste dos Estados Unidos com a mulher, a sogra-empresária (mais nova que ele) e a filha garotinha. Evita contatos com pessoas da área musical e não faz muita questão de conversar com o filho guitarrista, o alemão Jurgen R. Blackmore, fruto de um relacionamento que teve em sua passagem por terras alemãs na primeira metade dos anos 60, uma moça chamada Margrit.

Culto, erudito e sarcástico, não costuma poupar ninguém quando dá as suas raras entrevistas. Chama o outrora amigo Eric Clapton de purista e repetitivo; diz que Stevie Ray Vaughan nunca fez nada extraordinário; Yngwie Malmsteen? Um pretenso Niccolo Paganini (compositor e violinista do século XIX); Eddie Van Halen? Atleta musical. Jimmy Page e Tony Iommi? Bons músicos (!!!!!!); Jimi Hendrix? Alguém que teve boas ideias…

Seja como for, Ritchie Blackmore chega aos 75 anos de idade como um dos heróis do nosso tempo. Alguém que acrescentou vários significados ao rock e à guitarra.

Estilista, guitarrista genial e um dos nomes importantes da fusão musical que resultou em álbuns fantásticos do rock, Blackmore conseguiu estabelecer parâmetros para que o viriam a se tornar o hard rock e o heavy metal a partir dos anos 70.

Anos atrás, o jornalista Paulo Severo da Costa elaborou uma boa definição sobre a postura do guitarrista inglês em artigo no jornal O Estado de S. Paulo: "Seu xamanismo barroco a favor da fundição elétrica do rock é decisivo; se Jimi Hendrix fundiu a microfonia e o lirismo, se Jim Morrison (The Doors) conduziu William Blake pela sala dos passos perdidos rumo ao caos, o Blackmore elevou a [guitarra] Fender Stratocaster ao patamar de primeiro violino orquestral. Traduziu a linguagem dos riffs para um mundo renascentista o qual o filho mestiço do blues desconhecia por completo até então".

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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